<p align="left"><strong>Marketing para a baixa renda vive novo momento e precisa mudar</strong></p><p>Por Bruno Mello<br /><a href="mailto:bruno@mundodomarketing.com.br">bruno@mundodomarketing.com.br</a></p><p><table border="0" cellspacing="6" align="left"><tbody><tr><td><img class="foto_laranja_materias" src="images/materias/entrevista/marketing_baixa_renda_sergi.jpg" border="0" alt=" " title="Sergio Nardi" width="220" height="280" /></td></tr><tr><td><em>&nbsp;S&eacute;rgio Nardi</em></td></tr></tbody></table>O mercado que vende para a baixa renda est&aacute; vislumbrando um novo cen&aacute;rio. A crise econ&ocirc;mica mundial promete diminuir o som da festa que os consumidores das classes C, D e E vem fazendo desde que houve um sens&iacute;vel aumento do cr&eacute;dito. A &eacute;poca&nbsp; agora &eacute; de ficar de olho no endividamento desta parcela da popula&ccedil;&atilde;o, em novos h&aacute;bitos de consumo e em segmentos ainda inexplorados por quem recebe at&eacute; R$ 1.750,00 mensais. </p><p>Autores do livro Marketing para o varejo de baixa renda (Novo S&eacute;culo), Paulo Godoy e Sergio Nardi, confirmam os novos tempos. &ldquo;Ap&oacute;s a euforia das compras de bens eletroeletr&ocirc;nicos e m&oacute;veis, agora &eacute; o momento do prazer e auto-estima&rdquo;, afirmam em entrevista ao Mundo do Marketing. Mesmo com a mudan&ccedil;a, este tipo de p&uacute;blico ainda &eacute; essencial e lucrativo para as empresas. Segundo os especialistas &agrave; medida que o consumidor de baixa renda adquiriu maior poder de compra e, conseq&uuml;entemente, maior import&acirc;ncia para o mercado, aumentaram progressivamente tamb&eacute;m seu grau de exig&ecirc;ncia.</p><p>Por isso, investir em atendimento para este perfil de consumidor tamb&eacute;m ser&aacute; essencial, assim como entender melhor suas necessidades e desejos. De acordo com Paulo Godoy e S&eacute;rgio Nardi, caso os juros se mantenham no mesmo n&iacute;vel ou baixem ainda mais (cen&aacute;rio pouco prov&aacute;vel diante da crise mundial) e as compras em presta&ccedil;&atilde;o ganhem mais e mais parcelas para caber no bolso da baixa renda, a tend&ecirc;ncia &eacute; que principalmente a classe invista na casa pr&oacute;pria, compre carro e fa&ccedil;a viagens.<br />&nbsp;<br /><span class="texto_laranja_bold">Quais s&atilde;o as peculiaridades do marketing para a baixa renda? <br /></span>O p&uacute;blico de baixa renda &eacute; um grupo com valores conservadores como fam&iacute;lia, honra e justi&ccedil;a. S&atilde;o pessoas que valorizam muito o contato pessoal e o posicionamento correto das empresas. Na op&ccedil;&atilde;o de compra, quando existe alguma sobra de caixa, o consumidor de baixa renda mostra normalmente dois comportamentos: adquirir algo que n&atilde;o poderia consumir em tempos recessivos (mais usual) e comprar mais devido a liquida&ccedil;&otilde;es e promo&ccedil;&otilde;es.</p><p>Outro comportamento peculiar &eacute; o grau de racionalidade desse consumidor. Ao contr&aacute;rio do que pode parecer, n&atilde;o &eacute; s&oacute; o fator pre&ccedil;o que impulsiona as vendas para esse nicho de mercado. O consumidor de baixa renda analisa e compra tamb&eacute;m sob o foco da qualidade e desejo, criando um cen&aacute;rio mais complexo para novos empreendedores que queiram direcionar seus neg&oacute;cios para esse segmento.</p><p><span class="texto_laranja_bold">Para quais diferen&ccedil;as os gestores de marketing t&ecirc;m que estar atentos para desenvolver a&ccedil;&otilde;es assertivas?</span><br />Os gestores de marketing devem entender que o mercado de baixa renda &eacute; um mercado novo e em forma&ccedil;&atilde;o, portanto todas as a&ccedil;&otilde;es voltadas a esse segmento devem ser muito bem estudadas e preferencialmente atrav&eacute;s de dados prim&aacute;rios, ou seja, pesquisar in loco resid&ecirc;ncias, comunidades de bairro e a periferia de uma maneira&nbsp;geral. Mas principalmente o gestor de marketing deve se despir totalmente do preconceito quanto &agrave;s a&ccedil;&otilde;es voltadas ao mercado de baixa renda, pois se por um lado elas n&atilde;o criam &ldquo;status&rdquo; ao profissional de marketing, por outro elas s&atilde;o essenciais e muito lucrativas para as organiza&ccedil;&otilde;es.