Com o mês de junho as cores do arco-íris tomaram vitrines, timelines e campanhas publicitárias. Mas, para quem trabalha com marcas e comunicação, fica uma pergunta incômoda e necessária: qual é o nosso lugar nessa conversa? E, mais importante, o que estamos fazendo fora do mês do orgulho?
Como diretor-geral de uma marca especializada em produtos para bebês, que há anos se compromete com a diversidade familiar, percebo que o papel de quem não está diretamente representado na sigla LGBTQIAPN+ vai muito além da posição confortável de “aliado”. É sobre responsabilidade ativa, todos os dias, inclusive nos bastidores das decisões que moldam nossas campanhas, produtos e políticas internas.
A verdade é que a ideia de “família tradicional” já não dá conta de representar o Brasil. Segundo o IBGE, 56% das famílias do país hoje se configuram de formas distintas do modelo pai, mãe e filhos. São famílias monoparentais, homoafetivas, reconstituídas, multiparentais. E o que une todas elas? O cuidado. A base afetiva. O compromisso com o bem-estar. É esse o cuidado que deve nortear o trabalho de empresas como a que eu atuo.

Acredito que educar uma nova geração passa também por apresentar, desde cedo, a diversidade como algo natural. E isso se faz não só com conversas abertas em casa, mas com representações reais em campanhas, produtos e políticas corporativas. A licença-paternidade estendida de até 120 dias, que no caso da empresa onde atuo, implantada desde 2024, é só um exemplo de como transformar discurso em prática.
Porque não basta estampar bandeiras ou publicar posts engajados: se a inclusão não está ancorada em ações concretas, ela se esvazia. Soa oportunista. E o consumidor de hoje não só percebe, como cobra. Também entendi que intervir diante de qualquer forma de preconceito não é um ato de solidariedade, é de cidadania.
Como pai, sei que uma criança não se importa com a composição familiar ao seu redor, mas com a segurança e o afeto que ela encontra ali. Quando vê sua realidade representada em uma propaganda, numa embalagem ou numa história, essa criança se reconhece. E se sentir visto é o primeiro passo para se sentir pertencente.
Para empresas que desejam ser relevantes de verdade, é hora de entender que “inclusão” não é pauta de nicho, é o valor central. Que diversidade familiar não é tendência, é a realidade. E que junho pode até ser o mês do orgulho, mas o compromisso com o respeito precisa durar o ano inteiro. Afinal, o valor de uma família não está no seu formato, mas na qualidade do cuidado que ela oferece.
E esse cuidado, felizmente, não obedece padrões. Ele transborda e cabe em todas as configurações.
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