A inteligência artificial (IA) generativa trouxe um novo ritmo ao marketing, gerando alvoroço no mercado. Em muitas conversas, ouvi o mesmo questionamento: “Será que estamos testemunhando o fim do marketing como conhecemos?” A pergunta é válida, mas a resposta não é tão simples quanto um "sim" ou "não". O marketing, de fato, está mudando, mas não está morrendo — ele está se reinventando.
Um bom exemplo de transformação vem do próprio setor audiovisual. Com a ascensão da Netflix e outras plataformas de streaming, muitos chegaram a decretar o fim do cinema tradicional. No entanto, as salas se reinventaram com experiências premium — poltronas reclináveis, cardápios gourmet, som imersivo — e foco em grandes estreias. O cinema independente também ganhou novo fôlego com a distribuição digital. Ainda assim, a Netflix impulsionou uma mudança irreversível: reduziu drasticamente o timing de produção e aumentou de forma exponencial o volume de lançamentos. O marketing vive agora um movimento semelhante. A diferença é que o ritmo dessa transformação é vertiginoso, sem paralelos com qualquer outra revolução anterior.
O marketing sempre foi visto como uma área responsável por gerar conteúdos e campanhas impactantes. Mas, por muito tempo, boa parte do foco das equipes estava em atividades importantes até certo ponto, pois eram vistas como de baixo impacto no que realmente importa para o negócio.
Neste contexto, a chegada da IA generativa não representa uma ameaça, mas uma oportunidade para redefinir o papel do marketing. Ao democratizar a criação de conteúdo e permitir que diversas áreas da empresa possam produzir materiais com qualidade, a IA libera os profissionais de marketing para focarem realmente em estratégias de crescimento, que mexem o ponteiro e refletem na inovação do negócio.

Seria um retorno a essência dos 4Ps?
O conceito criado na década de 60, coloca o marketing como estratégia central para os negócios, com foco no cliente, nos resultados e na diferenciação competitiva, e não apenas como uma forma de produção de comunicação - muitas vezes de baixo impacto real.
Mas o caminho a seguir não será fácil. A adaptação à IA exige uma mudança cultural dentro das empresas e para além da área de marketing. Profissionais e líderes precisam se desapegar de velhos paradigmas e abraçar a ideia de que a tecnologia vai nos ajudar a trabalhar de forma mais inteligente. Conhecer engenharia avançada de prompt não é diferencial, é sim requisito para atuar na área, como no passado foi entender de marketing digital. Ser fluente em IA já é requisito obrigatório em muitos anúncios de oportunidade de trabalho em diversos setores da economia - não seria diferente para o marketing.
A inteligência artificial nos permite enxergar mais rápido, identificar padrões com agilidade, antecipar movimentos do mercado, combinar ideias e gerar novas. A IA não tem desejos próprios e nem imaginação, ela depende de dados e instruções humanas. E por isso, as decisões estratégicas — e, principalmente, a inovação — ainda dependem da inteligência humana. O marketing está voltando à sua essência: criatividade e estratégia como diferenciais, agora amplificadas pelas novas tecnologias.
A questão não é se o marketing vai desaparecer, e sim como ele se reinventa para ser ainda mais relevante e estratégico e quais são os requisitos que habilitam os profissionais a assumirem esse novo papel. Na era do Ultra Fast Marketing — tema que abordarei no meu próximo conteúdo — a inteligência humana se soma a inteligência artificial para formar a inteligência exponencial.

Profundo, dominando novas disciplinas que envolvem comportamento do consumidor, cultura, história, análise de dados, tecnologia, finanças e até sociologia — além de desenvolver um olhar antropológico, capaz de interpretar hábitos, símbolos e significados que moldam as relações entre marcas e pessoas. Mais do que nunca, será necessário um perfil nexialista — aquele que enxerga conexões entre diferentes campos do conhecimento e consegue traduzir essa complexidade em estratégias criativas, relevantes e sustentáveis para os negócios.
Sim, os desafios que enfrentamos como profissionais de marketing são cada vez maiores e mais complexos. Mas meu objetivo aqui não é gerar alarde — e sim propor uma leitura realista do momento atual e provocar uma reflexão sobre as grandes oportunidades que surgem. Afinal, toda oportunidade relevante costuma vir, antes de tudo, disfarçada de desafio. E este, em especial, talvez seja um dos maiores que o marketing já enfrentou.
Você está preparado para esse novo momento?
Talvez, nenhum profissional esteja totalmente. Mas seguimos com mente aberta redescobrindo nossa profissão e desenhando o futuro.
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