<p><strong>Luxo d&aacute; o que o consumidor quer: experi&ecirc;ncia e prazer</strong></p> <p>Por Bruno Mello<br /><a href="mailto:bruno@mundodomarketing.com.br">bruno@mundodomarketing.com.br</a></p> <p><img class="foto_laranja_materias" style="width: 150px; height: 190px" src="images/materias/entrevista/andre_dangelo.jpg" alt="" hspace="6" vspace="2" width="150" height="190" align="right" />O mercado de luxo brasileiro tem muito que ensinar para todos os segmentos, inclusive para o t&atilde;o desejado consumo popular. &Eacute; que, de acordo com Andr&eacute; Cauduro D&acute;Angelo, autor do livro "Precisar, N&atilde;o Precisa - Um Olhar Sobre o Consumo de Luxo no Brasil", os atributos que fazem dos artigos de luxo objetos de desejos podem ser replicados em outros mercados.</p> <p>D&acute;Angelo considera que o maior feito dos produtos luxuosos s&atilde;o que eles promovem experi&ecirc;ncias &uacute;nicas e d&atilde;o prazer a quem compra &ndash; dois dos atributos mais desejados por todos os neg&oacute;cios. De acordo com o Diretor da Think! Marketing &amp; Cultura de Consumo, os consumidores buscam objetos e servi&ccedil;os que provoquem sensa&ccedil;&otilde;es positivas e que rompam com a rotina.</p> <p>O mercado de luxo no Brasil, o perfil de quem compra, como compra, a massifica&ccedil;&atilde;o do luxo, os desejos do consumidor, entre outros, foram analisados pelo especialista em entrevista ao Mundo do Marketing.</p> <p><span class="subtitulomateria">Quais s&atilde;o as principais caracter&iacute;sticas do luxo no Brasil hoje? <br /></span>Trata-se de um mercado em expans&atilde;o, por&eacute;m num ritmo bem menos acelerado que o de alguns anos atr&aacute;s. Em primeiro lugar, porque o crescimento sobre uma base pequena ou inexistente &eacute;, obviamente, maior, mais r&aacute;pido e mais f&aacute;cil - foi o que aconteceu em meados da d&eacute;cada de 1990. Segundo, porque a economia brasileira est&aacute; praticamente estagnada h&aacute; cerca de 10, 15 anos - o que limita a incorpora&ccedil;&atilde;o de novos consumidores a este mercado e, por conseguinte, sua atratividade para as marcas mundiais.</p> <p><span class="subtitulomateria">Quais s&atilde;o as oportunidades para as marcas brasileiras investirem no luxo? </span><br />Uma tend&ecirc;ncia internacional, e que tem reflexo aqui no Brasil, &eacute; a da busca, por parte dos consumidores, de objetos e servi&ccedil;os que provoquem sensa&ccedil;&otilde;es positivas, que rompam com a rotina. Ou seja: sensa&ccedil;&otilde;es que produtos de luxo normalmente oferecem, mas que n&atilde;o s&atilde;o exclusivas deste segmento. Portanto, creio que exista uma demanda por sensa&ccedil;&otilde;es semelhantes &agrave;quelas que o luxo &eacute; capaz de provocar sem, contudo, existirem ainda as condi&ccedil;&otilde;es s&oacute;cio-econ&ocirc;micas e culturais para que esta demanda seja canalizada para os produtos de luxo propriamente ditos.</p> <p>A solu&ccedil;&atilde;o, me parece, &eacute; transformar em pequenos luxos, pequenas indulg&ecirc;ncias, produtos e servi&ccedil;os mais corriqueiros. Fazendo melhorias incrementais ou radicais em produtos existentes e usando as ferramentas de marketing para promover uma associa&ccedil;&atilde;o entre esses produtos e aspectos positivos relacionados a seu consumo. Fortalecer o benef&iacute;cio emocional da compra, atendendo &agrave;s motiva&ccedil;&otilde;es de distin&ccedil;&atilde;o e prazer. A vantagem dessa abordagem &eacute; que ela se presta a diversas categorias de produto, e praticamente permeia todos os n&iacute;veis da pir&acirc;mide de produtos. Al&eacute;m disso, ela diz respeito a uma caracter&iacute;stica (busca de prazer) observada j&aacute; h&aacute; algum tempo na sociedade, e n&atilde;o &eacute; algo moment&acirc;neo. Trata-se de uma tend&ecirc;ncia, n&atilde;o um modismo.