Pouca gente sabe, mas apesar de atuar há mais de 20 anos no marketing, sou jornalista de formação. Comecei minha carreira nas redações, quando a internet ainda engatinhava e as conexões eram discadas.
Na época, havia uma previsão que parecia inevitável: o rádio iria desaparecer. Curioso, não? Não falavam do jornal impresso ou da TV, mas do rádio. A lógica era simples: uma tecnologia substituiria a outra.
Avançamos duas décadas e o rádio não só sobreviveu como se reinventou. Ganhou novas plataformas, expandiu alcance e inspirou um formato que hoje domina o consumo de conteúdo: o podcast. A internet não matou o rádio — apenas deu a ele novas maneiras de existir.

E é nesse ponto que penso na Inteligência Artificial.
Todos os dias somos bombardeados por previsões: profissões que vão sumir, tarefas resolvidas em segundos, marketing transformado para sempre. Não tenho dúvida de que a IA já está mudando processos e abrindo portas inéditas. Mas há um risco em confundir meio e fim.
Sempre acreditei que marketing é sobre gente. Sobre entender comportamentos, necessidades e desejos não ditos. Sobre gerar conexão e emoção. As ferramentas mudam, mas a essência permanece.
A IA é tecnologia. Tecnologia é meio. Ela pode escalar interações, acelerar entregas e ampliar possibilidades, mas não altera o núcleo do que nos move: a busca por significado, pertencimento e histórias que nos tocam.

A provocação talvez não seja “como a IA vai mudar a relação humana”, mas “como vamos usá-la para fortalecer essas relações — e não para criar a ilusão delas”. Porque no fim, é fácil gerar palavras. Difícil é gerar sentimento.
Assim como o rádio, que segue presente — no carro, na cozinha, no fone de ouvido —, acredito que a essência das conexões humanas também vai sobreviver à IA. Os formatos vão mudar, mas a necessidade de se sentir ouvido, visto e compreendido é atemporal.
Talvez, em vez de temer o que a IA vai tirar, devamos nos perguntar: o que vamos colocar de mais humano nela?
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