Durante essas férias, finalizei a leitura do livro Uma Mente Livre, de Steven Hayes, psicólogo da Universidade de Nevada, autor de 43 livros e mais de 600 artigos. Hayes é conhecido mundialmente como o pioneiro da Terapia da Aceitação e Compromisso (ACT), uma abordagem contemporânea que transcendeu a clínica para impactar diversas áreas, incluindo negócios, esportes e processos sociais.
De forma resumida, a ACT é uma abordagem de terceira onda da Terapia Cognitivo-Comportamental, que identifica a rigidez psicológica como raiz do sofrimento mental. Seu principal objetivo é promover a Flexibilidade Psicológica, um conceito que reconhece a dor e o sofrimento como parte inevitável da experiência humana. Em vez de evitá-los, a proposta é adotar uma postura compassiva, direcionando a vida para o que realmente importa.
A ACT trabalha com seis processos fundamentais:
Desfusão: aprender a ver pensamentos tais como são: pensamentos, e não verdades absolutas.
Eu/Tomada de Perspectiva: reconhecer nosso valor pela nossa humanidade, afastando-se das armadilhas do ego e das percepções e expectativas geradas sobre nós ao longo do tempo.
Aceitação: acolher experiências dolorosas sem tentar eliminá-las. Veja: não trata-se de resignação mas sim do entendimento de que o passado não pode ser mudado e que há coisas para além do nosso controle.
Atenção Plena: estar presente e conectado ao momento atual, algo essencial para a clareza e o discernimento.
Compromisso: tomar ações que de fato reflitam nossos valores.
Clareza de Valores: identificar o que importa profundamente e usá-lo como guia para decisões.
Quando falamos em valores, Hayes os define como “qualidades escolhidas de ser e fazer”. Ele diferencia valores de metas: enquanto as metas são finitas, os valores são “orientações duradouras e contínuas”. Obviamente toda a teoria é focada em pessoas. Mas especialmente quando falamos em valores, podemos fazer um paralelo em relação a gestão de marcas.
Essa nova perspectiva nos convida a refletir: os valores da sua marca estão claros? Eles realmente norteiam cada escolha relacionada a produtos, serviços e comunicação?
Às vezes, gestores se perdem em métricas imediatas ou pressões de curto prazo, deixando os valores em segundo plano. No entanto, marcas que agem de forma coerente aos seus valores, mostram que tal posicionamento é essencial para criar conexões autênticas com as pessoas.
Com o avanço da inteligência artificial e eventos de inovação ganhando destaque na agenda dos profissionais de C-Level, pode tornar-se mais cômodo priorizar tendências tecnológicas suportadas por métricas de vaidade, sem avaliar se suas premissas e impactos estão de fato alinhadas aos valores da marca. Em tempos de aceleração tecnológica, senso crítico é uma das habilidades que mais nos permitirá nos diferenciarmos como seres humanos.
Não se trata de uma corrida de 100m: gerir marcas em um mundo em transformação exige performance mas mais que isso, exige fôlego e clareza sobre para onde se vai - e numa camada mais profunda, porque se vai.
Em 2025, que possamos reservar mais momentos para reflexão. E que nossas ações – pessoais, profissionais ou na gestão de marcas – sejam significativas e coerentes com os valores que escolhemos cultivar.
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