Os dias que vivi no Web Summit deixaram uma mensagem clara: estamos entrando em uma fase inédita da relação entre marcas, tecnologia e comportamento humano. Não é só evolução tecnológica, é uma mudança estrutural na forma como consumidores decidem, confiam, compram e se relacionam.
A experiência do cliente, antes centrada em processos e canais, agora se reorganiza em torno de um novo binômio: humanidade + inteligência artificial.
E entender isso não é mais opcional para marcas: é condição de sobrevivência.

1. O modelo baseado no medo saturou.
A experiência agora é construída por clareza e alívio cognitivo. Durante anos, a relação entre marcas e consumidores operou na lógica da urgência, da escassez e da manipulação emocional. O mundo mudou e o consumidor também.
O Web Summit evidenciou um ponto decisivo: o medo perdeu eficiência como gatilho de comportamento.
Por quê? Porque a saturação emocional global — política, econômica, informacional — criou um estado de fadiga crônica. Quando tudo pesa, as pessoas deixam de responder a estímulos negativos.
Qual é o novo valor?
– interações que simplificam
– mensagens que reduzem ruído
– decisões sem fricção
– experiências que devolvem bem-estar
Isso significa: menos complexidade, mais clareza, menos carga cognitiva, mais fluidez.
Marcas que drenam a energia mental do consumidor perdem.
Marcas que reduzem esforço ganham.
2. Personalização antiga morreu.
Entra a personalização contextual habilitada por agentes de IA.
A personalização baseada em gatilhos estáticos deixou de ser suficiente. O que vimos nas discussões é que a era agora é da adaptação contínua. A IA deixa de ser um motor de automação para se tornar motor de contexto.
Isso significa que:
– a mensagem muda conforme o estado emocional do usuário
– a oferta se ajusta ao comportamento daquele minuto
– o conteúdo evolui em tempo real
– modelos entendem intenção, não só cliques
– experiência se torna conversacional, não linear
A nova experiência é sensível, adaptativa e responsiva.
Marcas que aprenderem a orquestrar essa lógica, não como técnica, mas como estratégia, serão as líderes da próxima década.

3. O futuro da experiência é híbrido:
IA escala, humanos trazem sentido.
Uma das conversas mais fortes do evento girou em torno disto: a IA não substitui pessoa, ela substitui processo. E devolve à liderança o que sempre deveria ter sido dela: o significado.
Em vários painéis, isso ficou explícito:
– bots resolvem o trivial
– agentes humanos resolvem o complexo
– IA automatiza
– humanos interpretam, conectam e decidem
A experiência híbrida não é “alternância”. É sinergia.
E essa integração humano + IA libera três dimensões fundamentais:
Velocidade: IA responde, sintetiza, antecipa e escala.
Profundidade: o humano interpreta nuance, empatia e contexto relacional.
Precisão: juntos, entregam experiências impossíveis de replicar isoladamente.
Marcas que resistirem a esse modelo ficarão para trás.
Marcas que entenderem o equilíbrio se tornarão mais úteis, mais humanas e mais relevantes.
4. Propósito só importa se for operacional
A palestra de Vinted reforçou algo que todo líder deveria tatuar na parede:
Propósito sem operação é Marketing vazio.
Propósito com operação é vantagem competitiva.
O consumidor atual percebe rapidamente desconexões entre discurso e entrega:
– se a empresa diz “cuidamos de você”, mas o atendimento é lento: ruído
– se fala em personalização, mas manda e-mail irrelevante: ruído
– se promete simplicidade, mas a jornada é quebrada: ruído
– se evoca sustentabilidade, mas opera com desperdício: ruído
O propósito hoje se comprova no produto, na jornada e no pós-venda.

5. Criatividade não será substituída pela IA, mas será pressionada por ela.
Em um mundo onde IA tende ao padrão, a criatividade humana ganha valor por contraste.
As experiências realmente memoráveis não serão:
– as mais perfeitas
– as mais brilhantes
– as mais técnicas
Serão as imperfeitas, verdadeiras e únicas.
A criatividade que sobreviverá é a que não pode ser automatizada:
– autenticidade
– divergência cognitiva
– vulnerabilidade consciente
– imperfeição humana
– originalidade nascida do contexto
Isso é a criatividade da nova era: menos roteiros, mais verdade.
6. O novo produto é a transformação:
O Web Summit deixou claro que o consumidor está migrando de: comprar por falta → comprar por expansão.
A experiência que fideliza é a que:
– melhora o dia
– reduz esforço
– amplia capacidade
– aumenta clareza
– ajuda a avançar
Em outras palavras: marcas precisam deixar apenas de resolver problemas para ajudarem a transformar as pessoas.
Toda marca passa a competir por aquilo que ela ajuda o consumidor a se tornar.

7. A pergunta que toda marca precisa responder agora
Diante desse novo cenário híbrido — humano + IA — e desse consumidor hiperexposto, exigente e saturado, surge uma pergunta essencial:
“Por que a sua empresa merece existir para além do produto?”
A resposta estará:
– na utilidade real
– no impacto humano
– no alívio cognitivo
– na clareza que você gera
– e na experiência que você entrega
O futuro do Marketing, do consumo e do relacionamento com clientes será decidido por marcas que simplificam, personalizam, humanizam e escalam com inteligência.
Conclusão: O futuro da experiência é híbrido e profundamente humano.
O Web Summit 2025 mostrou que:
– tecnologia será commodity
– IA será infraestrutura
– dados serão padrão
– automação será exigência mínima
Mas o diferencial competitivo será outro: entender gente, reduzir complexidade e criar impacto humano real.
Esse é o presente. Esse é o futuro.
E esse é o novo território de liderança para qualquer marca que queira permanecer relevante nos próximos anos.
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