Não raro, a figura dos gamers se encontra atrelada a uma série de percepções e estereótipos que desenham a imagem de indivíduos solitários, entregues a incontáveis horas de jogatina e propensos a um estilo de vida sedentário. A realidade, no entanto, se prova muito distante dos pré-conceitos enraizados pelo tempo - e alça os gamers a uma posição importante para a estratégia de empresas que desejam ocupar espaços em um mercado que deve movimentar 204 bilhões de dólares em 2023.
Dados levantados pela Pesquisa Game Brasil indicam que o cotidiano dos gamers envolve opções de lazer e entretenimento que vão além dos games. Os números da pesquisa apontam que 62,9% dos gamers entrevistados frequentam academias quatro ou mais vezes por mês, 64,8% dos jogadores têm de um a três pets e 26,2% vão ao cinema pelo menos uma vez por mês. Além disso, 62% têm o costume de acessar o Spotify e 53,5% consomem pizza frequentemente.
Nesse cenário, as marcas não-endêmicas - que não são nativas do universo dos jogos eletrônicos - podem mapear gamers que consomem os seus serviços e desenvolver estratégias sólidas para estabelecer a sua presença na comunidade gamer. “Uma das melhores estratégias é a criação de parcerias com influenciadores e personalidades do cenário gamer, para que eles possam promover os produtos ou serviços das marcas em seus canais”, afirma Cynthya Rodrigues, Co-founder da G4B, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Afinal, de que maneiras as marcas não-endêmicas podem se relacionar com o universo gamer? Confira a entrevista com a executiva.
Mundo do Marketing - Sabendo que o universo dos games detém a maior parte do tempo dos gamers, e que as empresas precisam estar onde os clientes estão, quais são as melhores estratégias para que as marcas não-endêmicas obtenham acesso a esse ambiente? Cynthya Rodrigues: As empresas podem patrocinar eventos, times e criadores de conteúdo. Outro formato são as campanhas de mídia em portais especializados e contextuais sobre games e eSports, o que ajuda a aumentar a visibilidade da marca no meio dos gamers.
Também é possível criar conteúdo exclusivo para os gamers, tanto por meio de suas comunicações tradicionais, como pela produção de vídeos e streams que estejam alinhados com os interesses desse público e que também mostrem de forma natural e integrada a marca em questão. O mais importante é que a marca seja autêntica e se comunique de forma natural com os gamers, sem tentar forçar uma conexão que não faça sentido.
Mundo do Marketing - Como levar a representação das marcas para títulos de gêneros populares como os FPS (Tiro em Primeira Pessoa)? Cynthya Rodrigues: É importante destacar que os gamers estão em busca de uma experiência autêntica e imersiva, então as marcas precisam pensar em como podem integrar suas campanhas de forma natural e não invasiva no ambiente dos jogos. Como exemplo, já realizamos campanhas dentro do cenário de alguns mapas do Counter Strike, onde o banner aparece como um "lambe-lambe" em algumas paredes do mapa, proporcionando uma experiência super imersiva e que não atrapalha em nada a jogabilidade do usuário.
É algo que traz mais realidade e interesse do consumidor, além de ser um dos melhores formatos de awareness. É totalmente possível levar a representação das marcas para jogos de FPS e outras categorias, mas é necessário um trabalho estratégico para encontrar as melhores maneiras de fazer isso, respeitando sempre a experiência do jogador/consumidor.
Mundo do Marketing - Quanto às estratégias e as formas de abordagem, quais elementos as marcas não-endêmicas devem levar em consideração para se comunicar de maneira eficaz com o público gamer? Cynthya Rodrigues: As marcas não-endêmicas devem levar em consideração alguns elementos fundamentais para se comunicar de maneira eficaz com o público gamer, como: Autenticidade: É importante que as marcas não tentem forçar uma conexão com a comunidade gamer, mas sejam autênticas em sua abordagem e se mostrem verdadeiramente interessadas no universo dos games. Inovação: Somos movidos por novidades e tecnologia, por isso, as marcas precisam pensar fora da caixa e trazer inovações que possam surpreender e agregar valor à experiência dos jogadores. Engajamento: o engajamento com a comunidade gamer é fundamental para que as marcas possam entender suas necessidades e expectativas. Por isso, é importante estar presente nas redes sociais e fóruns de discussão, interagindo com os jogadores e ouvindo suas opiniões para conseguir pivotar suas estratégias com mais agilidade e não virar "meme", a não ser que seja algo planejado. Diversidade: a comunidade gamer é extremamente diversa e as marcas precisam estar atentas a isso, buscando representar e incluir todas as pessoas em suas comunicações. Mundo do Marketing - Atualmente, qual é a principal prateleira, no universo gamer, para a exposição de uma marca não-endêmica? Cynthya Rodrigues: A principal prateleira para a exposição de uma marca não-endêmica no universo gamer pode variar de acordo com o objetivo da campanha e o perfil do público-alvo, mas atualmente há algumas opções em destaque.
