Até que o tratado global contra a poluição plástica fique pronto, no fim deste ano, as discussões em torno da utilização do material serão cada vez mais acaloradas. A preocupação sobre o lixo plástico e o volume crescente do produto nos oceanos deve ser um ponto prioritário na agenda da indústria, das universidades, do poder público e da sociedade.
Mas reduzir a discussão à simples exclusão do plástico ou sua substituição por outro material pode não ser a solução mais interessante para o futuro do planeta. Pensando além dos benefícios do plástico em diversas aplicações e segmentos, existe uma série de impactos ambientais na produção, distribuição e uso de materiais alternativos que precisam ser analisados e ponderados.
Um estudo divulgado recentemente pela Universidade de Sheffield* aponta que a substituição do plástico aumentaria a emissão dos gases de efeito estufa. O trabalho acadêmico teve foco unicamente na liberação de carbono para a atmosfera, sendo analisados plásticos e seus substitutos em diversas aplicações, o que inclui áreas de embalagens, bens de consumo duráveis, construções, setor automotivo e têxtil.
O resultado do estudo mostra que, em 15 das 16 aplicações avaliadas, o uso do plástico implica em emissões menores durante o ciclo de vida do produto, com economia de emissão chegando até a 90%. Fatores como a menor intensidade energética durante a produção e a eficiência de peso do material contribuíram para a redução da pegada ambiental em comparação com alternativas como vidro, papel ou metal. Os plásticos também demonstraram melhores resultados nos processos de fase inicial (upstream), incluindo produção e transporte, em 10 das 16 aplicações. E essa vantagem decorreu da menor intensidade energética e do menor peso dos plásticos, o que destaca a eficiência na mitigação das emissões.
Os resultados da pesquisa sugerem ainda que a otimização do uso do plástico, ao estender a vida útil dos produtos, além de aumentar as taxas de reciclagem e melhorar os sistemas de coleta de resíduos, é algo que pode oferecer estratégias mais eficazes para reduzir as emissões associadas. E é importante lembrar que as embalagens plásticas desempenham um papel crucial na preservação da qualidade dos alimentos em uma ampla gama de categorias, o que ajuda a prevenir a deterioração e as emissões de gás de efeito estufa (GEE) geradas.
Desse modo, o plástico consegue prolongar a vida dos alimentos em relação à segurança na hora do consumo, sem afetar o sabor e o valor nutricional do produto, o que reduz o desperdício de comida e, ao mesmo tempo, o uso de conservantes químicos - um benefício que acaba não sendo medido quando se compara a outros materiais. E o impacto ambiental dos alimentos que consumimos diariamente - carne de gado, cacau e café, por exemplo - são altos, uma vez que envolve várias etapas de manejo e transporte.
Por isso, uma embalagem sustentável é aquela previamente ponderada e avaliada que ofereça a proteção adequada ao produto ao menor custo de impacto ambiental desde o início de sua produção ao fim do ciclo de vida. Essa análise é muito importante para os produtos chegarem aos consumidores com segurança e com o menor uso de recursos naturais.
Economia Circular
A Braskem tem uma jornada de desenvolvimento da economia circular que enfatiza a importância do plástico na sociedade, principalmente nas embalagens dos alimentos. E muitas análises são feitas durante o desenvolvimento de novas soluções. Um exemplo é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), técnica desenvolvida para mensurar possíveis impactos ambientais causados pela fabricação e utilização de determinado produto ou serviço.
Esse e outros estudos servem como base no dia a dia do Cazoolo, um lab de inovação onde os projetos criados são 100% voltados para a sustentabilidade e o desenvolvimento de soluções circulares nas embalagens plásticas. Outro ponto importante deste lab é o uso da metodologia de DfE (Design for Environment) em qualquer nova embalagem desenvolvida. Isso permite o aprimoramento e a garantia da sustentabilidade de ponta a ponta dos processos.
E esse é o caminho. É fundamental que sejam desenvolvidas ferramentas para avaliar o ciclo de vida do plástico e entender possíveis caminhos alternativos. Não podemos negligenciar o impacto do descarte incorreto dos plásticos nos ecossistemas marinhos e na saúde humana. Mas a simples substituição deste material sem uma análise do real impacto ambiental a longo prazo apenas geraria um novo ponto a ser discutido.
Cada vez mais as indústrias se preparam para oferecer soluções mais sustentáveis como o uso de resinas recicladas e plástico de origem renovável, projetando seus produtos e embalagens para serem mais bem recuperadas e reinseridas no sistema produtivo ou até mesmo desenhando novos modelos de negócio circular. Com os incentivos corretos, essas novas tecnologias e soluções serão produzidas em larga escala e atingirão diferentes aplicações. Enquanto isso, o descarte inadequado do plástico deve ser enfrentado em conjunto com todos os atores da cadeia e, principalmente, com estudos que sustentem uma decisão efetiva.
*Fonte: Replacing Plastics with Alternatives Is Worse for Greenhouse Gas Emissions in Most Cases | Environmental Science & Technology (acs.org) *Por Yuri Tomina Carvalho, líder do Cazoolo, lab de design de embalagens circulares da Braskem
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