As gerações Alpha e Z têm forçado marcas a repensarem suas estratégias para manter relevância em um cenário onde comportamento, causas e consumo se transformam rapidamente. Ao analisar o comportamento do mercado, muito é direcionado apenas à GenZ, mas já é hora de o mercado entender que deve dar luz aos jovens da Geração Alpha, os nascidos a partir de 2010.
Eles estão moldando o futuro do consumo e transformando as estratégias de Marketing. De acordo com a pesquisa Gen Alpha Into Reality, realizada pelo grupo Alexandria, os hábitos e valores dessa geração estão exigindo uma adaptação urgente das marcas.
Hoje eles são decisores de compra ativos: 94% dos pais millennials querem que seus filhos tenham opiniões ativas sobre as decisões de compra da família, o que significa que as marcas precisam considerar as preferências das crianças ao desenvolver suas estratégias de Marketing.
Para a geração Alpha, a publicidade tradicional, marcada por interrupções, perdeu completamente a relevância. “Anúncios que invadem o que eles estão fazendo são ignorados de forma automática”, apontou o Tiago Cunha, Consultor Sênior do Grupo Alexandria, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Confira insights sobre a Geração Alpha para aplicar o quanto antes:
Publicidade imersiva
Segundo Cunha, essa é uma geração que prefere conteúdos integrados, nos quais a mensagem publicitária seja parte orgânica da experiência. “Plataformas como o Roblox ilustram essa tendência, sendo espaços não apenas para socialização, mas também para experiências interativas e educativas proporcionadas por marcas”, afirmou
Para impactar essa geração, as marcas precisam ir além de campanhas tradicionais e investir em experiências interativas, imersivas e autênticas. “Essa é uma geração que se conecta muito através de conteúdo imersivo e de novas linguagens, como games e interações digitais mais profundas”, destaca o especialista.
Expectativas das novas gerações
As questões sociais continuam relevantes, mas com nuances diferentes. Tiago Cunha afirma que a Geração Z cobra das marcas causas e questões sociais. A Alpha, por outro lado, está mais conservadora em alguns aspectos, mas muito incisiva no que cobra. Por exemplo, questões de gênero são mais naturalizadas para eles, enquanto a crise climática emerge como o ponto principal.
Essa geração não apenas internaliza a emergência climática como uma realidade, mas também demonstra um crescente interesse em trabalhar em setores ligados à sustentabilidade. Para as marcas, isso significa que mensagens de impacto ambiental não podem ser genéricas: “Não é sustentabilidade, é crise climática”, frisou.
A fragmentação cultural e o impacto nos ícones
Com a influência das redes sociais e da distribuição digital, os ícones culturais se tornaram mais fragmentados. “Antigamente, tudo era embalado e mais homogêneo, agora está mais solto. Há uma mudança de eixo cultural de Hollywood para a Coreia, por exemplo. No Brasil, temos muitos influenciadores mirins impactando essa geração”, pontuou.
Além disso, as crianças hoje têm relações mais fluídas com as gerações anteriores: “Os ícones da geração podem ser de outras gerações. Uma criança pode adorar Led Zeppelin, por exemplo”. Essa dinâmica cria desafios para marcas que antes dependiam de influenciadores para centralizar suas campanhas.
Reposicionamento constante para marcas jovens
“E essas marcas que se vendem como jovens estão sempre fazendo reposicionamento pra continuar jovens de fato, ao mesmo tempo que elas estão querendo ser jovens e as e os jovens estão querendo apelo nostálgico. Como é que encontra esse equilíbrio aí? Talvez você tenha que pensar mais em portfólio, em quais marcas ou linhas chegam a diferentes públicos, porque isso pode demandar elasticidade ou até mesmo uma nova marca.”
Uma estratégia clara é pensar no portfólio de forma a atender tanto a demandas emocionais quanto funcionais. Um exemplo disso é quando “a marca mistura benefício emocional com o funcional, trazendo indulgência com funcionalidade”, como observado no mercado de refrigerantes. Essa abordagem permite que as marcas se conectem tanto com consumidores nostálgicos quanto com os que buscam inovações.