A mídia programática direcionada ao público gamer é uma estratégia interessante, pois permite que as marcas alcancem de forma mais precisa e eficaz o seu público-alvo em plataformas e dispositivos diversos. Além disso, os portais contextuais também são uma boa opção, pois oferecem conteúdo relevante e atrativo para o público gamer e podem ser utilizados para veicular anúncios de maneira estratégica. Também destaco o patrocínio de orgs e campeonatos.
Mundo do Marketing - Como as marcas não-endêmicas podem se adaptar ao universo gamer? Cynthya Rodrigues: Existem diversas estratégias que as marcas não-endêmicas podem adotar para se adaptar e alcançar o público gamer. Uma das formas é buscar parcerias com agências especializadas em publicidade gamer como a G4B para criar experiências positivas e eventos que tenham sinergia com os valores da marca e com o público-alvo. A marca também pode patrocinar jogadores e equipes de esportes eletrônicos que sejam relevantes e tenham grande alcance na comunidade gamer.
Outra estratégia é investir em conteúdo relevante para o público gamer, como tutoriais, gameplays comentados, e até mesmo programas de entretenimento voltados para jogos, que podem ser veiculados em plataformas como YouTube, Twitch ou mesmo um portal da própria marca. A mídia programática direcionada ao público gamer e portais contextuais também são ótimas opções para as marcas que buscam uma abordagem mais estratégica.
A contratação de influenciadores também pode ser uma opção interessante para as marcas, desde que haja uma boa sinergia entre o influenciador e a marca. Esses influenciadores podem ajudar a criar um storytelling mais autêntico e envolvente para a marca, além de aumentar a sua visibilidade dentro da comunidade gamer.
Mundo do Marketing - Atualmente, quais são as marcas não-endêmicas mais relevantes na percepção dos gamers? Cynthya Rodrigues: Algumas marcas não-endêmicas têm se destacado no universo gamer nos últimos anos, seja por meio de ações de Marketing bem-sucedidas ou por patrocínios a eventos e equipes de eSports. Entre essas marcas, podemos citar: Havaianas, Red Bull, Coca-Cola, BMW, Audi, Gillette, Nike, Adidas, McDonald 's, Burger King, Santander, Mastercard, além do músico Alok, pensando nele como marca. Mundo do Marketing - Os aplicativos de comida por delivery - bem como os restaurantes atendidos por eles - também são frequentemente utilizados pelos gamers. Como essas operações podem criar ativações específicas para o universo dos games? Cynthya Rodrigues: Existem diversas possibilidades para as operações de delivery adaptarem suas ativações ao universo dos games. Uma das estratégias pode ser a de patrocinar equipes ou campeonatos de eSports e oferecer promoções exclusivas para os jogadores.
Outra forma é por meio de promoções que oferecem descontos especiais em pedidos realizados durante transmissões ao vivo de jogos, incentivando os jogadores a utilizarem o serviço durante as partidas. Além disso, é possível, ainda, criar parcerias com jogos de simulação de restaurantes e bares, inserindo as marcas no cenário do jogo e oferecendo descontos especiais para os jogadores que utilizarem o aplicativo de delivery para fazer seus pedidos.
Quem está no mercado de games e e-sports
A francesa Bic faz parte do rol de empresas não-endêmicas que já estamparam a logo no mundo dos games. Em 2020, a marca patrocinou a equipe Red Canids, que disputa campeonatos de jogos conhecidos pelo público, como League of Legends e CS:GO.
Experimentando novos universos mas sem abandonar a tradição que a consagrou no país, a Bic aposta na inovação para se reafirmar no mercado brasileiro. Durante bate-papo com o Clube Mundo do Marketing, Rodrigo Iasi, Diretor de Marketing da empresa, destacou as alavancas de crescimento da marca e ressaltou a importância da cooperação em uma operação global. Venha para o Clube Mundo do Marketing e faça parte da conversa!
Leia também: Publicidade e Games: mercado de E-sports oferece grande oportunidade para as marcas *Com supervisão de Priscilla Oliveira
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