</p><p><span class="texto_laranja_bold">As operadoras de cart&atilde;o de cr&eacute;dito est&atilde;o investindo cada vez mais&nbsp;na baixa renda e est&aacute; havendo um crescimento deste meio de pagamento entre este p&uacute;blico. Mesmo assim, ainda h&aacute; um universo grande a ser conquistado. O caminho trilhado pelas bandeiras de cart&otilde;es tem sido o correto?<br /></span>Sim, o crescimento do consumo nas classes de baixa renda gerou uma nova lacuna de oportunidade para &ldquo;novos&rdquo; meios de pagamento. Esse p&uacute;blico j&aacute; tem experi&ecirc;ncia com os cart&otilde;es private label e a migra&ccedil;&atilde;o para cart&otilde;es &ldquo;bandeirados&rdquo; &eacute; uma quest&atilde;o de oferta e de tempo. Hoje, essa classe representa mais que 70% dos domic&iacute;lios urbanos e mais de 40% do consumo nacional proporcionando oportunidade para meios de pagamento como os cart&otilde;es de d&eacute;bito e cr&eacute;dito. A estrutura de cr&eacute;dito desse consumidor mostra um perfil de endividamento no m&eacute;dio e longo prazo gerando vantagem competitiva para os meios de pagamento que proporcionam a funcionalidade de parcelamento como os cart&otilde;es de cr&eacute;dito. No entanto, &eacute; necess&aacute;rio tomar cuidado na concess&atilde;o de cr&eacute;dito, pois esse p&uacute;blico tem or&ccedil;amento restrito e qualquer conting&ecirc;ncia pode torn&aacute;-lo inadimplente.</p><p><span class="texto_laranja_bold">As formas de pagamentos e o acesso ao cr&eacute;dito colocaram mais dinheiro na m&atilde;o da baixa renda, que logo foi &agrave;s compras. At&eacute; que ponto o endividamento deste p&uacute;blico afeta no potencial de consumo deles?</span><br />O grau de endividamento do p&uacute;blico de baixa renda est&aacute; umbilicalmente ligado ao potencial de consumo dessa faixa de renda e este ser&aacute; um fator decisivo para o crescimento do varejo voltado a esse p&uacute;blico para os pr&oacute;ximos anos. Devido ao baixo n&iacute;vel escolar dessa faixa da popula&ccedil;&atilde;o o seu discernimento e o seu poder de gerenciamento de d&iacute;vida &eacute; muito restrito, levando esses consumidores a um ac&uacute;mulo de presta&ccedil;&otilde;es que inviabiliza o pagamento das mesmas. Esse fator gera d&iacute;vidas de curto e m&eacute;dio prazo que com certeza ir&atilde;o bloquear o acesso ao cr&eacute;dito a esses consumidores, impactando de forma consistente o potencial de consumo dessa parcela da popula&ccedil;&atilde;o como um todo.</p><p><span class="texto_laranja_bold">Com o aumento do poder aquisitivo da baixa renda, um dos primeiros movimentos foi a compra de eletr&ocirc;nicos e de adquirir o que estava faltado em casa, como m&oacute;veis. Daqui para frente, qual ser&aacute; a tend&ecirc;ncia de compra?</span><br />Ap&oacute;s a euforia das compras de bens eletroeletr&ocirc;nicos e m&oacute;veis, agora &eacute; o momento do prazer e auto-estima. Os mercados de turismo, entretenimento, e bem estar devem estar preparados para esse nicho de consumidores. Outra tend&ecirc;ncia &eacute; a compra da &ldquo;casa pr&oacute;pria&rdquo; e autom&oacute;veis &agrave; medida que os juros diminuem e os prazos s&atilde;o estendidos.</p><p><span class="texto_laranja_bold"><table border="0" cellspacing="6" align="right"><tbody><tr><td>&nbsp;<img class="foto_laranja_materias" src="images/materias/entrevista/marketing_baixa_renda_paulo.jpg" border="0" alt=" " title="Paulo Godoy" width="220" height="280" /></td></tr><tr><td><em>&nbsp;Paulo Godoy </em></td></tr></tbody></table>Quais segmentos ainda n&atilde;o exploraram este p&uacute;blico e podem aproveitar a oportunidade?