Havia um menino nascido no interior de São Paulo que, sempre muito tímido, ficava a maior parte do tempo sozinho em casa, enquanto seus irmãos iam à escola. Seu principal companheiro, amigo e inspirador, era o personagem Mickey, que surgia dos gibis que ele comprava nas bancas de jornais.
Mickey era mais do que um personagem de entretenimento, o exemplo de como é possível ser especialista em algo, ter ousadia, roubar a cena dos demais, vencer seus medos e desafios, o herói que aquele menino sonhava em ser.
Chegou a ter um cachorro, imaginando que, assim como o Mickey tem o Pluto, seria o primeiro passo para uma mudança radical. Conseguiria ser “sapeca” e ágil como o rato mais famoso do mundo.
Esse menino sou eu.
A coragem do Mickey em se expor e conquistar espaços, guiou alguns de meus passos, mas eu mantinha essa motivação em segredo, com vergonha de ser julgado. Fui diversas vezes à Disney e comprei vários itens do Mickey, que ficaram guardados sem uso.
Em determinado momento, como muitas pessoas, um fato externo foi um divisor de águas para mim: a morte do meu pai. Reabri o baú (literalmente) onde mantinha guardado dezenas de gibis do Mickey, alguns com mais de 40 anos, e utilizei essa potência que vejo nele para uma nova fase.
Reuni a equipe de marketing da Marco Boni e disse que iríamos trazer o personagem Mickey como licenciamento da empresa. Eu queria compartilhar com as pessoas a alegria, o poder de agregar pessoas e a percepção de expertise que acompanham o personagem mais famoso da Disney.
Ouvi da equipe que esse é o personagem mais difícil de se licenciar, por uma série de exigências e compromissos, afinal, ele é um símbolo da própria Disney. Verdade, é isso tudo mesmo. Mas eu queria chegar ao topo, mostrar que somos vencedores e temos know-how.
Passamos por auditorias e consultorias para poder utilizar o personagem em nossos produtos, e conseguimos. Com isso, elevamos a barra logo na largada, provamos que, além de produtos de qualidade, podemos ir além. Podemos sonhar alto como uma criança ao ler uma história em quadrinhos de seu herói favorito.
Ao lançarmos produtos licenciados com o Mickey, tivemos um salto na percepção de muitas pessoas, devido ao respaldo dado pelo personagem, assim como portas se abriram para nós. Aquele herói da infância me ajudava a conquistar espaços.
Durante esse processo fui percebendo o quanto outras pessoas, de todas as idades, são apaixonadas pelo Mickey. Usam camisetas em locais públicos, têm diversos utensílios, colecionam itens. Ao descobrirem minha paixão, pessoas se aproximaram. Ganhei uma bola de golfe do Mickey que pertencia a uma pessoa, mas ela achou que seria mais importante para mim do que era para ela.
Percebi que há personagens que atingem pessoas sem barreiras de idade, classe social, gêneros e países. São universais e atemporais.
Eu poderia ter lançado esses produtos antes? Talvez sim, mas não sei se eu e a empresa estávamos prontos para isso. Acredito que fizemos no momento certo, porque os resultados têm sido tão sensacionais que é difícil acreditar que poderiam ter sido melhores antes.
Outro dia vi uma pessoa escovar seus cabelos com uma escova Marco Boni do Mickey dentro do avião. Aquilo é especial para mim, porque tenho certeza de que essa pessoa comprou aquele produto porque deu brilho nos olhos dela, despertou algo muito bom dentro dessa pessoa.
Marketing para mim passa por isso, não é só vender produtos ou narrativas, é oferecer experiências inesquecíveis em pequenos momentos do dia a dia. É despertar e reviver dentro das pessoas os momentos mágicos e especiais que todos nós carregamos, mas ficam guardados dentro de baús da vergonha e da autocrítica da vida adulta.
E o licenciamento é um caminho inegável para essas conquistas.
Viva o Mickey!
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