Se você sente que a decisão de trocar de smartphone foi sua, na verdade, a estratégia publicitária da marca pode ter sido bem-sucedida em guiá-lo a reconhecer novas necessidades que justificam o desejo pelo novo. Essa abordagem ilustra uma forma tradicional de obsolescência programada, ainda persistente no mercado, mas que precisa urgentemente ser revista.

A evolução dos equipamentos é natural e traz melhorias importantes, como desempenho e design aprimorados. No entanto, forçar a troca de dispositivos, desabilitando propositalmente funcionalidades, é uma prática insustentável e contrária aos princípios de ESG (Environmental, Social, and Governance).

Com o crescente interesse da Geração Z em questões socioambientais, essa abordagem está sendo cada vez mais questionada. Segundo um estudo da First Insight, 62% dos nascidos entre 1995 e 2010 preferem comprar de marcas sustentáveis, e 73% estão dispostos a pagar mais por produtos ecológicos. 

Essa geração de nativos digitais é mais criteriosa em suas escolhas de compra, exigindo maior transparência e responsabilidade das marcas. Aos poucos, os consumidores conscientes estão mudando o jogo. Ainda assim, precisam de um reforço.

A verdade é que a demanda por adaptação das estratégias de produto para se encaixar na proposta da economia circular é bem conhecida e discutida no meio publicitário, mas ainda é desafiadora.

O que ainda trava a mudança? 

Não é algo que os publicitários possam fazer sozinhos. Esse movimento precisa ser conduzido de forma integrada, com alinhamento entre os executivos e todas as áreas de uma empresa, garantindo que o posicionamento de sustentabilidade seja genuíno e refletido em todas as ações. Toda a equipe precisa abraçar a causa para que a mudança seja real.

Em vez de acelerar o ciclo de consumo, as marcas podem investir em campanhas educativas, ajudando os usuários a explorar todos os recursos do seu produto. Esse tipo de abordagem não só aumentaria a lealdade dos clientes, como também criaria um valor real para o consumidor, que sentiria que seu investimento foi bem aproveitado.

Uma solução sustentável é combinar a evolução tecnológica com práticas de reuso e reciclagem. Por exemplo, promover a doação de aparelhos antigos pode prolongar a vida útil dos dispositivos e reduzir o impacto ambiental. A sustentabilidade e a inovação não são forças opostas; ambas podem coexistir, gerando um equilíbrio saudável entre progresso tecnológico e responsabilidade ambiental.

O futuro da publicidade na agenda ESG

A transição para práticas mais sustentáveis é inevitável, mas o mercado precisará de tempo para se adaptar completamente, mesmo com a urgência das novas gerações. As empresas que conseguem alinhar inovação e sustentabilidade não só ganham a lealdade dos consumidores, como também contribuem para um futuro mais sustentável.

O grande desafio é comunicar esses valores de forma autêntica e eficaz, criando uma conexão emocional com os consumidores que vá além da simples transação comercial. Essa comunicação é crucial para que as marcas se destaquem em um mercado onde o compromisso com o ESG está se tornando um critério decisivo de escolha.

Todos nós fazemos parte desse debate que é amplo demais para caber em um artigo só. Então, nos resta continuar buscando novas visões. E é isso que me leva ao Web Summit, SXSW e outros eventos que trazem novas formas de ver e representar o mundo na criação de novos produtos, canais e formas de comunicação.