Padrões de consumo e relevância ideológica
A geração Alpha é guiada por mais do que fidelidade às marcas; sua lealdade está atrelada a mensagens, ideologias e valores que ressoam com suas vivências. “Não é sobre a marca, mas sobre o que ela representa. A mensagem precisa ser relevante para gerar conexão”, destaca o especialista.
A nostalgia, por exemplo, é um elemento que conecta millennials e Alphas, criando pontes emocionais entre gerações. O Adidas Samba, como exemplo, transcendeu sua importância histórica para conquistar novos públicos pela tradição e pelo resgate simbólico.
As marcas que se posicionam como jovens, constantemente se reposicionam para manter essa identidade. No entanto, ao mesmo tempo em que elas querem permanecer jovens, os jovens da Geração Alpha buscam um apelo nostálgico. Como encontrar esse equilíbrio? “Talvez não seja possível ter flexibilidade ou a flexibilidade esperada, e por isso é essencial pensar estrategicamente no portfólio. Isso pode implicar em desenvolver outra marca, uma submarca, uma linha endossada ou algo semelhante, que tenha um posicionamento e adequação adequada”, afirmou Tiago Cunha.
Influenciadores virtuais e a nova relação com a autoridade
Outro ponto relevante é como essas gerações percebem os influenciadores virtuais.“Parece que isso é recebido muito mais fácil porque não há essa relação com uma autoridade por trás do influenciador. Se o influenciador virtual fala algo que faz sentido, entra no modo randômico dessa geração e é aceito com naturalidade”, contou Tiago.
Esse comportamento abre espaço para que marcas experimentem com influenciadores gerados por IA, especialmente em campanhas voltadas à Geração Alpha.
Os novos consumidores
“Os filhos da geração Millennials são criados em um ambiente de horizontalidade familiar. Não é mais uma educação impositiva, mas uma interação baseada em psicologia positiva, com diálogo e participação ativa. Isso faz essas crianças verdadeiros mini shoppers”, pontuou Tiago Cunha.
O especialista ressaltou ainda que as marcas precisam enxergar essas crianças como parte do processo de decisão de compra, ao lado dos pais. “Quando pensamos em viagem, compra de carro ou mesmo a cesta do supermercado, essas crianças estão envolvidas. Elas pesquisam, opinam e participam como nunca antes. É uma educação participativa e horizontal”, afirmou.
A influência da adultização e dos códigos visuais
Tiago aponta ainda que o conceito de infantilidade como conhecíamos não é mais o mesmo. “Os ícones de entretenimento infantil, como a Pocahontas dos anos 80, praticamente desapareceram no formato clássico. Hoje, personagens e produtos seguem um campo estético muito mais alinhado à virtualidade e às experiências digitais”, destacou.
Essa mudança tem impactado também o design de embalagens. Um exemplo é uma consultoria realizada para uma grande marca de iogurtes, que estava presa a uma binaridade tradicional em seus produtos infantis. A solução foi migrar para uma estética mais “adulta” e conectada às experiências digitais dessa geração, aproximando as crianças dos códigos de consumo atuais.
Outra diferença é a relação com a educação, que tem impacto direto na maneira como as marcas comunicam conteúdos educativos. “A nova geração quer uma aprendizagem hands-on, com protagonismo. Modelos verticais de ensino frustram as crianças, que preferem abordagens transversais e interativas”, explicou.
A adaptação às novas realidades do consumo infantil exige criatividade, empatia e um olhar atento às transformações culturais e tecnológicas. Entender os códigos estéticos e os comportamentos dessa geração é essencial para criar produtos, embalagens e experiências que realmente dialoguem com elas.
“O futuro do Marketing infantil não será sobre trazer o passado de volta, mas sobre construir novos caminhos alinhados às expectativas e à realidade das crianças de hoje. Sempre de uma forma imersiva”, concluiu.
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