</span><br />O segmento que primeiro entendeu as necessidades desse consumidor e que mais se beneficiou at&eacute; aqui com este p&uacute;blico foi o de eletroeletr&ocirc;nicos e &eacute; um segmento que continuar&aacute; sendo o carro chefe de vendas para essa popula&ccedil;&atilde;o. Mas entendemos que todo segmento que possa oferecer um produto ou um servi&ccedil;o que remeta esse consumidor a realiza&ccedil;&atilde;o de um sonho ou de propiciar um pouco de status a ele, est&aacute; hoje habilitado a disputar o mercado de baixa renda. Setores como os de cart&atilde;o de cr&eacute;dito, automobil&iacute;stico e cosm&eacute;tico, al&eacute;m &eacute; claro do eletroeletr&ocirc;nico, s&atilde;o os grandes motes de consumo dessa faixa de renda.</p><p><span class="texto_laranja_bold">Quando se fala nas classes de maior poder aquisitivo, a experi&ecirc;ncia no ponto de venda e o relacionamento s&atilde;o diferenciais para a compra. E na baixa renda, o que o varejo deve fazer para conquistar este consumidor?</span><br />O atendimento &eacute; um dos aspectos mais importantes para o consumidor de baixa renda. Mesmo tendo um poder de compra limitado e teoricamente n&atilde;o sendo considerados consumidores privilegiados, eles n&atilde;o abrem m&atilde;o de um atendimento prestativo e atencioso. Existe uma certa &ldquo;indigna&ccedil;&atilde;o&rdquo; por parte desse consumidor advinda de um passado n&atilde;o muito distante que loja &ldquo;pobre&rdquo; tinha como refer&ecirc;ncia os mercadinhos de bairro apinhados de produtos dos mais variados, de higiene no m&iacute;nimo suspeita e de atendimento informal para n&atilde;o dizer desleixado.</p><p>Nota-se claramente que &agrave; medida que o consumidor de baixa renda adquiriu maior poder de compra e, conseq&uuml;entemente, maior import&acirc;ncia para os mercados, aumentaram progressivamente tamb&eacute;m seu grau de exig&ecirc;ncia. Outro ponto fundamental para a assertividade nas a&ccedil;&otilde;es com esse p&uacute;blico &eacute; a comunica&ccedil;&atilde;o. No livro mostramos atrav&eacute;s de pesquisas qualitativas e quantitativas a import&acirc;ncia da propaganda e atendimento para esse p&uacute;blico.</p><p><span class="texto_laranja_bold">O pre&ccedil;o &eacute; o &uacute;nico diferencial que a baixa renda v&ecirc; nitidamente?</span><br />Segundo a pesquisa que realizamos no livro, o pre&ccedil;o, segundo a percep&ccedil;&atilde;o do consumidor de baixa renda, &eacute; o &uacute;nico diferencial que importa na hora da compra. Mas com uma an&aacute;lise mais aprofundada dos dados obtidos pudemos avaliar que a percep&ccedil;&atilde;o do consumidor difere das suas atitudes na hora da compra e que a propaganda exerce enorme influ&ecirc;ncia sobre essa parcela de consumidores. A no&ccedil;&atilde;o de pre&ccedil;o citada como diferencial no ato da compra para essas pessoas se relaciona muito mais ao valor da presta&ccedil;&atilde;o do que propriamente do pre&ccedil;o referencial do produto ou da taxa de juros embutida no financiamento.</p><p><span class="texto_laranja_bold">&Eacute; comum, em supermercados voltados para a baixa renda, n&atilde;o ter muitas op&ccedil;&otilde;es de marcas. Qual &eacute; e qual ser&aacute; a import&acirc;ncia da marca para este consumidor daqui para frente?</span> <br />A auto-estima &eacute; a necessidade de se sentir orgulhoso, reconhecido, com sucesso. Aqui cabe uma peculariedade interessante que distingue o consumidor de baixa renda. Para esse tipo de consumidor, os produtos que remetem a esse sentimento s&atilde;o produtos digamos b&aacute;sicos a outras faixas de consumo, como a classe m&eacute;dia e alta. As marcas de primeira linha podem suprir essa car&ecirc;ncia de auto-estima e &agrave; medida que este p&uacute;blico adquire seus bens dur&aacute;veis e se v&ecirc; com pequena reserva, a marca se torna importante e pode ser um diferencial dentro do ponto de venda.</p>
COMPARTILHAR ESSE POST