No dia 23 de janeiro, uma planilha com cerca de 400 avaliações de influenciadores digitais viralizou em grupos de WhatsApp e redes sociais, provocando uma enxurrada de repercussões. O documento, aparentemente produzido por profissionais do mercado publicitário e de marketing de influência, trazia notas e comentários sobre o desempenho, o comportamento e a postura de criadores de conteúdo em campanhas.
Apesar de só agora ter chamado atenção do grande público, a planilha já circulava internamente entre agências e anunciantes, servindo como um mapeamento informal das experiências no setor. O impacto foi imediato, levantando discussões sobre anonimato, critérios de avaliação e, principalmente, a necessidade de profissionalização desse mercado.
Os comentários na planilha iam de elogios ao comprometimento de alguns influenciadores até críticas duras sobre atrasos, dificuldades em seguir briefings e comportamentos inadequados nos bastidores. Algumas observações, no entanto, extrapolaram o lado profissional, entrando em questões pessoais e suscitando debates sobre os limites éticos dessas práticas.
A ausência de identificação dos avaliadores trouxe um agravante: enquanto algumas opiniões refletiam experiências reais, outras levantaram suspeitas de viés, seja por concorrentes ou, em alguns casos, até autoavaliações positivas. Esse episódio escancara desafios que o mercado de influência ainda enfrenta. Pesquisas comprovam o impacto dos criadores no comportamento de consumo.
Um estudo da Qualibest mostrou que 49% dos entrevistados já adquiriram produtos ou serviços com base em recomendações digitais, enquanto a pesquisa da YouPix revela que 64% dos jovens pesquisam marcas influenciados por influenciadores. Apesar disso, a discussão sobre profissionalismo no setor continua em aberto. A falta de regulamentações claras e ferramentas que garantam transparência nas parcerias ainda são pontos de fragilidade.
Olhando para essa situação, fica evidente que profissionalismo é o que separa quem se mantém relevante de quem não consegue construir uma carreira sólida. Mais do que alcance ou engajamento, influenciadores que se destacam pela ética e pelo comprometimento conquistam parcerias duradouras. Exemplos como Ivete Sangalo ilustram como a reputação vai além dos números, refletindo a maneira como os projetos são conduzidos nos bastidores.
O mercado se comunica, e essa reputação é um ativo poderoso. Por outro lado, o anonimato dessa planilha expõe a imaturidade de um mercado ainda em formação. Avaliações enviesadas ou sem critérios objetivos acabam prejudicando a credibilidade de iniciativas como essa. Ferramentas como o compliance, desenvolvido por Mari Galindo e Rafaela Frankenthal, surgem como uma alternativa interessante, permitindo avaliações sigilosas, mas não anônimas. Dessa forma, é possível criar um ambiente mais ético e responsável, onde influenciadores recebem feedbacks estruturados e as marcas conseguem tomar decisões mais acertadas.
O caso também levanta a necessidade de um olhar mais crítico das agências e anunciantes. Comentários que ultrapassam o escopo profissional, como críticas a aspectos pessoais, não só são antiéticos, mas também comprometem a seriedade do mercado. Da mesma forma, as marcas precisam ser tão comprometidas quanto os criadores, oferecendo condições de trabalho claras, pagamentos em dia e relações baseadas na ética e no respeito.
O vazamento da planilha não só reforça a necessidade de profissionalismo dos influenciadores, como também expõe a urgência de estabelecer normas mais transparentes em um mercado que evolui rapidamente. A lição para todos os envolvidos — sejam criadores, agências ou anunciantes — é simples: tratem cada parceria com o respeito e o comprometimento que ela merece. Profissionalismo não é um diferencial, mas a base essencial para construir uma carreira de sucesso.
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