Nestas eleições os brasileiros veem, novamente, técnicas e táticas fortemente utilizadas no Marketing e na publicidade no campo político – algo que não é tão raro e que, inclusive, quase sempre vem junto das campanhas dos candidatos neste período. Com novos canais e ferramentas, o Marketing Político ganha novos contornos: vence aquele que cativar mais pelas redes sociais.
Novas gerações, em sua maioria, por exemplo, não assistem à televisão e noticiários, elas consomem notícias e informações por outros canais. Segundo dados da We Are Social e Meltwater, os brasileiros passam, em média, nove horas por dia conectados à internet – o que deveria fazer com que houvesse uma adaptação por parte dos candidatos para alcançar esses públicos que, certamente, já podem ser potenciais votos.
Para atender a essa nova era, as agências que cuidam das estratégias dos candidatos estão fazendo a migração das campanhas físicas para o digital. “Vemos um crescimento da importância do digital e isso se reflete no aumento da verba para essa área. Alguns candidatos estão criando sua persona digital. Outros ainda estão atrasados uns cincos anos por não investirem em conteúdo, por exemplo. Mas a cada período eleitoral, esse comportamento muda e vemos observando mais adesão”, contou Thiago Thaide Pereira, Head de Perfomance e Tráfego da agência A Máquina.
Processo que leva tempo
Em 2018, no primeiro ano eleitoral em que houve a liberação de uso de tráfego pago para o ambiente político, já foi sentido o primeiro impacto nos resultados. “Sempre que entra uma nova ferramenta, há uma resistência – principalmente de quem já está na política há muito tempo. Quando apresentamos os resultados, no entanto, do impacto de uma campanha digital versus uma barraquinha física, a mudança é aceita mais rapidamente”, pontuou Thiago Pereira.
O Head de Perfomance frisa que o corpo a corpo ainda é importante para muitos candidatos e afirma que uma pequena parcela se garante apenas em estratégias digitais. “Vimos casos de pessoas que tem um bom engajamento, bons números de seguidores, mas isso não converte votos. Houve dois ciclos eleitorais com pessoas que têm grande números de seguidores, mas não se elegeram”, pontuou.
Assim como em qualquer área de trabalho está sendo essencial uma presença digital para realizar boas vendas ou fechar contratos, na política o mesmo acontece. Há um número cada vez maior de candidatos que vem investindo alto para aumentar influência e conseguir, eleição após eleição, alcançar o cargo desejado.
Quando não se tornar um político chato?
Apesar das redes sociais serem um local perfeito para discussões políticas, ainda há muita resistência quanto a aceitar posts e anúncios de políticos. Para evitar a rejeição, Thiago reforça a importância de um bom storytelling. “O principal é entender a dor da pessoa, do público que se quer atingir. Com isso, é possível criar um conteúdo que dialogue com a vida dela e que ela queira absorver e confiar o voto dela”, pontuou.
Já Renan Cardarello, CEO da iOBEE, traz a questão de usar a linguagem das redes sociais e surfar nas trends. Ele cita o exemplo de Pablo Marçal, cujos posicionamentos e atitudes demonstram um grande esforço para conseguir materiais que podem ser divulgados em suas redes sociais e que, nesse sentido, são nítidos exemplos de ferramentas e estratégias de Marketing que são bastante úteis à política nacional.
“Atualmente concorrendo ao cargo de prefeito de SP, o candidato explora várias táticas de Marketing em sua campanha. A primeira delas é a da criação de vídeos virais – seus famosos cortes que têm a intenção de ganhar muitas visualizações na internet, tanto entre sua base de seguidores quanto por pessoas que o desconhecem. Outro ponto que também pode ser comentado por estar diretamente ligado ao processo anteriormente citado é o da busca por estar onde seu público está. Uma vez compreendido o público-alvo que mais ressona com ele e seus ideais, o candidato busca estar presente onde essas pessoas estão, a fim de impactá-las com seus conteúdos. Algo extremamente utilizado no Marketing, mas pouco efetuado por políticos no geral”, afirmou.
Ausência do X nas vésperas das eleições muda o resultado?
Para Renan, canais de compartilhamento de vídeo, como YouTube e TikTok, é algo que deveria ser muito mais explorado. Thiago Pereira reforça a importância da rede de vídeos curtos chinesa e ainda complementa com Kwai e as redes da Meta (Facebook e Instagram). “O X tem importância em campanhas nacionais, porque a distribuição não é centralizada. Mas ela, estrategicamente, não faz falta. Era importante para complementar público, mas falta não faz – em uma análise em eleições municipais”.
Para Thiago, o que de fato impactou foi a proibição do Google de anúncios de cunho político. “Essa é uma ferramenta excelente de entrega, conseguíamos trabalhar com múltiplos formatos de mídias, havia muita retenção, mas devido a nova política da companhia, não foi possível utilizar nessas eleições”, pontuou.
Tendo em vista algumas das inúmeras táticas de Marketing que podem e estão sendo constantemente utilizadas no cenário político, Renan Cardarello aponta que a atual geração de políticos que governa o país não estará preparada para lidar com este cenário em um futuro bem próximo, caso não busquem mais contato com a área.
“Um possível movimento de influencers se interessando por este tema e utilizando suas forças nas redes para a conquista de votos ou então para suas campanhas de branding está só começando, o que exigirá destes e dos futuros candidatos um olhar mais estratégico de como aproveitar ações de marketing em suas campanhas com êxito”, concluiu.
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