No nosso último papo (e aqui já aproveito para pedir desculpas pelo tempo ausente!) falamos sobre a atenção e sua importância como base para tudo que fazemos. Dando continuidade às nossas conversas, hoje vamos falar sobre uma habilidade diretamente associada às nossas capacidades atencionais: a criatividade!
Desta vez, vou começar desfazendo um mito sobre como o nosso cérebro funciona. Tenho certeza que você já ouviu falar que o lado esquerdo do cérebro é o lado criativo e emocional, e que o direito é o lado matemático e lógico, e por isso pessoas com o lado esquerdo mais desenvolvido seriam mais criativas por natureza. Isso não funciona bem assim, na verdade essa é uma forma bem simplista de entender conceitos da neurobiologia, como lateralidade e assimetria e nos leva a uma conclusão distante sobre como, de fato, a criatividade pode se manifestar.
Os caminhos para o processo criativo são bem mais complexos que isso, mas vamos tentar entender como ele realmente funciona e desfazer os mitos sobre o assunto. O cérebro na verdade funciona em redes, o que quer dizer que uma série de neurônios em várias regiões são ativados de forma coordenada para produzir um determinado comportamento. Nós temos duas redes neurais muito importantes envolvidas no processo criativo: a DMN (do inglês, Default Mode Network), chamada de rede de modo padrão, mais ativa em momentos de repouso e autorreflexão e a TPN (do inglês, Task Positive Network), a rede associada à execução de tarefas e foco.
Esses nomes parecem difíceis de lembrar, mas o mais importante para você saber sobre isso é que essas redes precisam se alternar para que uma ideia surja. Sabe aquela ideia brilhante que surge quando você está no banho, distraído, antes de dormir, depois de ter passado o dia inteiro imerso em um problema aparentemente sem solução? Isso acontece graças à alternância dessas duas redes.
Vou te explicar um pouco melhor como isso acontece a partir de três etapas principais do processo criativo. Primeiro, precisamos de um momento de mais atenção, para acumular conhecimento e referências. Esse é o período que chamamos de incubação, em que a DMN está mais ativa. Depois, é necessário um tempo de distanciamento da questão, para que o conhecimento se reorganize, as novas informações se conectem com as anteriores e nosso cérebro crie novas conexões, conceitos e ideias. Essa é a fase de incubação, em que a TPN precisa entrar em ação. E é aí que vem o momento EUREKA! o momento de inspiração, quando a ideia parece surgir do nada. Na verdade, o que ocorreu é que ela nasce a partir da ativação da DMN, seguida pela ativação de TPN. Ou seja, ao pararmos e relaxarmos, possibilitamos que nosso cérebro faça o trabalho dele de maneira mais eficiente!
Na prática, podemos exercitar esse processo a partir dos seguintes passos:
Acumule referências: estude sobre o tema! Nesse momento, tudo é válido como conhecimento, textos, ideias, imagens, conversas. Faça isso diversificando o olhar, pois é importante buscarmos referências fora dos nossos padrões, isso ajuda o cérebro a ter ideias novas.
Pause, relaxe, descanse: parar é fundamental para que o cérebro funcione corretamente. Quando estamos imersos em um problema temos a tendência de não “soltá-lo” até que a solução apareça, e ficamos com a sensação de não conseguir sair do lugar. Organize pausas na sua rotina de criação e lembre-se que nesse momento mexer no celular atrapalha tudo isso, ele não deixa o cérebro pausar e fazer as suas conexões.
Se a ideia surgir, registre: a nossa memória pode nos pregar peças, então quando uma ideia vier, deixa-a registrada para que você possa voltar nela no momento adequado, principalmente se isso acontecer em momentos inusitados como o banho ou durante o sono. Por vezes, mais de uma ideia surgirá, anote tudo.
Lapide a sua ideia: o seu cérebro fez o trabalho dele e conectou todas as suas referências para gerar uma ideia, agora é hora de você fazer o seu. Trabalhe em cima da sua solução, aperfeiçoe-a, faça os ajustes necessários, teste, reflita se ela é de fato a melhor solução para o seu problema. Se houver mais de uma ideia, é interessante entender se elas se complementam de alguma forma ou quais serão descartadas nesse momento.
O segredo para potencializar seu processo criativo está no equilíbrio entre momentos de foco e de descanso. Então, da próxima vez que você estiver imerso tentando resolver um problema, lembre-se que a pausa e o descanso são tão importantes quanto focar e se dedicar a encontrar a solução!
Pegando carona nos temas já discutidos aqui, o nosso próximo papo será sobre produtividade e qualidade de vida. Já parou para pensar que são assuntos que parecem opostos, mas que deveriam fazer parte de uma mesma habilidade?! Te convido a já começar a refletir sobre o assunto e se juntar à nossa próxima conversa!
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