Construir peças publicitárias audiovisuais é uma tarefa que demanda tempo – um recurso cada vez mais escasso e valioso para marcas que correm para cumprir as deadlines programadas no calendário. Não raro, agendas apertadas geram produções prematuras, que não passam nem perto de atingir o potencial de impacto imaginado durante a concepção da mensagem.
Neste contexto, a produção virtual ganha espaço: capaz de fundir universos físicos e virtuais em tempo real, a tecnologia se destaca por sua capacidade de criar cenários dinâmicos em pouco tempo. Empoderada por câmeras avançadas e tecnologias ascendentes, como a Realidade Estendida (XR), a técnica substitui a necessidade de locações físicas com ambientes digitais projetados em grandes painéis de LED.
Em comparação aos filmes produzidos com o auxílio do chroma key, peças filmadas neste formato apresentam níveis de integração mais naturais entre atores e cenários. No Brasil, o C6 Bank apostou na tecnologia ao criar uma série de vídeos para falar sobre os benefícios da Conta Global oferecida pela instituição. O roteiro leva a estrela do vídeo, Gisele Bündchen, a diferentes metrópoles globais, de São Paulo a Nova Iorque.
Do ponto de vista logístico, o tempo e os custos para uma produção tão complexa seriam muito altos caso o C6 optasse por viajar com a modelo à cada cidade destacada no vídeo para fazer as filmagens, carregando consigo uma tonelada extra de equipamentos e pessoal a cada embarque. Por isso, os cartões-postais que compõem a peça foram criados e filmados no estúdio de produção virtual do 555 Studios, em São Paulo.
“O tempo da Gisele, por si só, custa uma fortuna. Agora, imagine ter o tempo dela disponível e ainda ter que deslocar equipes e filmar em Paris, em frente à Torre Eiffel, em Nova York, em Manhattan, no Aeroporto. Do ponto de vista de custo, isto é inviável”, comenta Sávio Bertolani, Head of Creative and Strategy do 555 Studios.
Aspectos técnicos
A evolução da produção virtual não sentencia à morte o chroma key, defende Bertolani. Por outro lado, o avanço desta tecnologia promete saltos significativos em frentes relevantes para a produção audiovisual, como rapidez, praticidade e, sobretudo, qualidade. Uma das grandes diferenças entre a produção virtual e o chroma key está no realismo proporcionado pela forma como a luz interage com os elementos da cena.
No chroma key, o cenário é adicionado posteriormente na pós-produção, exigindo um trabalho cuidadoso e significativamente mais longo para integrar os elementos físicos ao ambiente digital. Já na produção virtual, o cenário é exibido em tempo real nos painéis de LED, permitindo que a luz interaja naturalmente com os objetos e atores da cena e possibilitando construções mais fluidas, sem fricções provocadas pela artificialidade.

“O chroma key exige um extenso trabalho de pós-produção para compor e integrar os elementos da cena de forma convincente. Na produção virtual, essa integração ocorre em tempo real, reduzindo drasticamente a necessidade de pós-produção e acelerando o processo de finalização da peça audiovisual”, explica o diretor.
A produção virtual se beneficia de tecnologias como Realidade Estendida (XR), Realidade Aumentada (AR) e motores de renderização em tempo real, como o Unreal Engine. A XR engloba também Realidade Virtual (VR) e Realidade Mista (MR), que permitem a criação de ambientes híbridos imersivos, facilmente manipuláveis por cineastas e produtores, e aprimoram o processo criativo e a eficiência na produção.

Amplamente utilizado na indústria de videogames, o Unreal Engine oferece suporte ao uso de XR no pipeline de criação de conteúdo, como a construção de ambientes em realidade virtual e o streaming de dados de rastreamento de dispositivos para a engine, auxiliando na animação. Assim, as equipes de produção integram elementos virtuais e reais de maneira coesa, criando experiências mais envolventes e realistas para o público.
Redução de custos e sustentabilidade
Na balança orçamentária, a produção virtual exige investimentos iniciais significativamente mais elevados, mas oferece contrabalanços nas reduções dos custos operacionais e logísticos. “Em linhas gerais, o potencial de economia parte de 30 a 40% por aplicação em filmes publicitários que tenham mais de uma locação”, afirma Sávio.
Durante o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, em 2024, o McDonald’s lançou uma peça para celebrar o acordo de patrocínio à corrida. O vídeo exibe dois carros da categoria em uma disputa intensa, semelhante à atividade vista nas pistas reais. Este, segundo Bertolani, é um exemplo do que a produção virtual pode fazer para materializar ideias consideradas impossíveis.
“Filmar um carro na rua envolve diversas dificuldades, como obtenção de licenças, controle do tráfego, climas imprevisíveis e a necessidade de uma grande equipe. Com a produção virtual, é possível simular qualquer ambiente dentro do estúdio, garantindo condições perfeitas de filmagem e reduzindo custos operacionais”, explica.
Nos próximos anos, a busca por soluções em produção virtual deverá ser impulsionada por um objetivo ascendente no Marketing Moderno: o alinhamento com a cartilha de ESG. “O maior vilão na produção audiovisual, do ponto de vista da pegada de carbono e do impacto ambiental, é o deslocamento, a logística e a construção de sets físicos. Na produção virtual, há economia total destes recursos”, pontua o diretor.
O alcance da Produção Virtual
Engatinhando no Brasil, a produção virtual deverá evoluir sob a condição de provar a diferentes setores seus benefícios à competitividade. Eventos ao vivo já utilizam a produção virtual para criar ambientes imersivos e interativos. O conceito de Digital Twins também ganha espaço: com ele, marcas podem criar versões digitais de lojas e produtos, possibilitando o uso desses ativos para publicidade, treinamento e experiências interativas.
Empresas como a Ferrari já estão explorando esse conceito. Em 2021, a escuderia italiana criou uma réplica digital do modelo 296 GTB, utilizada tanto para publicidade quanto para experiências dentro do jogo Fortnite. Seguindo uma linha parecida, o McDonald's criou uma loja em 3D virtual. Estes assets, avalia Bertolani, podem ser utilizados inúmeras vezes para variados fins, de campanhas pontuais até o treinamento de funcionários.
“Quanto temos um cenário, podemos criar outros conteúdos, como, por exemplo, treinamentos para o time em campo ou para operadores de loja em relação às melhores práticas para atender o cliente. Cenários virtuais podem ser reutilizados, replicados e repensados diversas vezes, reduzindo custos e usufruindo de todas as vantagens da produção virtual”, finaliza.
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