A ascensão da Conta Azul no ecossistema de tecnologia para contadores tem como eixo central uma peça que, originalmente, não era tratada como engrenagem estratégica: o mercado de eventos. A CON, conferência anual realizada pela companhia, nasceu como um encontro voltado a contadores e empresas de BPO financeiro. Ao longo dos anos, o evento cresceu em escala, programação e relevância, até se tornar a maior conferência do segmento em seu recorte na América Latina.
Hoje, a conferência funciona como vitrine de tendências, plataforma de relacionamento, ambiente de capacitação profissional e, sobretudo, uma das principais ferramentas de aquisição e expansão comercial da empresa. O impacto ultrapassa a lógica dos eventos tradicionais e faz da conferência um eixo central na estratégia de negócios da marca, sustentando trimestres inteiros de vendas, acelerando a maturidade dos parceiros e influenciando o posicionamento institucional da Conta Azul
A origem desse processo se relaciona diretamente à força da comunidade formada em torno da plataforma. O país reúne cerca de 100 mil empresas de contabilidade, e pouco mais de 13 mil atuam como parceiras da companhia. Metade da receita vem dessa base — e o desempenho desse canal é determinado, quase integralmente, por ativações presenciais.
“Eventos representam 100% da nossa receita de parceiros. É por isso que tratamos a CON como peça central da operação, e não como algo paralelo. Tudo o que fazemos antes e depois dela tem impacto direto no nosso resultado, no relacionamento com os escritórios e na velocidade com que conseguimos fazer o parceiro avançar. Se tirarmos o evento da equação, o nosso canal simplesmente não funciona. Ele é o nosso motor”, diz Pricylla Couto, CMO da Conta Azul, em entrevista ao Podcast Green Room.
A evolução da CON
Quando assumiu a liderança de Marketing da Conta Azul, Pricylla encontrou uma operação consolidada, mas com lacunas estruturais. Não havia documentação detalhada das edições anteriores, nem registro sistemático de aprendizados. A memória institucional estava diluída em percepções individuais, e o risco era claro para uma organização que dependia fortemente desse pilar. Então, o time iniciou uma reconstrução metodológica para transformar o evento em plataforma de inteligência contínua.
A reformulação começou pela coleta de dados. A empresa passou a mapear jornadas completas, desde a descoberta até o pós-evento, com pesquisas quantitativas e conversas qualitativas que alimentam o planejamento anual. Roadshows mensais se tornaram laboratórios práticos para testar narrativas, temas e abordagens de conteúdo. A metodologia inclui ainda um grupo de embaixadores que participa do refinamento das propostas antes de sua implementação em larga escala.
“Levamos key visual, mensagens e perguntas reais para validação. Eles nos dizem o que funciona e o que não funciona. É um processo direto, sem filtro, porque o que importa é entender a reação real do contador, não a nossa interpretação interna. Muitas vezes, o que acreditamos ser claro não é claro para eles, e o que pensamos ser secundário é justamente o que mais chama a atenção. Ter a leitura do público antes de tomar decisões evita desperdício, ajusta narrativa, corrige rota e garante que a CON fale com a realidade do escritório e não com a bolha da empresa”, explica a CMO.
A transformação mais decisiva ocorreu no conteúdo. Em vez de se restringir ao discurso técnico, a conferência passou a abordar temas que refletem a realidade cotidiana do contador empreendedor — gestão, vendas, liderança, Marketing e processos internos. A abordagem ampliou a percepção de valor e diferenciou o evento de feiras tradicionais. O movimento se alinha a uma característica que Priscila identifica como determinante no setor: o contador brasileiro é, em geral, um dono de empresa ainda pouco maduro, mas com grande ambição de crescer.
A curadoria ganhou corpo com quatro masterclasses, trilhas especializadas e um segundo palco dedicado a cases e painéis. A inclusão do time de Produto fortaleceu o caráter técnico da programação, sem transformar o evento em vitrine comercial. A combinação exige equilíbrio permanente, revisado diretamente pela CMO. A estratégia se completa com ativações que reforçam a experiência e ajudam a criar símbolos de comunidade.
O maior exemplo da edição recente foi a “Compivara”, mascote da conferência, integrada a uma dinâmica de QR codes espalhados pelo pavilhão. A ação gerou filas, engajamento espontâneo e até impacto comercial, com participantes negociando benefícios e assinaturas vinculadas ao brinde.
“Foi a ativação do evento. Esgotou tudo nas primeiras horas. A Compivara virou um símbolo espontâneo, e isso mudou completamente a circulação dentro do pavilhão. A cada QR code encontrado, as pessoas criavam uma espécie de competição saudável, gerando fila, conversa, foto, compartilhamento. Não esperávamos esse nível de adesão. Isso acabou influenciando até na negociação comercial, porque tinha gente que só queria fechar contrato para garantir o kit. Mostra a força do pertencimento quando você acerta na dinâmica”, narra Pricylla.
Desenho Organizacional e futuro da CON
No desenho organizacional, o Marketing opera por meio de áreas missionais — aquisição, monetização, retenção e expansão — e áreas funcionais, como Conteúdo e Produção. O modelo garante velocidade e coerência para sustentar um calendário intenso, composto pela CON, pelos roadshows mensais e por eventos patrocinados.
“É tudo muito coordenado porque é a nossa única alavanca. Se tiver alguma falha, o resultado vai cair. Não existe margem para improviso nesse modelo. Cada área depende da outra e qualquer atraso, qualquer desalinhamento, qualquer mensagem mal construída impacta diretamente aquisição, retenção, expansão e até a percepção da marca no mercado”, pontua a CMO.
A entrada no ambiente digital representa a expansão mais recente da estratégia. A empresa adotou eventos online para alcançar escritórios que dificilmente participariam presencialmente. A transição, porém, trouxe desafios específicos — principalmente a alta taxa de no-show. O time está em fase de ajustes contínuos, mas enxerga o formato como complementar ao modelo consolidado presencial.
A jornada pós-evento se tornou outro eixo essencial da operação. Em vez de focar apenas no impacto imediato, a Conta Azul passou a monitorar resultados ao longo de meses. O acompanhamento inclui indicadores de D+90 e D+180 para medir conversão, expansão e evolução de maturidade. O método ajuda a compreender o ciclo real de decisão dos contadores e evita conclusões precipitadas baseadas apenas no dia do evento.
A bilheteria foi um dos pontos revistos após análises internas indicarem que o preço era uma barreira de entrada, especialmente para quem nunca havia participado da conferência. A empresa decidiu testar cortesias como instrumento comercial ao longo do ano. O resultado contradisse receios iniciais: boa parte dos participantes que compraram durante o evento era justamente quem havia entrado por ingresso gratuito. A descoberta levou ao redesenho completo da política de ingressos, que deixou de ter papel central na receita.
A força da conferência também influenciou decisões de marca. A partir da próxima edição, o evento será integrado à arquitetura principal sob o nome Conta Azul Com. A mudança busca fortalecer a Masterbrand em um setor onde reconhecimento é ativo competitivo. A ideia, diz Pricylla, é que as pessoas “olhem para a CON e vejam Conta Azul”.
A próxima edição será apresentada oficialmente em janeiro, com mote renovado, nova identidade visual e trilhas que refletirão as tendências mais relevantes para o setor contábil em 2026.
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