Dezembro chegou e eu comecei a revisar tudo o que movimentou o mercado ao longo de 2025 – da corrida por IA à fadiga digital dos consumidores. Ficou claro que estamos entrando em um ponto de virada. O Marketing se tornou mais técnico e, paradoxalmente, mais humano.
É um momento em que os algoritmos decidem tanto quanto as pessoas, em que a presença importa mais que o clique e em que a criatividade volta a ser diferencial porque o digital, sozinho, já não encanta. Nesse processo, percebi também que o setor vive uma espécie de reencontro: depois de anos de excessos, ele começa a recuperar o senso de propósito e precisão, entendendo que profundidade vale mais que volume.
Das diversas reportagens que produzi, pesquisas que li, observei o mesmo movimento e quis compartilhar o que considero os principais que moldarão o ano de 2026.

Agentes de IA assumem o volante das decisões de compra
Em 2026, os sistemas inteligentes deixam de ser assistentes e se tornam intermediários reais na tomada de decisão. Não estamos mais falando apenas de recomendações, porque eles comparam, filtram, priorizam e até concluem compras. Isso significa que as marcas começarão a disputar espaço em processos invisíveis. Ou você é compreendido por esses agentes ou simplesmente não aparece para os consumidores.
A lógica do SEO tradicional se desfaz diante da era das respostas
Passei o ano observando o declínio silencioso de métricas clássicas de busca. Palavras-chave, backlinks e otimização não desaparecem, mas se tornam secundários. Sistemas de resposta direta e não mais páginas passam a definir visibilidade. Agora é preciso fornecer dados completos, precisos e verificáveis para que a IA entenda, traduza e recomende sua marca. Quem não organizar sua informação ficará fora do mapa.

O zero-click deixa de ser exceção e vira regra
A dinâmica que antes parecia marginal agora se consolida com usuários recebendo respostas sem precisar clicar em nada. Isso impacta profundamente o funil, a mensuração e até o papel dos sites. A disputa não é mais pelo clique, e sim pelo espaço na resposta. É uma mudança cultural e operacional que redefine conteúdo, performance e presença digital. Não vencerá quem tem mais tráfego, e sim quem alimenta melhor os sistemas.
Consumidores começam sua própria “faxina digital”
Depois de anos de hiperconexão, vejo um movimento de exaustão. As pessoas querem menos telas e mais experiências tangíveis. Querem comprar com calma, viver momentos, reencontrar o físico. É hora de rever a obsessão por volume digital. Eventos ganham força, ativações ganham valor e o contato humano volta a ser um ativo estratégico. Em 2026, a vida real volta para o centro do palco.

Agências deixam de ser produtoras de campanha e viram operações híbridas
Acompanhei de perto a transformação das agências ao longo do ano e é evidente como o modelo tradicional não se sustenta mais. Criatividade sozinha não basta e a tecnologia sozinha não convence. A força está na integração: dados, automação, conteúdo, inteligência cultural e ética operando juntos. As estruturas que prosperarem deverão ser as que realmente resolvem problemas de negócio e não somente as que apenas entregam peças.
A reputação passa a depender de dados confiáveis, não de narrativas
Se antes a marca dizia quem era, agora ela precisa provar. A confiabilidade dos dados se torna peça central para aparecer nos sistemas de IA, ganhar autoridade e sustentar seu posicionamento. Transparência, rastreabilidade e precisão passam a contar mais que slogans. Em 2026, prevejo que a reputação não será construída apenas na percepção humana, mas também na evidência algorítmica.

O funil de compra se encurta drasticamente com o AI-commerce
Esse foi um dos movimentos mais impressionantes que observei: jornadas que antes tinham etapas claras agora acontecem em segundos. O consumidor expressa uma intenção, a IA interpreta, compara e compra. Fim. Muitas vezes sem intervenção humana. Isso exige das marcas uma disciplina radical na organização de informações, estoques e logística. A visibilidade algorítmica e eficiência operacional serão indissociáveis.
Mudam também as métricas do que consideramos “bom desempenho”
O Marketing precisa aceitar que cliques e impressões não são mais a medida de sucesso. As conversas agora acontecem dentro de sistemas e não mais exclusivamente nas telas. O que importa é ser compreendido, citado e utilizado pelos modelos. A régua passa a ser consistência da informação, autoridade técnica e presença real em contextos de resposta. É uma mudança que exige maturidade e menos vaidade analítica.

A autenticidade volta como força central na construção de marca
Mesmo em meio à aceleração tecnológica, o que observei é que o humano não perdeu valor, ele se tornou mais raro. Histórias verdadeiras, experiências significativas e propósitos claros ganham importância. Em um mundo mediado por IAs, aquilo que não pode ser replicado por máquinas se torna diferencial competitivo. Emoção e confiança serão tão estratégicas quanto dados e automação.
A força das comunidades e dos nichos
O avanço da IA também fortalece a influência construída em comunidades e nichos, onde profundidade importa mais que alcance. Criadores de conteúdo especializados ganham protagonismo ao operar dentro de códigos culturais próprios, ampliando credibilidade e engajamento. Participar desses grupos de forma contínua e não pontual será decisivo para gerar confiança, testar ideias e transformar consumidores em aliados. É hora de mergulhar em nichos dos nichos e olhar para o consumidor com uma lupa para, verdadeiramente, falar de centralidade no cliente.
Olhando para tudo isso, fica a sensação de que 2026 não é um ano para repetir fórmulas, mas sim para escolher caminhos. Não dá mais para tratar o digital como automático, nem a IA como modismo, nem o consumidor como alguém eternamente disponível.
A pergunta que fica é simples e incômoda: o que sua marca está fazendo hoje que ainda faz sentido? E o que você já deveria ter deixado para trás?
Em um mundo de transformações cada vez mais rápidas eu observo que 2025 foi o ano da experimentação e 2026 será o ano da responsabilidade.
Responsabilidade com dados, com criatividade, com presença e, principalmente, com as pessoas. Porque, no fim, o mercado pode mudar, os algoritmos podem evoluir, as telas podem multiplicar, mas relevância continua sendo uma escolha diária. E é exatamente essa escolha que cada marca precisará fazer daqui para frente.
Leia também: Se ruas viram marca, por que tantas marcas ainda não viram rua?
COMPARTILHAR ESSE POST







