Autor: Indio Brasileiro Guerra Neto
Já ouviu falar em Ragnarok? Não? é um país onde a vida corre seu curso normalmente. Seus habitantes ganham e gastam dinheiro, conversam, fazem amigos, namoram, divorciam, enfim, cada qual segue seu destino. Um destino virtual. Ragnarok é um game on-line baseado em um mangá que, em um ano, arrebanhou uma comunidade impressionante de 900 mil jogadores brasileiros.
Conectados uma média de 45 horas por mês, esses personagens feitos de bits e bytes jogam juntos, relacionam-se e acabam ganhando, por assim dizer, uma vida própria na Internet. Ao mesmo tempo em que vivem virtualmente em Ragnarok, estes mesmos jogadores realizam várias outras atividades dentro de uma sociedade digital - conversam pelo MSN, organizam comunidades no Orkut e grupos de discussão, criam fotoblogs e blogs, buscam empregos, oportunidades e contatos profissionais nos sites de network.
Por que um jogo on-line como o Ragnarok conquistou tantos brasileiros em tão pouco tempo? A resposta está no sucesso que as ferramentas de relacionamento fizeram por aqui desde os primórdios da Internet. Não é muito difícil explicar o porquê do relacionamento digital ser a preferência nacional entre os internautas. Em entrevista a um jornal brasileiro, Orkut Buyukkokten, o criador do Orkut, onde os brasileiros são, a propósito, a esmagadora maioria dos usuários, arrisca que “talvez seja cultural, tenha a ver com a personalidade de vocês, que são conhecidos como um povo amigável”.
O palpite do Mister Orkut é bem certeiro. Os serviços baseados no marketing viral, nos quais um usuário convida outro a se cadastrar para integrar uma comunidade e ficar aberto para assumir uma vida digital, crescem na Internet brasileira na velocidade da luz. E mantêm seus usuários conectados por cada vez mais tempo em detrimento de outras mídias, como a TV, o rádio, os jornais e revistas, que deverão seguir sua predestinação da convergência.
Além de sermos os recordistas nas comunidades virtuais, somos também os campeões no tempo de uso da Internet com uma média de 17h59 por mês em dezembro passado, na frente, segundo o Ibope/Net Ratings, de nações como Estados Unidos, Japão, Austrália, França e Alemanha, entre outros países desenvolvidos.
Mas, em se tratando de tecnologia, a análise mais adequada dos números é sempre a futurista. Porque, se podemos dizer que já somos o povo mais aficionado pela Web e os mais dispostos a investir nosso tempo navegando na rede, por outro lado os privilegiados que têm acesso em casa correspondem a apenas cerca de 11% da população.
No ano passado, o número de computadores vendidos no Brasil chegou a 5,5 milhões, um crescimento de 36% em relação ao ano anterior. De acordo com o IDC, os PCs já estão presentes em 17% das residências brasileiras – percentual ainda tímido se comparado aos 60% nos Estados Unidos. Um impulso poderá vir com os R$ 34,5 milhões liberados pelos BNDES para redes varejistas financiarem PCs populares com preços reduzidos.
Considerando a tendência de toda tecnologia de queda de preços - e o PC não irá fugir à regra – há, evidentemente, um universo enorme de brasileiros que ainda irá cair na teia da Internet. E quando caírem, os “sem-conexão” também irão, como já fazem os “com-conexão”, relacionar-se virtualmente com um jogador de Ragnarok ou com um novo amigo no Orkut. Mas também irão se relacionar, como no mundo real, com empresas e marcas, outro fator inevitável em um centro comercial onde não há fronteiras e os concorrentes, inclusive os internacionais, estão a apenas um clique de distância.
O número de empresas de todos os portes e de todas as áreas que entra na Internet brasileira a cada dia tem, da mesma forma, um placar incessante. São companhias que já perceberam ser um risco à sobrevivência estar fora de um universo que, se ainda não gera um volume de vendas on-line massivo na comparação com o varejo dos shoppings e supermercados, já é um endereço obrigatório e muito útil para seus clientes saberem mais sobre produtos e serviços, comparar preços e encontrar o melhor negócio. Porém a concorrência pode ser vencida por um competidor com um planejamento estratégico digital de marketing e vendas mais agressivo.
Não é à toa que as empresas ocupam dia após dia mais espaços nas páginas da Web com seus sites institucionais ou de e-commerce, criam blogs para atender seus consumidores, formam comunidades em torno de suas marcas, investem em campanhas on-line e de links patrocinados. Afinal, não há quem possa, em sã consciência, ser cético em relação ao crescimento da sua vocação também como um canal de vendas.
Lembro ter havido quem duvidasse de uma vida pródiga para o Submarino, que, vale lembrar, nasceu exclusivamente no mundo Web. E ainda há varejistas, alguns grandes, inclusive, que não abriram seus PDVs na rede. Mas estes devem estar atentos ao inexorável. Novos consumidores estarão, pouco a pouco, prontos para entrar na sua loja pela porta digital. E são consumidores de baixa renda, fiéis e que pagam em dia seus carnês financiados em muitas parcelas. Resta então saber: quem será a Casas Bahia da Internet? Façam suas apostas.
COMPARTILHAR ESSE POST