</p> <p><span class="subtitulomateria">Qual &eacute; o perfil de quem compra? Pergunto do perfil psicogr&aacute;fico e o comportamento do consumidor.</span><br />O brasileiro n&atilde;o difere tanto do consumidor de outros pa&iacute;ses. Ele tende a associar ao luxo caracter&iacute;sticas semelhantes &agrave;quelas que europeus e americanos associam: qualidade superior, prazer est&eacute;tico, auto-recompensa, status. Mas, dentro disso, existem alguns detalhes que merecem registro e que d&atilde;o um car&aacute;ter peculiar ao consumidor brasileiro. Destaco um deles: no que se refere ao aspecto distintivo do luxo (ou de diferencia&ccedil;&atilde;o social e status).</p> <p>Para os consumidores brasileiros de luxo, a distin&ccedil;&atilde;o n&atilde;o ocorre no &acirc;mbito da posse dos produtos (eu tenho, voc&ecirc; n&atilde;o tem). Ocorre na esfera do imagin&aacute;rio: eu adquiro os meus produtos com muito mais conhecimento, know-how e bom gosto que os outros. A diferencia&ccedil;&atilde;o, para estas pessoas, situa-se no como compra, e n&atilde;o no que compra - pois, afinal de contas, os consumidores de luxo compram praticamente os mesmos produtos e marcas.</p> <p><span class="subtitulomateria">Qual valor simb&oacute;lico o luxo representa para as pessoas que o consomem e para os que n&atilde;o consomem?</span><br />Para os que consomem, luxo &eacute; essencialmente um prazer, uma forma de se presentear. Para os que n&atilde;o consomem: uma pesquisa realizada na Fran&ccedil;a mostra que luxo &eacute; sin&ocirc;nimo de atributos muito semelhantes &agrave;queles levantados pelos que compram estes produtos, &agrave; exce&ccedil;&atilde;o de um elemento: condena&ccedil;&atilde;o moral. Para os que n&atilde;o compram, &eacute; moralmente conden&aacute;vel dispender quantias elevadas em objetos sup&eacute;rfluos, "enquanto h&aacute; quem passe fome no mundo". Para os que compram, os brasileiros entre eles, n&atilde;o h&aacute; rela&ccedil;&atilde;o entre uma coisa e outra; o consumo &eacute; uma decis&atilde;o individual e que n&atilde;o exclui sensibilidade social e solidariedade, expressas de outras maneiras por estas pessoas (trabalho volunt&aacute;rio, doa&ccedil;&otilde;es, etc.).</p> <p><span class="subtitulomateria">Qual &eacute; a sua opini&atilde;o sobre o Mastige, a produ&ccedil;&atilde;o do luxo em escala?</span><br />&Eacute; a tentativa (inteligente) de estender a l&oacute;gica do luxo para outros mercados e em maior escala. O que realmente diferencia as marcas de luxo n&atilde;o &eacute; necessariamente a tradi&ccedil;&atilde;o e a qualidade dos seus produtos, ou algo do g&ecirc;nero. &Eacute; a capacidade de terem se tornado marcas de refer&ecirc;ncia em seus mercados - adquirindo, assim, uma "autoridade de gosto", segundo a qual todo e qualquer item fabricado por essas empresas &eacute; sin&ocirc;nimo de eleg&acirc;ncia, sofistica&ccedil;&atilde;o e qualidade. O Mastige &eacute; uma evolu&ccedil;&atilde;o inteligente sobre esse princ&iacute;pio: a partir de marcas fortes e com apelo de qualidade e sofistica&ccedil;&atilde;o, lan&ccedil;am-se uma s&eacute;rie de produtos que, ao inv&eacute;s de serem de luxo, s&atilde;o, em sua maioria, de massa, acess&iacute;veis &agrave; boa parte da popula&ccedil;&atilde;o.</p> <p><span class="subtitulomateria">As Havaianas virou refer&ecirc;ncia para todas as classes. Existem modelos de R$ 6,90 e de R$ 6.900,00 ou mais em co-brand com Channel, por exemplo. Ela est&aacute; tanto no mercado popular como no de luxo. At&eacute; que ponto essa aparente contradi&ccedil;&atilde;o faz bem a&nbsp;marca? </span><br />Na verdade, a Havaianas manteve-se um produto popular. A diferen&ccedil;a &eacute; que conseguiu, via reposicionamento, legitimar seu uso tamb&eacute;m nas classes sociais mais altas, tornando-se um item de moda, reflexo de uma postura descolada. O fato de haver um ou outro exemplar comercializado como item de luxo - pela Chanel ou pela H. Stern, que seja -&nbsp; trata-se mais de uma t&aacute;tica para reafirmar a posi&ccedil;&atilde;o da marca do que propriamente um ingresso no segmento luxo.