Existe um fenômeno curioso acontecendo nos últimos anos no mercado corporativo: de repente, todo evento resolveu que não quer mais ser chamado de evento. Agora é festival. Festival disso, festival daquilo, festival de liderança, festival de inovação, festival de cultura, festival de qualquer coisa que pareça mais moderna e mais instagramável. Aparentemente, a esperança é que, trocando o nome, a experiência automaticamente evolua para outro patamar.
Só que tem um pequeno problema. Um problema que ninguém gosta de admitir, mas que explica porque tantos “festivais” começam promissores e terminam com a mesma energia de workshop obrigatório de fim de ano: o nome não muda a experiência. A experiência muda o nome.
É aqui que muita gente derrapa. E derrapa feio. Existe uma crença infantil de que, se você trocar o rótulo, o conteúdo se adapta. É quase como o RH que decide se chamar Time de People, mas mantém exatamente a mesma estrutura, a mesma mentalidade e os mesmos conflitos internos de sempre. É uma troca estética, não estratégica. Uma maquiagem sem transformação real. Parece novo, mas continua igual.
O que cria diferença não é a nomenclatura. Não é o logo. Não é o conceito “instagramável”. É o que você entrega para as pessoas e para as marcas. É o impacto vivido, não o impacto prometido. É a sensação de pertencimento, de utilidade, de transformação, de conexão e de relevância que você gera em quem está lá, dedicando os dois recursos mais finitos que existem: tempo e dinheiro.
Eu costumo dizer que um evento é como uma teia. E, como toda boa teia, não funciona se um fio estiver frouxo. Tudo precisa estar conectado de forma intencional. O que sustenta a estrutura não é a palavra “evento”, “festival”, “convenção”, “imersão”, “summit” ou qualquer outro nome da moda. O que sustenta é a experiência. A experiência é o centro gravitacional que faz as pessoas quererem vir, estar, permanecer e voltar. E isso, meu amigo, não se finge. Ou você entrega, ou você entrega. Não existe meio-termo.
Na minha teia de aranha, alguns fios são indispensáveis. E o primeiro deles, talvez o mais importante, é a curadoria de conteúdo.
Curadoria não é escolher palestrante famoso. É entender o que o RH vive
Curadoria não é sobre escolher nomes “quentes”, nem palestrantes que vão gerar foto bonita. Curadoria é sobre estar inserido no ecossistema. É sobre conviver com o RH de verdade, não aquele RH idealizado, gourmetizado ou romantizado. É sobre entender as dores e delícias de ser RH no Brasil, sem filtros e sem glamour. Porque só assim você entrega conteúdo que faz sentido para quem está ali buscando respostas.
E aí eu sempre me faço — e faço para as pessoas — três perguntas que, para mim, são o eixo de tudo:
1. Você sabe a meta da sua empresa?
Porque, se você não sabe, a verdade é dura: você não sabe o que está fazendo. Como alguém trabalha sem saber a meta? É como jogar um jogo sem entender as regras.
2. Qual é o seu objetivo?
Você quer ser um analista bem pago? Um gestor de destaque? Um CHRO? Um CEO? Você quer crescer, manter, transformar ou transitar? Objetivo define rota. Sem objetivo, você vira multidão.
3. Quais são os três problemas que você precisa resolver nos próximos meses?
Não nos próximos anos, mas nos próximos meses. Porque são esses problemas que você deve levar para dentro de um evento. São esses problemas que devem guiar seus passos até os estandes das marcas. E, se você não fizer o vendedor suar, você está indo embora com menos do que deveria.
E digo mais: enquanto o evento acontece, eu pergunto sempre as mesmas coisas para quem está lá, seja participante, palestrante ou patrocinador:
“Tá gostando?”
“Fez sentido para você?”
Porque, se eu recebo um “sim” nos dois casos, significa que cumpri meu propósito. Significa que honrei o investimento de quem está comigo. E significa que o evento não é uma vitrine, mas uma experiência viva, que faz diferença para pessoas reais.
E aqui entra a parte mais engraçada (ou trágica, dependendo da perspectiva): o que isso tem a ver com chamar de festival?
Tem tudo.

Festival, pra mim, é Rock in Rio. Lollapalooza. The Town
Festival é aquele espaço onde você vai para se divertir, viver música, se jogar na multidão, carregar o próprio peso de brinde, escolher qual Dunkin’ Donuts da fila está menor e dançar sem pensar no dia seguinte. Festival é entretenimento. Festival é caos organizado. Festival é pular, cantar, berrar e voltar rouco para casa.
E aqui vem a frase que ninguém gosta de ouvir:
Festival não foi criado para você aprender. Evento corporativo foi.
E quando eu vejo gente tentando transformar evento corporativo em festival na tentativa de parecer mais moderno, mais jovem, mais “cool”, eu só penso: está confundindo propósito com estética. Está invertendo função com embalagem.
E o pior: festival não é necessariamente sinônimo de boa experiência.
Aliás, sejamos sinceros: em boa parte dos festivais, experiência é justamente o que falta. Fila gigante, banheiro inoperante, áudio estourando, comida cara e uma logística que desafia a paciência até dos iluminados da meditação. Você vai porque ama música, não porque ama a experiência.
Agora imagine alguém replicando esse modelo em um contexto corporativo, acreditando que trocar o nome cria magia. Não cria. Porque o objetivo de quem participa de um evento corporativo não é o mesmo de quem vai a um festival. As expectativas são diferentes, o contexto é diferente, o propósito é diferente.
Participante de evento corporativo quer:
• aprender
• se conectar
• resolver problema
• descobrir solução
• ter insight
• gerar negócio
• expandir repertório
• tomar decisões melhores
• fazer networking útil
• avançar profissionalmente
Participante de festival quer:
• diversão
• música
• memória afetiva
• foto icônica
• adrenalina
• catarse
Então me diga: por que exatamente trocar o nome faria a experiência ser melhor? Não faz.
A experiência não nasce da nomenclatura. A experiência nasce da intenção
A intenção orienta o desenho da jornada. A jornada define os pontos de contato. E os pontos de contato determinam como as pessoas se sentem. É simples, mas muita gente complica — ou pior, ignora — achando que “conceito vende”. Conceito vende quando a entrega acompanha. Do contrário, é só fumaça.
A verdadeira experiência de um evento nasce:
• da curadoria
• da logística
• da jornada do participante
• da jornada do patrocinador
• do cuidado nos detalhes
• da clareza sobre o propósito
• da coerência entre discurso e prática
• da responsabilidade com o tempo e o dinheiro das pessoas
• da conexão real com os problemas que o público precisa resolver
É aqui que está o diferencial. É isso que faz alguém sair de um evento dizendo “valeu a pena”. Não é o nome. Não é o buzzword. É a entrega. Sempre será a entrega.
E antes que alguém pergunte:
“Mas então nunca pode chamar de festival?”
Pode. Claro que pode. Desde que faça sentido. Desde que esteja conectado ao propósito. Desde que não seja só uma tentativa desesperada de parecer moderno. Desde que a experiência acompanhe o conceito.
Porque, na prática, existe uma diferença gigantesca entre ser festival e querer parecer festival.
Ser festival exige coerência.
Parecer festival exige só coragem de trocar a arte no Canva.
No fim, tudo se resume a uma única pergunta:
O que você quer que as pessoas sintam quando saírem do seu evento?
Porque o nome é só o primeiro contato. A experiência é tudo que vem depois.
E se o depois não for memorável, o nome não salva. Nunca salvou. Nunca vai salvar.
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