Nos últimos anos, temos observado uma mudança significativa nos hábitos de consumo, impulsionada por uma preocupação maior dos consumidores com sustentabilidade e também pela inflação e alto custo de compra em alguns setores do varejo. Com isso, o “resale”, ou seja, a compra e venda de produtos usados, começou a ganhar espaço. Alugar e comprar produtos começou a ser valorizado e uma escolha inteligente. E podemos ir além. Em 2016, se você perguntasse para um grupo de consumidores se eles comprariam produtos usados, 32% responderiam que sim. Atualmente, esse número subiu para 92%.
Neste mês de junho, considerado o Mês do Meio Ambiente, a popularização do termo fica ainda mais latente, pois essa estratégia está se fortalecendo e tem se tornado cada vez mais uma alternativa para o varejista. Este foi, inclusive, o principal tema abordado durante a NRF de 2023. Mas, afinal, como as marcas podem aproveitar o “resale” para vender mais?
O resale é o processo de revenda de itens usados, que podem variar desde roupas, calçados e acessórios, até eletrônicos, móveis ou artigos esportivos. Essa prática permite que os consumidores deem uma nova vida a produtos que não utilizam mais, ao mesmo tempo em que oferecem a oportunidade para outras pessoas adquirirem esses itens a um preço mais acessível do que quando novos.
Mas a principal justificativa para que os produtos que já foram utilizados retornarem às prateleiras é justamente o apelo por sustentabilidade e consumo consciente, já que a prática faz parte de uma estratégia de economia circular, ou seja, produtos que não dependem de matéria-prima virgem e priorizam insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis em sua fabricação.
O Estudo B #3, desenvolvido pela plataforma jornalística Economia B no início deste ano, já mostrou que 47% dos consumidores estão mais propensos a escolher uma marca se ela traz benefícios para as pessoas e para o planeta. Além disso, 61% gostam de comprar de marcas que têm um propósito que vai além de apenas vender produtos e serviços. E este é o ingrediente que faz do resale uma iniciativa tão potente.A Thredup, maior loja online de artigos usados do mundo, compartilhou recentemente um relatório que evidencia o sucesso dessa estratégia. De acordo com o estudo, em 2022, 1 em cada 3 itens de vestuário comprados nos Estados Unidos foram de segunda mão. Os números são impressionantes: a revenda online deve atingir 38 milhões de dólares até 2027 e, nos próximos 10 anos, o mercado vai alcançar cerca de 90 milhões de dólares - crescendo mais rápido do que qualquer outro canal.
Mas, o que podemos esperar dessa tendência no varejo brasileiro? A Reserva é um caso de sucesso nesse sentido. Em 2020, a marca assinou contrato com a startup TROC, voltada para a revenda de peças. Hoje, suas lojas físicas recebem peças usadas em bom estado e cada peça vale um desconto de 20% na compra de uma nova.
Além disso, outras marcas tradicionais, como a própria Arezzo, estão percebendo o potencial do resale e começaram a lançar programas de recompra, onde os clientes podem devolver produtos usados em troca de crédito ou descontos na compra de novos itens. Essa abordagem não apenas estimula a fidelidade dos clientes, mas também fortalece a imagem da marca como uma empresa preocupada com a sustentabilidade.
Vale destacar, inclusive, que as empresas que optem por trabalhar essa estratégia tenham uma identificação com a agenda de ESG e que sejam coerentes em suas ações para que não seja vista de maneira oportunista ou meramente comercial. Afinal, os consumidores têm estado cada vez mais atentos ao “green wash” que algumas empresas ainda insistem em apresentar.
De acordo com a WD Partners, na visão dos clientes, os aspectos que determinam a compra “resale” envolvem preço, com 42%, meio ambiente, com 28% e 30% escolhem produtos interessantes que não são mais vendidos. Por isso, não tenho medo de afirmar que essa tendência não tem mais volta. O resale tem se tornado uma das melhores formas para atrair fluxo e aumentar a cesta de valor de produtos para as marcas e um importante recurso da economia sustentável. O cliente espera que os varejistas estejam, cada vez mais, preparados para essa mudança.
*Tiago Mello, CPO e CMO da Linx
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