A Petlove assumiu um papel de destaque no debate sobre a possível fusão entre Petz e Cobasi, as duas maiores redes do varejo pet do país. Parceira de longa data do Instituto Caramelo, a companhia aderiu à campanha #NãoAoMonopólioPet, que questiona a operação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e alerta para os impactos sistêmicos que a concentração de mercado pode causar.
Mais do que uma manifestação pública, a Petlove foi habilitada como terceira parte no processo que avalia a fusão e vem colaborando com a instrução do caso, levando ao Cade suas preocupações concorrenciais.
“Petz e Cobasi são hoje os únicos concorrentes efetivos entre si. A união pode causar o fechamento de pequenos e médios petshops, sufocar fornecedores e reduzir a diversidade de produtos e serviços disponíveis aos tutores”, afirma Talita Lacerda, CEO da Petlove, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Segundo dados apresentados no processo, a junção das redes poderá impactar diretamente 72% das famílias brasileiras, que possuem pelo menos um animal de estimação, e afetar negativamente os cerca de 160 milhões de pets no país, conforme levantamento da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação).
“Nosso compromisso é com o bem-estar animal. Confiamos na análise técnica do Cade e na adoção de medidas que garantam um ambiente competitivo saudável”, completa Talita Lacerda.
Especialistas veem aprovação com ressalvas
Embora a movimentação tenha gerado reação de parte do setor, especialistas apontam que a operação tem grandes chances de ser aprovada, ainda que com condicionantes. “O Cade tende a seguir o histórico de aprovações com ressalvas, como no caso da Nestlé com a Garoto”, avalia Felippe Pires, CEO da Louro Tech e especialista em fusões e aquisições.
Para Pires, o principal ponto de atenção é o impacto sobre a competição em praças onde Petz e Cobasi têm presença dominante. “A fusão fortalece o poder de barganha com fornecedores, o que pode tornar a concorrência desleal com players menores. No curto prazo, isso afeta diretamente o equilíbrio do mercado e o acesso dos consumidores a diferentes opções”, afirma.

Além das implicações regulatórias, fusões dessa magnitude enfrentam desafios internos importantes. “O maior risco não está só na aprovação. Está na integração de cultura, sistemas e processos. Se esses pontos não forem bem conduzidos, a operação pode destruir valor ao invés de gerar ganho”, alerta Felippe.
A integração tecnológica é uma das etapas mais críticas. “Hoje, a inteligência artificial e os sistemas integrados facilitam muito o processo de due diligence e a união das estruturas, mas ainda assim exige planejamento e investimento. Empresas que não compartilham o mesmo ecossistema digital enfrentam barreiras significativas”, explica o executivo.

A concentração pode frear a inovação
Para a Petlove, os riscos vão além do impacto comercial. A empresa argumenta que a consolidação pode inibir a entrada de novos concorrentes, reduzir a inovação e comprometer o acesso dos tutores a cuidados mais acessíveis e diversificados.
“Com menor poder de competição, muitos estabelecimentos podem fechar ou sequer abrir. E isso inclui negócios digitais, onde Petz e Cobasi já concentram entre 40% e 50% das operações, segundo a própria Superintendência Geral do Cade”, destaca Talita.
A crítica da Petlove também mira o efeito sistêmico da concentração: menos inovação, menor diversidade e perda de espaço para o empreendedorismo local. “Não se trata apenas de defender o nosso modelo de negócio. Defendemos a concorrência como um pilar fundamental para um setor sustentável e acessível”, diz a empresa, que apoia mais de 100 ONGs e atua ativamente com doações para o cuidado de animais resgatados.

Consolidação ou oportunidade para inovação?
Apesar do cenário de alerta, Felippe Pires acredita que, no médio e longo prazo, o ciclo de consolidação pode abrir portas para novos entrantes. “Sempre que o mercado se concentra, surgem nichos e oportunidades para quem souber inovar. Mas é claro que, para competir com grandes redes, o pequeno empreendedor precisa de acesso a tecnologia, capital e um plano de negócios bem estruturado”, analisa.
Na avaliação de Pires, o setor pet, assim como o financeiro e o agro, está passando por uma transformação tecnológica e regulatória que pode beneficiar empresas menores, desde que elas estejam preparadas. “O segredo é eficiência. Com as ferramentas certas, é possível fazer mais com menos e construir um negócio atrativo até para eventuais investidores.”
No fim das contas, o papel do Cade será decisivo para o futuro do setor. A autarquia deverá avaliar se a fusão entre Petz e Cobasi trará ganhos de escala e eficiência que beneficiem o consumidor ou se comprometerá a competição, pressionando o mercado e afetando o acesso a produtos e serviços essenciais para o cuidado com os animais.

Momento pode gerar mais oportunidades e inovações para PMEs
Para André Faim, empresário e investidor no setor, fundador da Lobbo Hotels e da plataforma Trabalhe pra Cachorro, o avanço das grandes redes representa um marco de profissionalização, mas também levanta questões para os pequenos negócios. “A fusão cria uma força de mercado com alto poder de negociação e capilaridade. Isso pode pressionar os pequenos operadores a elevarem seu padrão de serviço para sobreviverem e se diferenciarem”, afirma.
Faim, que lidera negócios voltados à hospedagem, socialização e formação de profissionais do setor, defende que o momento exige adaptação e foco na experiência do cliente. “O tutor busca confiança, atendimento personalizado e profissionais qualificados. É nesse ponto que empresas menores ainda conseguem competir. Mas é preciso sair da informalidade e investir em gestão, capacitação e inovação”, pontua.
Para a advogada Daniela Correa, especialista em Direito Empresarial com forte atuação no varejo, a decisão do Cade sinaliza uma confiança na competitividade do mercado, mas também acende um alerta para os pequenos e médios empreendedores do setor.
“A fusão sem restrições indica que o Cade não identificou riscos imediatos à concorrência. No entanto, para os pequenos varejistas, isso representa a necessidade de se adaptarem a um novo cenário, onde a diferenciação e a especialização serão fundamentais para a sobrevivência e o crescimento”, afirma Daniela.
Apesar da consolidação das gigantes, o mercado pet brasileiro continua a oferecer oportunidades para empresas menores que apostam em nichos específicos, atendimento personalizado e produtos diferenciados.
“A chave para os pequenos negócios está em entender profundamente seu público-alvo e oferecer algo que as grandes redes não conseguem replicar facilmente, como um atendimento mais próximo, conhecimento especializado e envolvimento com a comunidade local”, concluiu Daniela.
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