As empresas buscam cada vez mais pessoas com perfil empreendedor, muito além do restrito significado que sugerem os termos “empregado”, “funcionário” e “colaborador”. Aliás, diga-se de passagem, o empreendedorismo é um traço muito forte do brasileiro, bastando observar o crescimento da quantidade de pessoas ocupadas por conta própria em nossa economia.
Vale a pena ressaltar que a enorme rigidez e defasagem do regime de contratação celetista em muito contribui para este cenário altamente propício para o crescimento da adoção de formatos alternativos de vínculo de trabalho.

Os ditos modelos de partnership vêm sendo utilizados e se proliferando há muitos anos em diversos setores, notadamente em empresas de serviços profissionais, como, por exemplo, escritórios jurídicos, consultorias e auditorias, mas também de forma destacada em gestoras do mercado financeiro e em outros segmentos.
As empresas que implementam ou desejam implementar programas de partnership podem estar motivadas por fatores bem diversos e geralmente necessitam, em função de seu contexto específico, de graus distintos de parceria. O que todas buscam é um maior comprometimento das pessoas-chave com o sucesso do negócio, o famoso senso de propriedade ou “cabeça de dono”.
Um bom exemplo que costumo dar para ilustrar o conceito de senso de propriedade é o do carro alugado nas férias versus o carro próprio: quando estamos dirigindo um carro alugado, por exemplo, trafegando entre as praias da região Nordeste, e passamos por cima de um buraco profundo na estrada, geralmente não costumamos ligar muito desde que não danifique o carro a ponto de prejudicar ou tomar tempo de viagem. Porém, quando estamos dirigindo um carro próprio e pegamos um buraco destes, sentimos a “dor do carro” em nossos estômagos.

Portanto, é este um dos principais propósitos almejados por um programa de partnership, ou seja, que todos os seus integrantes-chave “dirijam” a companhia como se fosse um “carro” próprio ao invés de alugado.
Seguindo esta linha, a demanda mais básica de um parceiro pode envolver unicamente a intenção de se estruturar um modelo de ganho para as pessoas-chave com caráter de risco maior, vinculado em grande proporção a uma fatia do lucro do negócio, de forma mais empreendedora (1ª fase).
O estágio seguinte na evolução e enriquecimento do programa de parceria (2ª fase) vem com uma preocupação maior em se reforçar a retenção a longo prazo e o comprometimento dos indivíduos com a criação de valor sustentável para o negócio, tipicamente suportada pelo uso de ações (“equity”) ou de algum instrumento equivalente. Este avanço é muito importante, tendo em vista que um plano muito agressivo de participação nos lucros do ano, isoladamente, pode gerar um desalinhamento de interesses bem relevante no que tange aos riscos assumidos. Colocando de forma simples, um executivo com perfil mais aventureiro pode se sentir estimulado a tomar diversas medidas com um “carro alugado”, que não tomaria com um “carro próprio”, para ganhar um super bônus anual e, eventualmente, caso a empresa fique “sucateada” ou em risco depois, simplesmente mudar de empresa.

O estágio mais avançado (3ª fase) se instala quando os sócios fundadores começam a sentir a necessidade de perenizar e institucionalizar a sociedade de profissionais, para que a criatura sobreviva além do vigor físico e mental de seus criadores diretos, ou seja, para que a obra seja duradoura. Os interesses podem envolver a preocupação em prover segurança econômico-financeiro para os herdeiros dos sócios fundadores sem a necessidade de vender a empresa ou simplesmente o senso de realização de alcançar as fases finais da carreira profissional com um elevado nível de orgulho e realização por ter criado uma organização forte, saudável, competitiva e longeva.
Tipicamente, esta fase mais avançada envolve o aprimoramento da governança, a descentralização das decisões e uma orientação muito grande dos sócios-fundadores para a formação e desenvolvimento de uma nova geração de sócios.
Portanto, conforme demonstrado acima, trata-se de um tema muito relevante e com muitas facetas. Por esta razão, é sempre necessária uma boa conversa para entender o que uma empresa de fato precisa e almeja quando manifesta interesse por um programa de parceria. A criação de um modelo que funcione para cada cultura de empresa é um desafio fascinante, sempre diferente e com tons inéditos.
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