A brasilidade já não pode ser vista apenas como estética ou adorno cultural, mas como estratégia de valor para marcas. Em um cenário em que consumidores buscam autenticidade, diversidade e narrativas genuínas, o Brasil carrega um diferencial único: sua potência criativa. Das manifestações populares às marcas centenárias, existe uma riqueza cultural e simbólica que, quando bem traduzida em produtos e experiências, projeta o país no mundo de forma relevante.
Durante o Festival É,Faz&Fala 2025, realizado no Rio de Janeiro, executivos, pesquisadores e artistas debateram como a brasilidade pode gerar impacto econômico bilionário, fortalecer a identidade das marcas e criar novas referências para a inovação. O painel de abertura reuniu líderes de grandes marcas brasileiras para discutir o papel do branding no reposicionamento global. Ana Couto, idealizadora do festival, destacou que marcas precisam expressar o potencial criativo do país como fonte de reinvenção.
Para Renata Altenfelder, CMO da Lojas Renner S.A., evidenciou que, em um mercado competitivo, as narrativas de brasilidade só se sustentam se forem validadas pelo público. Ela reforçou que o consumidor é quem dita tendências.“O Brasil está na moda. Se o consumidor não gostar, cai tudo”.
Já Sissi Freeman, da Granado & Phebo, apontou que a missão das marcas brasileiras é mostrar qualidade e inovação próprias, sem depender de chancelas externas. Essa confiança é o que transforma o local em global, mantendo autenticidade como diferencial. “A missão na empresa é mostrar a brasilidade e o talento. Fazemos o desenvolvimento e nossa embalagem dentro da empresa. Ter mais confiança no que fazemos”, afirmou.

Cultura como ativo econômico
O painel cultural reforçou que as manifestações brasileiras não são apenas festas, mas indústrias criativas capazes de gerar inovação e valor econômico. João Gustavo Mello comparou Parintins a uma “Florença renascentista brasileira”, destacando a “robótica cabocla” desenvolvida no festival.
Os números comprovam o impacto: o Carnaval movimenta cerca de R$ 5 bilhões e o Festival de Parintins gira em torno de R$ 160 milhões. Esses dados mostram como a economia criativa pode ser motor de desenvolvimento quando reconhecida como estratégia.
Além do impacto financeiro, as festas populares também geram conhecimento e tecnologia aplicáveis em outros setores. Um exemplo citado foi a cenografia das escolas de samba, usada no próprio Museu do Amanhã, conectando inovação popular e grandes projetos arquitetônicos. “O Brasil tem uma vocação inquestionável para transformar festas em indústrias de conhecimento e prazer”, pontuou João.

Diversidade como motor de autenticidade
Outro ponto central foi o papel da diversidade na construção de valor cultural e de marca. Potyra Lavor, responsável pelo Afropunk no Brasil, lembrou que autenticidade só existe quando a cultura é produzida com equipes locais e narrativas próprias, majoritariamente afro-brasileiras.
O case da visita de Beyoncé a Salvador, realizada com fornecedores brasileiros — em sua maioria mulheres, pessoas negras e sob direção de uma artista trans periférica — reforçou como diversidade é motor de inovação e legitimidade.
“Produzir cultura no Brasil é trazer amor e humanidade para os negócios. Quando trabalhamos com equipes locais, mostramos que a diversidade é fonte de autenticidade e valor real”, afirmou.
Já Marquinhos de Oswaldo Cruz trouxe a dimensão afetiva e social da cultura suburbana do Rio, destacando projetos como a Feira das Iabás e o Trem do Samba como geradores de renda e preservadores de tradição. Sua fala apontou ainda para a necessidade de políticas públicas que protejam os trabalhadores da cultura popular, pilares invisíveis da brasilidade.
O compositor chamou atenção para a vulnerabilidade dos trabalhadores da cultura popular — como aderecistas, costureiras e mestres-salas —, muitos deles desamparados durante a pandemia e sem conseguir retomar seus ofícios. Segundo ele, esses profissionais são pilares do Carnaval e necessitam de políticas públicas que assegurem a continuidade de seus saberes.
Outro ponto abordado foi o chamado “complexo de vira-lata”, que ainda leva parte do mercado a subestimar a cultura afro-brasileira e a tratar festas regionais como expressões de menor valor. Para os painelistas, investir em brasilidade é, na verdade, uma estratégia de negócios com retorno comprovado: movimenta bilhões, promove inclusão e projeta o país de maneira autêntica no cenário global.
“A criatividade resgata nossa fé, renova nossas forças e lembra da nossa capacidade de reinvenção. Em um mundo em constante mudança, é preciso acreditar no potencial humano”, afirmou Ana Couto.
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