A Bombril entrou com um pedido de recuperação judicial na última segunda-feira (10), visando reestruturar uma dívida de aproximadamente R$ 2,3 bilhões. Conhecida por sua tradicional esponja de aço, a empresa enfrenta desafios financeiros provocados pela contração de dívidas tributárias acumuladas no início do século.
O pedido foi protocolado na 1ª Vara Regional Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem. A decisão, tomada em conjunto com outras empresas do Grupo Bombril, busca enfrentar riscos financeiros elevados decorrentes de passivos tributários acumulados ao longo dos anos.
Em comunicado oficial, a cúpula da empresa expressou o desejo de manter a capacidade operacional e reestruturar seu passivo de forma adequada, por meio de um processo célere e com o menor impacto possível aos direitos dos credores e às atividades operacionais.

Histórico de desafios econômicos
Em 2003, a companhia entrou com um pedido de recuperação judicial devido a dificuldades financeiras decorrentes de tentativas mal sucedidas de diversificação de seu portfólio, incluindo a entrada no setor de cosméticos. Esse processo foi concluído em 2006, mas a empresa continuou a enfrentar altos níveis de endividamento nos anos subsequentes.
Em 2015, a situação financeira da Bombril se deteriorou ainda mais, com suas dívidas chegando a quase R$ 900 milhões. Para enfrentar a crise, a empresa passou por uma ampla reestruturação em 2017, conseguindo recuperar a lucratividade e restabelecer parte de sua estabilidade financeira.
Apesar dos esforços, os desafios persistiram. Em 2023, a Bombril obteve um empréstimo de R$ 300 milhões para refinanciar parte de sua dívida, que totalizava R$ 401 milhões na época, sendo que 77% desse valor vencia em um ano. A medida visava alongar o prazo de pagamento e reduzir os custos financeiros da companhia.
O papel das T-Bills
O principal fator que levou a Bombril a solicitar a recuperação judicial foram autuações da Receita Federal relacionadas ao não recolhimento de tributos sobre operações financeiras envolvendo T-Bills entre 1998 e 2001, período em que a empresa estava sob a gestão do grupo italiano Cragnotti & Partners.
Segundo Filipe Denki, sócio do Lara Martins Advogados e especialista em Direito Empresarial e Recuperação Judicial, as T-Bills (Treasury Bills) são títulos da dívida pública dos Estados Unidos com vencimentos de curto prazo, variando de algumas semanas a um ano.

Diferentemente de outros papéis do governo americano, as T-Bills não pagam juros periódicos, sendo vendidas com desconto em relação ao valor de face. No vencimento, o investidor recebe o montante total, e a diferença entre o preço de compra e o valor nominal recebido corresponde ao rendimento obtido.
Por serem garantidos pelo governo dos EUA, esses títulos são considerados investimentos de baixo risco e amplamente utilizados para garantir liquidez e proteger capital. Tanto investidores individuais quanto instituições financeiras recorrem às T-Bills para diversificação de portfólio e gestão de caixa.
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