No Brasil, onde cerca de 80% dos criadores de conteúdo têm menos de 80 mil seguidores, o Marketing de Influência vive uma transformação silenciosa, mas contundente. A ascensão dos microinfluenciadores tem ganhado espaço nas estratégias de grandes marcas ao entregar autenticidade, engajamento real e poder de conversão superior ao dos perfis com milhões de seguidores.
Foi esse o foco da discussão durante a roundtable “Micro, mas poderoso: o novo motor da influência”, realizada no CMO Summit 2025. O debate, mediado por Mário Eduardo, diretor de tecnologia e inovação da Spark, contou com a participação de Taís Carra, coordenadora de Marketing de Influência da DUX Human Health e EAT Clean, Amanda Oliveira Lopes supervisora de Marketing de Influência da mesma companhia, e da influenciadora digital Giovanna Bessa Chioccola (Gio).
Reforçando o papel das agências e plataformas na educação do mercado — tanto de marcas quanto de criadores – Mário reforçou a necessidade de remover gargalos, facilitar a operação e garantir que cada campanha entregue o que promete. Isso exige tecnologia, sim, mas também empatia e entendimento do outro lado da ponte.

A estratégia da DUX: influência que começa pequena e cresce com consistência
Ao contrário da lógica tradicional, que prioriza grandes nomes para garantir visibilidade, a DUX estruturou sua estratégia de influência a partir da base. Desde o início de sua atuação nesse campo, a marca investe em nano e microinfluenciadores como porta-vozes de seus produtos. Atualmente, a empresa trabalha com cerca de 1.700 criadores, e planeja fechar 2025 com 2.500.
O papel desses criadores vai além de cliques e curtidas: trata-se de estabelecer uma rede de parceiros de longo prazo, com curadoria rigorosa para garantir fit com a marca, desde estilo de vida até perfil demográfico e tom de voz. “Nosso foco sempre foi engajamento e conexão com o público, algo que os microinfluenciadores conseguem entregar com mais profundidade”, explicou Taís.
Com mais de cinco anos de experiência nesse modelo, a DUX criou uma plataforma própria, que funciona como CRM e canal de comunicação com os influenciadores. A empresa também conta com o SAI (Serviço de Atendimento ao Influenciador), criado para responder dúvidas burocráticas, como abertura de CNPJ e emissão de nota fiscal — um obstáculo comum para perfis em início de carreira.
“Nosso maior gargalo hoje são os meios de pagamento. Muitos criadores ainda não estão formalizados, e isso complica o processo. Investimos em tecnologia para automatizar esses fluxos e liberar nosso time para pensar mais estrategicamente”, explicou Amanda.

Influenciadores são pessoas, não formatos de mídia
Vinda do universo empresarial — onde já havia tocado sua própria marca — Gio decidiu migrar para o conteúdo digital e, em menos de um ano, transformou essa atividade em sua principal fonte de renda.
Ao longo do percurso, a influencer identificou um desafio relevante: manter a autenticidade mesmo diante de briefings engessados. “Tem campanhas que chegam tão quadradas que eu sei que não vão funcionar para o meu público. Meu conteúdo precisa parecer comigo — se eu não apareço, minhas seguidoras pulam o post”, afirmou.
Para a creator, o diálogo entre marca e influenciador deve ser mais transparente e estratégico desde o primeiro contato. “É raro receber um briefing com clareza de objetivos. Se o objetivo é conversão, eu preciso saber, porque isso muda tudo — da escolha do canal até o tipo de conteúdo. Stories, por exemplo, são onde minha comunidade mais engaja e onde eu consigo vender. Mas se a marca pede só um Reels, talvez não converta”, explicou.

Cocriação, comunidade e construção de longo prazo
A cocriação entre marcas e creators aparece como fator decisivo para o sucesso das campanhas. Na DUX, esse modelo é prioridade. “Buscamos influenciadores que já tenham linguagem, valores e audiência compatíveis com a marca. Depois, damos liberdade para eles criarem do jeito que sabem fazer melhor”, explicou Taís, ressaltando que exigir um conteúdo formal de um criador espontâneo quebra a narrativa, reduz o alcance e prejudica a comunidade.
A lógica por trás dessa escolha vai além da conversão imediata. É um trabalho de construção de marca com o influenciador, que leva tempo, mas tem efeitos duradouros. Amanda exemplificou com o caso de uma influenciadora parceira que, mesmo sem postar por um mês, seguiu gerando vendas com seu cupom. “A audiência já a identificava com a DUX, o que mostra o poder da recorrência e da verdade no discurso”, contou.
A marca também investe em treinamentos com os criadores antes de lançamentos de produtos. “É fundamental que eles conheçam de verdade o que estão promovendo. Isso fortalece o discurso e dá segurança para a audiência. Já tivemos criadores que precisaram pesquisar por conta própria porque a marca não forneceu nem material básico. Isso não pode acontecer”, finalizou Gio, advertindo que a falta de preparo das empresas também mina o potencial de campanhas.
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