Durante anos, a Victoria’s Secret foi o símbolo máximo de uma era. Seus desfiles transformaram a passarela em espetáculo e suas “anjos” em ícones de um ideal de beleza que parecia inabalável: magro, impecável, inalcançável. Era um produto do seu tempo e um reflexo do que o próprio Marketing projetava como desejo coletivo. Mas o tempo mudou, e com ele, as expectativas de uma nova geração de consumidores.
O retorno do Victoria’s Secret Fashion Show em 2025, após sete anos, marca mais do que a volta de um evento. Ela representa uma mudança de mentalidade. A marca que outrora vendia um sonho distante agora convida o público a enxergar a beleza sob um novo prisma: plural, inclusivo, real. A perfeição deixou de ser o argumento central e o propósito passou a ser a nova medida de valor.
Essa transformação não é apenas estética. É estratégica, afinal, foi o excesso de críticas ao padrão da magreza absoluta que a fez suspender os desfiles em 2018. Por muito tempo, a Victoria’s Secret sustentou sua força sobre o imaginário da aspiração. Hoje, ela tenta construir relevância sobre o terreno da identificação.


Quando uma modelo grávida abre o desfile (como Jasmine Tookes fez), uma atleta da WNBA (Angel Reese) divide a passarela com atrizes plus size (Precious Lee e Barbie Ferreira) e um grupo de K-pop (Twice) traz representatividade cultural juntamente com artistas latinos, estamos diante de um novo roteiro: o da autenticidade.
O desafio, obviamente, não é somente sobre a passarela. Não basta comunicar inclusão, é preciso praticá-la em toda a estrutura da marca, como vemos constantemente ser noticiado aqui no Mundo do Marketing. A coerência é o novo luxo. E, para uma geração que cresceu questionando padrões e cobrando transparência, essa consistência é o verdadeiro diferencial competitivo.
Mais do que um rebranding, a mudança da Victoria’s Secret é um espelho do nosso tempo. Ela mostra que o poder simbólico das marcas migrou das empresas para as pessoas. Os consumidores não querem mais ser moldados, eles querem ser ouvidos, representados e respeitados.

O que noto – não apenas pelo desfile, mas por todos os conteúdos que passam por mim, entrevistas e conversas que tenho com executivos – é de que as marcas que insistirem em vender uma perfeição impossível continuarão falando sozinhas. Já aquelas que entenderem que vulnerabilidade, diversidade e verdade também são formas de beleza estarão mais próximas de conquistar algo raro. Estamos falando de relevância emocional.
O desfile de 2025, com toda sua simbologia, é menos sobre lingeries e mais sobre legado. A Victoria’s Secret que um dia ditou padrões agora tenta quebrá-los. E talvez seja justamente isso que a torne, de novo, interessante.
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