A inteligência artificial (IA) está redefinindo os contornos da indústria da moda, com um impacto particularmente notável no universo da publicidade e do marketing. De avatares 3D imersivos que personalizam a experiência de compra a campanhas inteiramente projetadas por algoritmos, a IA possibilita que as marcas se conectem com os consumidores de maneiras inéditas e surpreendentes. Este artigo mergulha nas profundezas dessa revolução impulsionada pela IA, examinando tanto as oportunidades promissoras quanto os desafios intrínsecos que emergem nesse novo cenário.
O advento das campanhas geradas por IA prenuncia um futuro transformador para a comunicação das marcas de moda. Várias empresas já se destacaram ao trilhar esse caminho inovador com campanhas de alcance nacional e internacional. A Adidas, por exemplo, causou impacto com sua campanha "Floral", uma criação do cineasta Blair Vermette que harmoniza a estética japonesa com o mundo da moda.
Similarmente, o grupo europeu Mango apresentou uma coleção de verão para adolescentes, cuja campanha foi concebida integralmente por IA, evidenciando um processo criativo interno meticuloso e vanguardista. No cenário brasileiro, marcas como Chilli Beans e Bebecê também estão explorando as potencialidades da IA para conceber campanhas que desafiam as convenções e expandem os limites da expressão criativa.
A adoção da IA nas campanhas transcende a mera inovação tecnológica, oferecendo um leque ampliado de possibilidades criativas. A IA permite que as marcas transmitam suas estratégias de branding de forma mais eficaz, evocando sentimentos como leveza e delicadeza, que são pilares da marca em toda sua comunicação. A campanha da Bebecê, em particular, almejou abraçar a inovação e dialogar com as tendências emergentes de avatares e comunicação digital, aproveitando a flexibilidade e a precisão da IA para incorporar elementos visuais que seriam impraticáveis em um ambiente de estúdio tradicional, como a utilização de flamingos como modelos.

Contudo, a transição para campanhas de IA não está isenta de complexidades. Em comparação com as abordagens tradicionais, que envolvem equipes extensas de fotógrafos, estilistas e modelos, a IA exige um novo conjunto de habilidades e competências.
O processo de desenvolvimento da campanha da Bebecê, por exemplo, que durou cerca de 4 meses, abrangeu etapas como a definição do conceito da campanha, o briefing criativo, o alinhamento da direção de arte, a fotografia de calçados reais, a seleção meticulosa do modelo (considerando tom de pele, cor dos olhos, etc.), o styling, a atuação e a busca pelo realismo na representação dos flamingos. A colaboração com ferramentas como MidJourney, ComfyUI e Photoshop foi essencial para alcançar o resultado desejado.
À medida que a IA se consolida no mundo da moda, é válido considerar as implicações éticas e sociais dessa transformação. Uma das preocupações mais prementes é o possível deslocamento de modelos humanos e outros profissionais da indústria. Um dos debates mais prementes em torno das campanhas criadas por IA gira em torno da substituição de modelos reais por avatares digitais, levantando preocupações sobre o futuro do emprego para profissionais da moda.
Diante dessa crítica, a varejista global H&M propôs uma solução inovadora ao adotar a IA para criar modelos que simulam pessoas reais. Ao contrário dos influenciadores virtuais tradicionais, os chamados 'gêmeos digitais' são criados com o consentimento explícito dos modelos originais, assegurando a ética e o respeito aos direitos de imagem no uso da IA na publicidade.
Paralelamente, a ascensão dos gêmeos digitais também abre novas oportunidades de carreira no mercado da IA. A designer e diretora criativa independente Sybille de Saint Lourent, por exemplo, ganhou notoriedade ao criar campanhas de moda falsas para marcas de luxo como Prada, Burberry e Lacoste. Suas criações, que variam de imagens estáticas a vídeos com movimentos sutis, ostentam uma estética minimalista de 'fine art' que desafia os consumidores a distinguirem entre o real e o artificial, borrando as fronteiras da autenticidade na publicidade.
Em suma, a inteligência artificial está remodelando profundamente o panorama das campanhas de moda, inaugurando uma nova era de criatividade, personalização e engajamento do consumidor. Ao abraçar essa revolução, a indústria pode descobrir maneiras inovadoras de cativar o público e desafiar os limites da expressão criativa, desde que as implicações éticas e sociais sejam devidamente consideradas.
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