As discussões em torno do potencial revolucionário da Inteligência Artificial Generativa e suas repercussões na sociedade novamente tomaram conta do terceiro dia do Web Summit Rio. Um dos principais questionamentos levantados foi sobre qual será o papel das pessoas nesse novo contexto em que máquinas superam a capacidade humana de produção.
Resumindo as conversas do dia, três respostas se destacaram. A primeira chamou atenção para a importância da criatividade. Com a alta capacidade produtiva das máquinas, o papel humano passa a ser o de direcionar o que e como a IA irá criar. Seremos responsáveis por dar o input e acrescentar o toque final. A criatividade humana será crucial para dar originalidade ao que é produzido. Neste texto, por exemplo, uma primeira versão das minhas anotações foi submetida ao ChatGPT. Eu precisei editar o material resultante, reescrevendo alguns trechos e finalizando para publicação.
O meu tom de voz se diluiu um pouco, alguns trechos ficaram muito resumidos e houve partes em que o Chat GPT cometeu erros de interpretação. Mesmo assim, eu diria que a velocidade de produção foi bem maior.
A segunda resposta, já debatida nos dias anteriores, apontou para a necessidade de humanizar os ambientes, os processos e as relações. Nos últimos anos, temos testemunhado um significativo aumento dos problemas de saúde mental devido à intensa vivência no ambiente digital. Mas as empresas ainda estão olhando pouco para isso.
Para se ter uma ideia, em um estudo feito na plataforma Cortex, que analisou mais de 3 milhões de oportunidades abertas no primeiro trimestre nos 15 principais portais de vagas do país, identificamos que menos de 6% das vagas mencionam termos referentes aos cuidados com a saúde mental. No entanto, com o avanço da IA, a carência das pessoas por experiências concretas, relacionamentos físicos e interações humanas crescerá ainda mais.
O terceiro aspecto abordado sobre o impacto da IA não traz necessariamente respostas, mas busca substituir o medo de possíveis perdas de profissões pela expectativa de surgimento de novas oportunidades. Foi usada a metáfora da revolução industrial 5.0. A ideia aqui é a de que nas revoluções industriais anteriores, embora algumas profissões tenham sido extintas, foi ainda maior o surgimento de novas oportunidades de trabalho e negócios. O mesmo aconteceria agora. Independente do quão certeira será essa previsão, o que ficou claro, para mim, é que não podemos nos acomodar. Precisaremos aprender a incorporar a IA Generativa ao nosso trabalho, pois todas as profissões passarão por mudanças significativas.
O que se espera das lideranças
Quando o assunto foi liderança, as recomendações não se restringiram ao aspecto do olhar mais humanizado e sensível às necessidades emocionais de membros de times. Mikayel Vardanian, founder e CEO da Picsart, destacou que não existe apenas um tipo de liderança requerido hoje. Depende do perfil e do momento da empresa. Para ele, quanto maior é a empresa mais importante se torna a habilidade do líder de manter viva e ativa a cultura da empresa.
Adorei quando Vardanian ressaltou a necessidade de se manter uma mentalidade MVP. No mundo da inovação, a incerteza é constante, e os líderes devem conduzir a evolução de seus trabalhos por meio da geração e teste de hipóteses de produtos ou processos de negócios. Ele também mencionou a importância de acompanhar tendências, ter uma visão holística e ser capaz de ouvir ativamente os clientes. Nesse sentido é importante escolher bem alguns clientes estratégicos e bem representativos, para entender minuciosamente como o seu produto que se está vendendo vai afetar a vida e as rotinas do cliente.
Design de experiência nos universos físico e digital
Na que foi talvez a mesa mais interessante do dia, os designers Brian Collins, da Collins, e Dan Gardner, da Code and Theory, discutiram o design de experiência hoje. Incitados pela excelente condução feita por Sara Fischer, da Axios, os dois se posicionaram como polos diferentes no embate entre a evolução da experiência dentro do universo digital e a necessidade de ampliação da experiência no mundo físico. As visões de mundo distintas e as perguntas provocativas da mediadora proporcionaram alguns insights interessantes.
Brian Collins, que argumentou pelo lado das experiências físicas, apelidou a inteligência artificial de inteligência alienígena.
Já Gardner abriu a sua fala argumentando o quanto a inteligência artificial habilita aprendizados, práticas e relações humanas. Para ambos, a tecnologia está trazendo mudanças de comportamento, e a tendência é que esse fenômeno se amplie cada vez mais. Os dois destacaram ainda a importância de que sempre seja claro quando se está falando com um robô. Para eles, as necessidades e desejos estão mudando, e as empresas precisam ouvir as novas demandas para se adaptar a elas.
Sempre muito enfático quanto ao papel da fisicalidade na geração de conexões humanas, Collins afirmou que o digital limita as sensações, já que a maior parte dos sentidos humanos não está no digital. Isso aumenta o poder da experiência física para gerar a resposta emocional que as marcas anseiam. Para ele, é preciso ser original para poder encantar e surpreender. Collins argumenta que com a inteligência artificial estamos superando a era da habilidade e entrando na era do pensamento criador. Nessa visão, o designer não deve mais ser percebido como problem solver, mas como um problem seeker.
Gardner por sua vez prefere dar destaque ao crescente espaço que o universo digital ocupa nas nossas vidas contemporâneas. Ele argumenta que os pontos de contato já estão mudando e vão continuar a mudar. Serão cada vez menos físicos e mais digitais. Argumenta que o que a IA está trazendo é uma possibilidade de potencializar três dimensões da experiência profissional: tático, clientes e relações. Ele conclui que ainda estamos dando os primeiros passos de tudo aquilo que a inteligência artificial pode trazer ao mundo real. Rumos da tecnologia em 2024
Encerrando o meu dia, presenciei uma mesa de discussão sobre os rumos da tecnologia em 2024. Foi ressaltado que a IA Generativa ainda está em estágios iniciais, mas evoluindo rapidamente, oferecendo um vasto campo de possibilidades a serem exploradas no próximo ano. No que diz respeito às oportunidades para empreendedores tecnológicos, foi destacado o vasto leque de desafios presentes na América Latina, os quais podem ser solucionados por meio de novas soluções tecnológicas.
No entanto, os investidores agora estão mais cautelosos ao decidir onde investir seu dinheiro. A compreensão geral é de que o foco será em empresas que efetivamente resolvam problemas importantes, visando eficiência e lucratividade. Na América Latina, a questão ambiental e climática tem sido um grande vetor de interesse para esses investidores.
Em suma, o terceiro dia do Web Summit Rio trouxe discussões mais intensas sobre a IA Generativa e seu impacto na sociedade e no trabalho. O papel das pessoas, a importância da criatividade, a humanização dos ambientes e a necessidade de adaptação foram tópicos centrais. As lideranças precisam desenvolver habilidades adequadas ao novo contexto e o design de experiência enfrenta o desafio de equilibrar o mundo físico e digital. As expectativas para o futuro da tecnologia e as oportunidades para empreendedores também estão se revelando diante dos nossos olhos. A tendência é que tenha sucesso quem apostar na solução de problemas relevantes e no atendimento às demandas emergentes da sociedade.
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