O painel “Reframing the DEI Debate”, realizado no SXSW 2025, trouxe uma discussão essencial sobre os desafios e oportunidades das políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em um cenário global de retrocesso, especialmente nos Estados Unidos.
Com moderação de Megha Bansal Rizoli (senior director da Jobs for the Future), o debate contou com a participação de Michael Bush (CEO do Great Place to Work) e Ellen Mcgirt (Editor-in-chief da Design Observer). Na nossa cobertura do futuro do trabalho sob a perspectiva do SXSW, acompanhamos essa conversa que abordou a necessidade de enxergar a diversidade como um fator estratégico para inovação e crescimento sustentável nas empresas.
Retrocesso nas políticas de DEI: um cenário preocupante
Em uma virada de jogo desde 2020, diversas corporações vêm reduzindo sua atuação em iniciativas de diversidade. Google, Disney, GM, Intel, Meta e Deloitte são algumas das empresas que suavizaram ou retiraram referências a DEI de seus relatórios anuais, conforme análise da NPR.

Por outro lado, algumas organizações seguem firmes em suas políticas. A Apple, mesmo diante de pressões do National Center for Public Policy Research para descontinuar suas iniciativas de DEI, manteve seu posicionamento, reforçando que a diversidade é essencial para seus resultados financeiros. Acionistas da Costco também rejeitaram propostas para eliminar programas de diversidade.
Empresas que insistem no conceito estão colhendo resultados concretos. A Apple, por exemplo, atribui parte de seu valor de mercado de US$ 3,7 trilhões à sua cultura inclusiva, um indicativo de que diversidade não é apenas um imperativo social, mas uma estratégia de negócios eficaz.
Diversidade como motor da inovação
Michael Bush destacou que, pela primeira vez, corporações americanas estão operando sob a influência do medo, provocado por ordens executivas e pressões políticas para revisar políticas de DEI. Segundo ele, a diversidade deve ser vista como uma ferramenta competitiva, e não um risco.
É importante ter em mente que a inovação só existe, de fato, com times diversos. Se todo mundo for igual, as empresas vão deixar de inovar. Além disso, companhias que ampliaram a diversidade aumentaram significativamente seu valor de mercado. A inovação vem do esforço extra de equipes que se sentem valorizadas e respeitadas.

O debate também ressaltou que contratar pessoas com diferentes vivências não é apenas uma questão de justiça social, mas uma forma real de trazer novas perspectivas e ampliar a criatividade dentro das organizações.
O mito da meritocracia e as barreiras sistêmicas
A discussão abordou como a ideia de meritocracia pode mascarar desigualdades estruturais. Muitas decisões de contratação e promoção são influenciadas por vieses inconscientes e redes de relacionamento no nível de liderança, favorecendo grupos já privilegiados.
Esse cenário reflete no mercado de trabalho brasileiro. Mulheres pretas e pardas, por exemplo, enfrentam desafios significativos para equilibrar carreira e vida pessoal. O estudo “Check-up de bem-estar 2024”, desenvolvido pela Vidalink, revelou que 41% lidam com uma dupla jornada de trabalho, dividindo-se entre emprego formal e responsabilidades domésticas, enquanto 43% relatam sentir-se ansiosas na maior parte do tempo.
Esse dado reforça a importância de empresas que implementam culturas organizacionais adaptáveis, criando condições reais para que esses talentos possam contribuir com seu potencial máximo sem deixar de lado o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
Critérios reais para contratação: paixão e resiliência
Uma das abordagens mais instigantes do painel foi a ideia de que o fator decisivo para contratações não deveria ser apenas formação acadêmica ou experiência em grandes empresas, mas sim o conceito de "grit" – um termo popularizado pela psicóloga Angela Duckworth que se refere à combinação de paixão e persistência para alcançar objetivos de longo prazo.

Michael Bush defendeu que esse fator pode ser um indicador de sucesso mais relevante do que diplomas ou histórico profissional. Essa visão desafia os modelos tradicionais de recrutamento, ampliando o leque de talentos considerados para posições estratégicas.
DEI como fator de crescimento e produtividade
Diante do enfraquecimento de políticas de diversidade em algumas empresas, especialistas alertam para os riscos estratégicos dessa decisão. Com base nas experiências dos painelistas do SXSW, a retirada de iniciativas de DEI pode comprometer engajamento, inovação e crescimento financeiro.
A questão que fica é: se gerou resultados positivos nos negócios, por que mexer no time que está ganhando?
O futuro da diversidade nas empresas dependerá da consistência entre discurso e prática, garantindo que ações de inclusão se traduzam em ambientes corporativos mais saudáveis e inovadores – um diferencial competitivo cada vez mais decisivo no mercado global.
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