</p> <p><span class="subtitulomateria">O mercado de luxo tem uma din&acirc;mica muito almejada por toda a ind&uacute;stria de consumo, pois ela &ldquo;forja os desejos do consumidor&rdquo;. Explique melhor como isso funciona na pr&aacute;tica.</span><br />Como se constr&oacute;i uma marca de luxo? Via de regra, &eacute; assim: produz-se algo com algum diferencial (est&eacute;tico, mat&eacute;ria-prima, forma de produ&ccedil;&atilde;o, etc). Este produto &eacute; submetido aos "&aacute;rbitros de gosto" que existem em qualquer mercado. No caso da moda, s&atilde;o as Vogues da vida; em outros, s&atilde;o os consumidores do topo da pir&acirc;mide. Uma vez tendo sido aprovada neste c&iacute;rculo de autoridade, a marca passa a ser associada a atributos do tipo "eleg&acirc;ncia", "sofistica&ccedil;&atilde;o", "extravag&acirc;ncia", "ostenta&ccedil;&atilde;o", etc. E adquire legitimidade perante os consumidores, virando referencial para todo o restante da ind&uacute;stria: o que esta marca fizer torna-se, de imediato, sin&ocirc;nimo de qualidade, sofistica&ccedil;&atilde;o, etc. A marca torna-se, assim, uma autoridade. E como toda a autoridade, embora possa ser contestada, &eacute; ouvida e seguida. Define o que &eacute; bom, o que &eacute; ruim, o que &eacute; bonito e o que &eacute; feio. Diz o que &eacute; moda e o que &eacute; fora de moda. Ela se torna o par&acirc;metro da ind&uacute;stria, do mercado. Os consumidores buscam nas marcas referenciais do que seja bom e ruim, certo e errado; e as marcas de luxo s&atilde;o as que melhor incorporam este papel.</p> <p><span class="subtitulomateria">Por que s&oacute; um artigo de luxo &eacute; capaz de dar prazer &agrave;s pessoas? Claro que muitas mulheres ficam satisfeitas quando compram uma bolsa, mas ela vai ficar muito mais se for uma Luis Vuitton. </span><br />N&atilde;o &eacute; verdade que s&oacute; produtos de luxo d&ecirc;em prazer &agrave;s pessoas. Uma caracter&iacute;stica do prazer &eacute; justamente o de ser particular, pessoal; difere de indiv&iacute;duo para indiv&iacute;duo. Algu&eacute;m pode ter prazer consumindo itens populares, ou mesmo n&atilde;o consumindo nada; outros, podem ter prazer s&oacute; consumindo produtos caros. H&aacute; quem simplesmente n&atilde;o ligue para itens de luxo, mesmo tendo recursos econ&ocirc;micos para consum&iacute;-los. Fosse o prazer uma propriedade exclusiva do luxo, e o mercado popular n&atilde;o teria o apelo que tem.&nbsp;</p> <p><span class="subtitulomateria">Muitos especialistas dizem que Marketing n&atilde;o cria necessidade. E o marketing do luxo, cria? </span><br />N&atilde;o cria necessidades nem desejos. Apenas oferece produtos e servi&ccedil;os que atendam a necessidades e desejos. No luxo, n&atilde;o &eacute; diferente. No caso, o luxo atua na esfera do desejo, principalmente, pois o desejo diz respeito &agrave; obten&ccedil;&atilde;o de prazer, enquanto a necessidade refere-se a estados de car&ecirc;ncia que precisam ser supridos, em nome da sobreviv&ecirc;ncia. Como os produtos de luxo n&atilde;o s&atilde;o adquiridos para cumprir uma determinada fun&ccedil;&atilde;o - ex: cobrir o corpo, no caso da roupa; guardar objetos, no caso da bolsa -&nbsp; e sim para oferecerem prazer (est&eacute;tico, sensorial, etc.), s&atilde;o itens de desejo, principalmente.</p> <p><span class="texto_laranja_bold">Acesse</span><br /><a href="http://www.precisarnaoprecisa.com.br" target="_blank">www.precisarnaoprecisa.com.br</a></p>
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