A recente decisão da Meta de encerrar as atividades dos filtros em suas plataformas dividiu opiniões e lançou luz sobre questões que vão muito além da estética digital. Para muitos, especialmente a Geração Z, os filtros não eram apenas uma ferramenta de edição - talvez uma maneira de "maquiar" a realidade ou até mesmo as suas inseguranças - porém de fato um companheiro de crescimento e expressão, desde os primeiros dias do Snapchat até as últimas tendências do Instagram. Mas o que essa mudança significa para os jovens, para o mercado de redes sociais e para a economia digital?
Para entender o impacto dessa decisão, é essencial reconhecer o papel que os filtros desempenharam na vida das gerações mais novas. Desde a época do Snapchat, os filtros evoluíram de simples efeitos engraçados para complexas ferramentas de modificação de imagem. Eles permitiram que os usuários se transformassem, expressassem emoções e criassem uma persona digital que, em muitos casos, diferia significativamente de sua realidade física.
No entanto, esse poder de transformação também gerou controvérsias. Diversos estudos apontam que o uso excessivo de filtros pode distorcer a autoimagem e alimentar inseguranças. De acordo com uma pesquisa da American Psychological Association, mais de 50% dos jovens entrevistados afirmaram que se sentem inseguros em relação à sua aparência após usar filtros de beleza. Esse paradoxo - entre a liberdade de expressão e a pressão para se conformar a padrões de beleza totalmente irreais - acaba impactando uma série de mercados como da moda, beleza, saúde e até mesmo o de cirurgia plásticas. Nos últimos anos, o Brasil tem se consolidado como um dos líderes globais em procedimentos estéticos, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em 2023, o Brasil realizou cerca de 1,5 milhão de cirurgias plásticas, representando uma fatia significativa do mercado global.
Uma tendência observada nos últimos anos é o aumento da demanda por procedimentos estéticos que buscam reproduzir ou aprimorar os efeitos dos filtros digitais. Muitos pacientes chegam aos consultórios com fotos editadas por filtros, desejando alcançar, na vida real, o que veem nas redes sociais.
Esse foi o elemento central para o debate sobre o fim dos filtros, com a Meta saindo do jogo, o Snapchat pode se ver em uma posição privilegiada, especialmente no Brasil. Conhecido por ser o pioneiro dessa tendência, o Snapchat ainda mantém uma base de usuários dedicada que valoriza sua capacidade de inovação. É possível que, sem a concorrência da Meta, o Snapchat recupere parte de seu brilho e atraia novos usuários em busca de uma "camada a mais" no digital.
Por outro lado, o TikTok, onde os filtros continuam em expansão, pode se beneficiar do vácuo deixado pela Meta. O TikTok não apenas oferece uma vasta gama de filtros, mas também integra esses recursos de maneira que amplifica o impacto dos vídeos, potencializando a viralidade. Aí está uma oportunidade, né? Com mais pessoas migrando para o TikTok em busca de ferramentas criativas, a plataforma pode se consolidar ainda mais como a principal escolha para quem deseja usar esse recurso.
Além do impacto cultural, o fim dos filtros também traz consequências econômicas. Muitos criadores de conteúdo e designers tinham a criação e venda de filtros como recurso de monetização. Segundo um relatório da Business of Apps, o mercado de filtros gerava milhões de dólares em receita anual, com a Meta sendo uma das principais plataformas para esses criadores. Com o encerramento dessas atividades, muitos freelancers e pequenas empresas podem se ver em uma posição difícil, tendo que reavaliar suas fontes de renda e buscar novas oportunidades.
Mas talvez a questão mais profunda seja o impacto dessa mudança na autoimagem e autoestima dos jovens. Assunto 100% relevante! Sem os filtros, será que os jovens serão forçados a confrontar uma versão mais autêntica de si mesmos? Ou isso apenas criará um vazio onde a insegurança prospera? Teremos um ambiente mais saudável ou isso seria uma utopia?
A dualidade dos filtros é inegável. Por um lado, eles promovem a criatividade, muitas vezes até mesmo a diversão, permitem que as pessoas se reinventem e experimentem diferentes identidades. Por outro, podem perpetuar padrões de beleza inatingíveis e criar uma desconexão entre a realidade e a imagem projetada online. O fim dos filtros pode ser visto como um passo em direção a um ambiente digital mais saudável, onde a autenticidade é valorizada, mas também pode ser percebido como uma perda para aqueles que encontravam nos filtros uma forma de escapar das pressões do mundo real.
O encerramento dos filtros pela Meta marca o fim de uma era digital que, para muitos, foi uma fonte de alegria, criatividade e, sim, insegurança. O futuro das redes sociais será moldado por como as plataformas e os usuários respondem a essa mudança. O Snapchat pode ver um renascimento, o TikTok pode se fortalecer ainda mais, e os jovens podem ser forçados a repensar sua relação com a autoimagem.
*Pedro H. Jasmim é CEO e co-fundador do Grupo BERLINN, holding de brand solutions e agência de brand experience
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