Do ponto de vista do varejo, minha especialidade, já vimos o uso medicinal da cannabis ser autorizado, mesmo que de forma controlada. Agora, o questionamento é se o Brasil seguirá um caminho similar ao de cidades como Washington e Nova York. Nestes locais, não só foi liberado o uso recreativo, mas também surgiu um novo mercado regulado que, apesar das críticas, contribui para o dinamismo da economia.
Ao observarmos a situação atual no Brasil, especialmente nos principais centros comerciais, é notável a vasta presença de tabacarias ou, em alguns casos, lojas autodenominadas headshops. Esses estabelecimentos comercializam uma variedade de produtos, com exceção de qualquer item que contenha cannabis como ingrediente.
Atualmente, nas headshops, encontram-se itens desde papel para enrolar diferentes tipos de cigarros, inclusive de maconha, até ferramentas e utensílios para armazenar, preparar ou consumir estes produtos. A popularidade dessas lojas explodiu principalmente devido ao narguilé, que passou de um produto de nicho para uma presença frequente em festas e baladas, e, mais recentemente, ao crescimento dos cigarros eletrônicos, também conhecidos como pods ou vapes. Mesmo que a venda destes últimos seja atualmente proibida, eles são facilmente encontrados e frequentemente usados sob o pretexto de serem mais saudáveis ou de possuírem um aroma mais aceitável que o cigarro tradicional - ainda que médicos alertem que eles podem causar tantos ou até mais danos à saúde.
Mesmo com as restrições atuais, é comum encontrar sinais de consumo de cannabis em áreas de grande concentração em São Paulo, como a Avenida Paulista. A "marola" - o aroma característico de alguém consumindo o produto na rua - pode ser percebida facilmente, principalmente ao entardecer ou na saída dos escritórios e universidades na região.
Com a possível liberação, é evidente que este tipo de comércio se tornará um verdadeiro boom, e não seria surpreendente ver surgirem variantes que vão desde o sofisticado e gourmetizado até opções mais simples e acessíveis. Podemos até mesmo prever a criação de redes de franquias, com o apoio de celebridades que atualmente discutem o tema abertamente.
Contudo, é importante notar que a presença do novo aroma nas ruas e, principalmente, nos centros comerciais será uma mudança considerável, e que nem todos podem receber bem. Quem visita a NRF em Nova York, por exemplo, claramente percebeu uma mudança notável no ambiente nos últimos anos, mais perceptível ainda em 2023.
Este é o mundo do varejo, constantemente sujeito a mudanças e inovações emocionantes. E, para encerrar com uma nota mais leve, não posso deixar de comentar sobre este vibrante ano: começamos fugindo do vermelho, embarcamos no rosa na virada do semestre, e parece que terminaremos com um olhar voltado para as discussões sobre este particular tom de verde.
*Caio Camargo, arquiteto com MBA em Marketing pela FGV, é um apaixonado pelo universo do varejo e tecnologia. Autor do best-seller "ARROZ, FEIJÃO & VAREJO", tem suas reflexões difundidas no [varejocast], principal podcast do varejo brasileiro. Além disso, fundou o blog "Falando de Varejo", atua como conselheiro voluntário da ACSP e foi premiado pelo Retail Design Institute em 2017.
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