O marketing mexe com a cabeça do consumidor. Apresenta um produto ou uma marca de tal modo que este associa imediatamente essa marca com seus desejos (às vezes os mais íntimos). E se a associação funciona bem, o atributo cola na marca de tal forma que ao pensar nele a marca vem à cabeça imediatamente. Mas o mundo muda (e muda rápido). Atributos que antes eram importantes para as marcas, com o tempo perderam força e novos hábitos surgiram, de maneira que as marcas passaram a ser avaliadas por atributos mais modernos. Nesse contexto, eu te afirmo: cibersegurança tem tudo a ver com a maneira como a sua empresa vai ser percebida.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) deu uma força ao destacar a importância de se defender de violações de dados. Os usuários estão muito mais atentos com a maneira como suas informações são utilizadas, como grande exemplo da recente repercussão sobre a venda de dados pessoais pelas farmácias. E claro que não posso deixar de mencionar o impacto na reputação, que apesar de parecer abstrato, tem desdobramentos que prejudicam a organização financeiramente. Para se ter uma ideia, 74% dos consumidores evitam usar produtos ou comprar de uma empresa afetada por violação de dados. Entre as empresas, o prejuízo também é claro, podendo levar à perda de até 7% do valor de mercado após sofrer um ataque cibernético.
E as ameaças não vão parar - apenas aumentar. Segundo novo relatório de Cibersegurança da Check Point Research (CPR), a insegurança teve um aumento de 8% em ataques cibernéticos semanais em todo o mundo no primeiro semestre deste ano, o que representa o maior volume em dois anos. O fórum mundial aponta que se o crime cibernético fosse um País, ele seria a terceira maior nação do mundo. Não tratar com a devida importância a pauta na agenda executiva não é viável e pode trazer grandes consequências.
É desnecessário dizer que todas as empresas que operam na era digital (essa aqui em que vivemos!) fazem uso amplo de tecnologias, dados e compartilhamento de informações. Qualquer hesitação na hora da compra online, em segundos, leva um potencial cliente para outro site. Ao mesmo tempo que ao associar a sua marca com a capacidade de proteger os dados do seu consumidor, dará a ele a sensação de confiança necessária para transacionar com a sua empresa. E você, como executivo de marketing, sabe o poder que a confiança tem.
Resgatando minha experiência em marketing, vamos extrapolar esse papo para o domínio de brand equity: é justamente o valor atribuído a uma marca para além do aspecto financeiro. Isso pode envolver o tanto que seu público considera a sua marca como escolha, a fidelidade na relação, a qualidade percebida e as associações realizadas.
Agora visualize um departamento de marketing que construiu, durante anos, uma marca genuína, reconhecível e de credibilidade para a sua empresa, agilizando a captação de novos negócios. É o que toda companhia busca conquistar e manter, certo? Mas, por um descuido de um sistema desatualizado, abriu uma brecha para um ataque de ransomware, uma espécie de sequestro de dados. Dependendo do nível do estrago, isso vai chegar na imprensa e seu público-alvo vai descobrir que seu ambiente digital não é tão seguro assim. Isso certamente leva a um enfraquecimento do relacionamento de confiança na marca, trazendo tanto prejuízos imediatos de paralisação das atividades quanto a longo prazo na recuperação da reputação. Ter uma empresa reconhecida por levar à exposição de dados de milhares de usuários certamente não é o desejado.
Por outro lado, a cibersegurança é, quando bem empregada, um valor agregado para a sua marca. Aporta atenção ao consumidor ao criar um portal de transparência no uso dos dados. Mostra compromisso ao exibir um selo de ISO 27.001, mostrando que há um investimento contínuo na proteção e governança de dados. Fora que uma segurança inteligente, moderna, aporta valor quando interrompe uma transação fraudulenta e avisa o usuário. Ele pensa logo: essa empresa é boa! . Ninguém resiste a narrativa do herói e do vilão, do medo e do prazer, veja os milhares de livros e filmes com esta temática. Faça essa narrativa jogar a favor da sua marca. Ah! E casa bem com a governança corporativa, o tal G do ESG.
O mercado financeiro foi o primeiro a usar cybersecurity como um atributo de marca, fazendo propaganda de como é seguro e confiável depositar seu dinheiro em bancos digitais e fazer compras online. Na sequência vieram as empresas .com, mostrando o quanto confiável eram seus sites e sistemas através de propagandas em múltiplos meios (eu, inclusive, fiz isso!). Agora vemos empresas de tecnologia fazendo propaganda usando segurança de dados como argumento, empresas de varejo e hospitais cuidando da privacidade de seus clientes e usuários. Os exemplos já são visíveis dessa tendência.
A segurança deve ser um atributo de marca desejado, também por associar a marca com inovação. A inovação acontece em um ambiente protegido, para que possa ser testada e florescer rápido. Ambientes de inovação inseguros, perdem credibilidade ao se apresentarem ao consumidor. Sabe onde mais o efeito segurança é percebido? Na marca empregadora. Isso mesmo, pense em seus colaboradores sendo treinados em cibersegurança, conscientes dos riscos que envolvem uma vida digital. Eles saberão que as informações deles estão sendo bem cuidadas e ainda vão comentar com a família e amigos sobre como se proteger de e-mails falsos, roubo de identidades, abusos na mídia social e questões de privacidade.
A verdade é que eu poderia dar muito mais exemplos e estatísticas para lhe mostrar que segurança de dados é um pilar fundamental para construir vantagem no mundo digital e que essa vantagem precisa ser capturada pela sua marca, mas acho que já coloquei meu ponto. O que lhe ofereço ao final desta reflexão é um prazeroso desafio de inovação. Tente criar um projeto-piloto de comunicação que associe sua marca a cybersec e veja os resultados. Com certeza dentro da sua organização há um aliado importante para este projeto: o time de segurança ou de tecnologia. Eles, cada dia mais, estão buscando projetos multidisciplinares e ávidos para contribuir para o sucesso do negócio.
*Rafael Sampaio é Country Manager da NovaRed.
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