A velocidade com que a inteligência artificial se expande acrescenta um senso de urgência à educação corporativa. Habilidades técnicas que, por décadas, permaneceram blindadas pela eficiência, envelhecem em ciclos cada vez mais curtos.
Estas mudanças deslocam o aprendizado contínuo para o centro das decisões empresariais. O panorama exige não apenas esforços de atualização técnica, mas também um novo arcabouço de competências cognitivas para lidar com ambientes que mudam antes mesmo de se estabilizarem.
No mais recente episódio do CMO Agenda, Thaís Azevedo, CMO da Unico Skill, defende que esta erosão está, de fato, ligada ao ritmo frenético da IA, e o processo de reconstrução profissional deverá adquirir um caráter ainda mais urgente nos próximos anos.
“Lá atrás, quando aprendíamos alguma coisa, conseguíamos usufruir daquele aprendizado por anos. Mas tudo o que aprendemos hoje será diferente em pouco tempo. Por volta de 2030, uma habilidade aprendida durará, no máximo, seis meses”, estima a CMO.

Há, neste contexto, um descompasso entre o discurso e a prática. Embora 86% dos CMOs reconheçam que investir em educação gera retorno imediato, apenas 33% das empresas possuem programas contínuos de desenvolvimento, conforme apontam dados de uma pesquisa realizada pela Unico Skill em parceria com a Makers.
Na esfera individual, o dado é igualmente preocupante: só 16% dos CMOs estudam algo novo mensalmente.
O problemático excesso de informação
O cenário se agrava pelo excesso de informação disponível em canais diversos. A abundância de conteúdos gera uma sensação de aprendizado, mas produz níveis indesejáveis de superficialidade.
“Nunca tivemos tanto acesso à informação e, ao mesmo tempo, tanta desinformação. Existe, de fato, um grande ruído de informações que causa superficialidade, e a falta de profundidade pode levar profissionais e empresas a tomarem decisões baseadas em posts de redes sociais, por exemplo em vez de evidências robustas”, adverte Thaís.
Esse ambiente fragiliza a confiança das lideranças. Apenas 39% dos CMOs se dizem totalmente seguros diante das novas tecnologias. “É pouco, pensando no peso do cargo e no liderar pelo exemplo”, observa Azevedo, pontuando que a insegurança repercute diretamente na dificuldade de orientar equipes e estruturar trilhas de aprendizado compatíveis com a velocidade do mercado.

Competências comportamentais
Ao mesmo tempo, cresce a demanda por competências comportamentais. As soft skills se tornaram vitais para navegar em ambientes incertos, interpretar informações e atuar com maturidade emocional. “Estamos falando principalmente de inteligência emocional, pensamento crítico e flexibilidade, curiosidade e resiliência”, diz Azevedo.
A ausência dessas habilidades explica por que tantas empresas relatam dificuldades de contratação, mesmo em um país com milhões de desempregados. A resposta mais consistente para esse cenário é a hiper personalização da educação, uma vez que as necessidades de desenvolvimento diferem entre os profissionais.
Combinando diagnóstico por IA, trilhas flexíveis e estímulos variados, a nova educação corporativa substitui programas genéricos por jornadas baseadas em gaps individuais e objetivos reais de carreira. Um caso recente PagMenos exemplifica esse movimento. A rede, que vinha enfrentando dificuldade para contratar farmacêuticos, passou a oferecer o benefício educacional da Unico Skill para toda a empresa.
“Mais de mil colaboradores da base, que são balconistas, estão cursando Farmácia, sem custo direto. O impacto abrange tanto o futuro financeiro desses profissionais quanto a estratégia de expansão da companhia, que depende de mais farmacêuticos para abrir novas unidades”, narra Thaís.

Essa democratização rompe a lógica tradicional da educação corporativa, historicamente restrita às lideranças. Antes, investimentos eram concentrados no topo e reforçavam desigualdades. Hoje, a necessidade de qualificação é transversal. Em um mercado que exige atualização constante, restringir o acesso à formação significa limitar a capacidade competitiva da empresa.
A transformação também atinge a identidade do profissional. A técnica importa, mas não se sustenta sozinha. Aprender continuamente, interpretar contextos, combinar repertórios e agir com coerência tornaram-se pilares de carreiras duradouras. Neste contexto, o futuro da educação corporativa deve moldar a forma como empresas recrutam, promovem e retêm talentos.
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