Chegar aos 40 anos no varejo de moda brasileiro é, por si só, um feito raro. Fundada em 1985, no Rio de Janeiro, a Redley atravessou mudanças econômicas, transformações culturais, novas gerações de consumidores e revoluções tecnológicas sem abrir mão de sua essência. Ao revisitar seu acervo e sua trajetória para celebrar a data, a marca encontrou mais do que nostalgia: encontrou consistência. A empresa segue sendo fiel à própria identidade, ao mesmo tempo em que se reinventa para continuar relevante em um mercado cada vez mais volátil.
Esse marco acontece em um momento particularmente desafiador para o varejo de moda. O setor vive uma dinâmica de alta fragmentação, excesso de marcas, aceleração de tendências e consumidores menos fiéis, pressionados por preço, conveniência e estímulos constantes. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por propósito, experiências memoráveis e marcas que façam sentido cultural. Nesse cenário, amadurecer em Marketing deixou de ser apenas sobre comunicar bem produtos e passou a ser sobre construir confiança, relações simbólicas e presença consistente na vida das pessoas.
“O maior desafio hoje é se manter relevante na vida das pessoas, tanto entregando produto de alta qualidade quanto ótima experiência, em um contexto em que tudo muda muito rápido. No meio de tantas opções, a Redley precisa ser um lugar de confiança, um parceiro que entrega um produto justo, com durabilidade, consistência e uma relação verdadeira com as pessoas”, afirma Leonardo Antunes, Coordenador de Branding e Comunicação da Redley, marca pertencente ao Grupo S2, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Pilares de cultura e comunidade
Ao longo dessas quatro décadas, a Redley construiu esse vínculo a partir de pilares claros: produto, cultura e comunidade. Antes mesmo da lógica das redes sociais digitais, a marca já atuava como um ponto de encontro físico, um espaço de curadoria cultural e troca simbólica. Lojas funcionavam como locais de descoberta, onde música, arte, esporte e moda se encontravam. Essa lógica segue viva, agora expandida para festivais, eventos proprietários, ativações culturais e presença orgânica nas plataformas digitais.
A cultura, aliás, nunca foi um adereço na estratégia da marca. Esporte, música e arte formam seus principais territórios de atuação, conectando produto e comportamento. Do surf e skate às cenas urbanas, do reggae ao hip hop, a Redley se posiciona como participante ativa e não apenas como observadora distante. “Essa proximidade se reflete tanto no patrocínio de eventos como o Rock the Mountain quanto no apoio a coletivos, blocos de rua, atletas, músicos e artistas que movimentam a cultura local”, explicou Leonardo.

Esse mesmo princípio orienta a forma como a marca lida com nostalgia. Em vez de olhar para o passado como um lugar intocável, a Redley trata sua história como matéria-prima para inovação. Relançamentos de clássicos, como o Nauru 2.0 e o Originals, convivem com novas leituras estéticas e colaborações contemporâneas. “Não é ficar preso à memória afetiva do que a marca foi, mas entender que as identidades hoje são fluidas. Precisamos ouvir novas culturas, entender novos comportamentos e nos mover junto com as pessoas”, explica o executivo.
Gerações, pertencimento e collabs como ponte cultural
Ao longo de seus 40 anos, a Redley construiu um público diverso, que vai de consumidores da geração X e Millenials até pré-adolescentes e jovens da geração Z e alfa. Esse alcance multigeracional não é tratado como um problema de posicionamento, mas como um ativo estratégico de Marketing.
Em vez de escolher um único recorte etário, a marca trabalha a ideia de comunidade, entendendo que o estilo, o comportamento e a relação com a cultura hoje atravessam idades. “O desafio, nesse contexto, não é “rejuvenescer” a marca, mas manter sua identidade viva e interessante para diferentes públicos, respeitando códigos culturais que mudam rapidamente e exigem escuta constante”, explicou Antunes.

As collabs cumprem um papel central nessa ponte geracional. Parcerias como a de Bob Esponja funcionam como porta de entrada para públicos mais jovens, conectados ao entretenimento, à cultura pop e às narrativas transmídia, sem romper com a base histórica da marca. Ao mesmo tempo, licenciamentos como Bob Marley dialogam com consumidores mais maduros, reforçando valores, estilo de vida e afinidades culturais já consolidadas.
“As collabs não são apenas estratégias de alcance, mas ferramentas de afinidade. Elas nos ajudam a traduzir a essência da marca para diferentes gerações, ampliando a relevância sem diluir a identidade. Vejo que esse é um equilíbrio cada vez mais raro no varejo de moda contemporâneo”, analisa o executivo.
Relacionamento na linha de frente
No Marketing, essa lógica se traduz em uma atuação menos publicitária e mais relacional. A marca aposta em eventos, experiências presenciais e conteúdo orgânico como forma de criar pertencimento. O digital entra como ferramenta de conexão e não substitui a relação humana. No TikTok, por exemplo, a estratégia é construída de dentro para fora, com linguagem espontânea e participação direta das novas gerações, reforçando a ideia de proximidade e autenticidade.
Ao mesmo tempo, a Redley reconhece que o futuro do varejo passa pela integração total entre físico e digital. O e-commerce já representa uma fatia relevante do faturamento, mas a ambição vai além da conversão. “O objetivo é transformar o canal em uma extensão viva da comunidade, com experiências mais ricas, menos fricção e maior integração com loja física, conteúdo e relacionamento”, pontua Leonardo.

Esse movimento inclui, inevitavelmente, o uso crescente de inteligência artificial e novas interfaces de consumo – um desafio que exige visão de longo prazo. “As pessoas se relacionarão com as marcas de uma maneira completamente diferente daqui a dois ou três anos. O desafio é entender como estar presente nesse contexto sem perder a essência, mantendo relevância em meio a uma avalanche de informação”, analisa Antunes.
Após 40 anos, a Redley parece ter clareza sobre o caminho que pretende seguir. Em vez de crescer apenas em volume, a marca aposta em crescimento sustentável, fortalecimento de comunidade e experiências de qualidade. Em um mercado em que a atenção é disputada segundo a segundo, sua estratégia de Marketing se ancora em algo cada vez mais raro: tempo, coerência e relações reais.
Leia também: Da criatividade à tecnologia: O Papel da IA nas Campanhas de Moda
COMPARTILHAR ESSE POST







