Ele tem a simplicidade dos clássicos, a estética das redes sociais e o sabor da memória afetiva. Inspirado na maçã do amor das festas juninas, o “Morango do Amor” caiu no gosto e na timeline dos brasileiros. Composto por morangos frescos, brigadeiro branco e calda vitrificada vermelha, o doce ganhou versões gourmetizadas, foi parar em confeitarias de supermercado e se transformou em ação promocional de grandes marcas. Em plena era dos virais, ele é a prova de que uma boa ideia, bem apresentada e bem conectada, pode gerar negócios exponenciais.
Do TikTok às docerias, a receita tem se espalhado com força. Um levantamento do iFood revela o impacto: os pedidos do doce saltaram de 11 mil em junho para mais de 275 mil em julho, um crescimento de 2.300%. Em unidades, foram mais de 524 mil morangos do amor entregues só neste mês, superando todo o volume de 2024. A tendência, segundo especialistas, é mais do que modinha: é uma oportunidade real de geração de renda e visibilidade para micro e pequenos empreendedores.
Para Janaína Camilo, especialista em Mercados e Transformação Digital do Sebrae, o sucesso do doce está na interseção entre desejo visual, apelo emocional e timing digital. “Um vídeo bonito, um nome criativo, uma imagem que dá vontade de comer e pronto. Em poucos dias, tá todo mundo querendo experimentar”, afirma.

Ela ressalta que o diferencial da trend está na possibilidade de adaptação rápida: o moranguinho é fácil de fazer, tem baixo custo e pode ser comercializado em diferentes canais, do delivery à rua.
A especialista reforça que o valor percebido está cada vez mais ligado à apresentação e à experiência. “As pessoas estão dispostas a pagar mais por versões gourmetizadas de algo tradicional porque não compram apenas o produto, mas a memória e o storytelling que vêm com ele.”
A recomendação para os pequenos negócios é clara: aproveitem o hype enquanto ele dura. “É preciso ter agilidade para adaptar o cardápio, dar um nome criativo e apostar nas redes. Com uma boa legenda e hashtags, mesmo quem tem poucos seguidores pode viralizar.”

A força do desejo nas redes
Dados da Fundação Getulio Vargas reforçam o peso da tendência. De acordo com Lilian Carvalho, coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV, as menções ao “Morango do Amor” nas redes são predominantemente positivas (93%) e revelam algo mais valioso do que engajamento: intenção de compra.
“Entre os termos mais citados, ‘comprei’ aparece em terceiro lugar. Isso demonstra que as pessoas não só acharam o doce bonito ou interessante, elas efetivamente o adquiriram. Essa é a diferença entre uma trend passageira e uma oportunidade de negócio real”, explica a pesquisadora.
Para ela, a comparação com modas anteriores, como os bonecos reborn, mostra como o “Morango do Amor” se destacou por sua popularidade orgânica e pela conexão emocional com o público – especialmente mulheres, que representam 64% das interações.

PME em destaque: de João Pessoa para todo o Brasil
O caso da confeitaria Atelier Nicole Santos, em João Pessoa, exemplifica como microempreendedores podem surfar na onda de maneira eficaz. Após notar a viralização do doce no TikTok, a chef incluiu a iguaria no cardápio do iFood e viu as vendas dispararem. “Vendemos toda nossa produção em 10 minutos no primeiro dia. Com isso, triplicamos o faturamento semanal e chegamos a mais de 200 pedidos por dia”, comemora.
Segundo ela, a estrutura oferecida pelo iFood — com dados, suporte e visibilidade — foi essencial para transformar uma trend em receita real. A plataforma também registrou um crescimento de 1.140% no número de estabelecimentos que adicionaram o “Morango do Amor” ao cardápio em julho, passando de 830 para mais de 10.300 lojas.

Marcas surfam na trend: St Marche e Avon
O apelo do “Morango do Amor” chegou também às grandes marcas. O St Marche, rede de supermercados premium de São Paulo, lançou duas versões da sobremesa: a tradicional e uma torta elaborada com massa sucrée, ganache de chocolate branco com leite em pó e morangos laminados. O produto, disponível nas 31 lojas da rede, aposta no desejo criado nas redes para converter em experiência de marca.
“Nossa proposta é transformar movimentos culturais em experiências gastronômicas com qualidade e criatividade”, explica Rafael Feitosa, gerente de produtos e qualidade do grupo. Com preço unitário de R$ 14,99 (100g), a torta atende tanto o consumidor que busca um doce viral quanto aquele que valoriza a sofisticação.
Já a Avon apostou na nostalgia. Em ação criada pela VML Brasil, a marca resgatou seu clássico Batom Moranguinho, sucesso dos anos 2000, para embarcar na trend com um toque afetivo. O lançamento veio com press-kits contendo o batom e o próprio morango do amor, distribuídos a influenciadores e jornalistas.

“Nosso Batom Moranguinho evoca memórias de infância, e unir essa lembrança com a trend atual faz todo sentido”, disse Valéria Campos, Head de Marketing de Maquiagem da Avon.
Como transformar um hype em negócio
Para quem deseja aproveitar a onda, o Sebrae e a FGV listaram algumas estratégias eficazes:
Aposte em personalização: crie variações com diferentes coberturas, recheios ou versões mini;
Venda kits “faça você mesmo”: surfando no desejo de experimentar e compartilhar;
Explore sazonalidades: Dia dos Pais, Dia das Crianças ou festas temáticas podem dar sobrevida à receita;
Use o digital com inteligência: vídeos bem produzidos, localização marcada, trilhas virais e interatividade ampliam o alcance;
Transforme produto em marca: capitalize o momento para construir base de seguidores e fidelizar novos clientes.
Leia também: As trends e o consumo de produtos: como as redes sociais têm o poder de influenciar no comportamento do consumidor
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