<p><strong>Marketing interno ou Endomarketing?</strong></p><p>Por Fl&aacute;vio T&oacute;fani*</p><p>Os termos marketing interno e endomarketing v&ecirc;m sendo usados, com freq&uuml;&ecirc;ncia, como sin&ocirc;nimos, o que acaba gerando uma confus&atilde;o conceitual, principalmente por autores nacionais. &Eacute; importante entender quais s&atilde;o as diferen&ccedil;as entre um e outro e a sua aplicabilidade nas organiza&ccedil;&otilde;es.</p><p>Souza e Santos (1992) apresentam uma defini&ccedil;&atilde;o do endomarketing levando em considera&ccedil;&atilde;o a quest&atilde;o da multidisciplinaridade para que se entenda o conceito. Eles defendem que:</p><p align="right"><em>O&nbsp;endomarketing por si s&oacute; n&atilde;o &eacute; capaz de trazer resultados positivos para a empresa. Ele &eacute; resultado de uma filosofia criada para tratar os relacionamentos do empregado com a empresa, refor&ccedil;ando condi&ccedil;&otilde;es de motiva&ccedil;&atilde;o e participa&ccedil;&atilde;o, agindo mais ao n&iacute;vel de cultura organizacional. O sucesso ou fracasso de um modelo estrat&eacute;gico fundamentado na participa&ccedil;&atilde;o e no engajamento dos empregados depender&aacute;, em muito, da congru&ecirc;ncia dos interesses desses com os da empresa e do retorno que ambos obter&atilde;o [...].&nbsp;</em></p><p>Os autores defendem que o endomarketing n&atilde;o &eacute; apenas uma t&eacute;cnica, mas carrega consigo concep&ccedil;&otilde;es de quatro rela&ccedil;&otilde;es humanas, rela&ccedil;&otilde;es de troca e de administra&ccedil;&atilde;o estrat&eacute;gica. Al&eacute;m disso, &eacute; um tema multidisciplinar e deve receber contribui&ccedil;&otilde;es de v&aacute;rias &aacute;reas do conhecimento. </p><p>Por&eacute;m, foi Inkotte (2000) quem prop&ocirc;s uma diferencia&ccedil;&atilde;o de conceitos, defendendo que o marketing interno &eacute; uma prepara&ccedil;&atilde;o da empresa, e isso passa pela sele&ccedil;&atilde;o, treinamento, motiva&ccedil;&atilde;o e informa&ccedil;&atilde;o dos funcion&aacute;rios, com o objetivo bem definido de mobilizar toda a organiza&ccedil;&atilde;o para o atendimento &agrave;s necessidades do cliente externo. Enquanto o endomarketing &eacute; uma evolu&ccedil;&atilde;o do conceito de marketing interno e deve ser entendido, segundo Inkotte (2000), como uma forma opcional de gest&atilde;o para aquelas empresas que j&aacute; utilizam das estrat&eacute;gias de marketing, tendo o cliente interno como um segmento de mercado e adaptando-se para motivar, conquistar, encantar e fidelizar seus funcion&aacute;rios, tornando a empresa atrativa, por diversas raz&otilde;es, para o cliente interno.</p><p>N&atilde;o h&aacute; como ofertar ao mercado excelentes servi&ccedil;os se internamente a organiza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o consegue administrar os anseios e desejos de seu pessoal.</p><p>Inkotte (2000) apresenta, tamb&eacute;m, uma diferencia&ccedil;&atilde;o entre os conceitos de p&uacute;blico interno e cliente interno, sendo o primeiro o grupo alvo das tarefas de comunica&ccedil;&atilde;o interna, enquanto o segundo pode ser entendido como um grupo de funcion&aacute;rios para quem a empresa &eacute; ofertada como um produto. &Eacute; importante acrescentar a esses conceitos a id&eacute;ia de que, mesmo que a comunica&ccedil;&atilde;o pressuponha algum retorno proveniente da mensagem recebida, essa comunica&ccedil;&atilde;o interna, atualmente praticada por algumas empresas, por melhor que seja planejada, ainda faz do seu p&uacute;blico um target, um alvo, num processo de comunica&ccedil;&atilde;o receptiva, que trabalha levemente a participa&ccedil;&atilde;o do funcion&aacute;rio, mas n&atilde;o o tira da passividade ainda. </p><p>Ao se trabalhar o conceito de cliente interno, pressup&otilde;e-se que o funcion&aacute;rio seja mais ativo no processo comunicativo e de intera&ccedil;&atilde;o com a organiza&ccedil;&atilde;o.</p><p><span class="texto_laranja_bold">O composto de Endomarketing</span><br />Assim como McCarthy prop&ocirc;s a teoria dos 4Ps do marketing, chamada de composto de marketing, o prof. Robert Launterborn descreveu a teoria dos 4Cs (cliente, custo, conveni&ecirc;ncia e comunica&ccedil;&atilde;o) e o Raimar Richers inteligentemente criou a vis&atilde;o sist&ecirc;mica dos 4 As (an&aacute;lise, adapta&ccedil;&atilde;o, ativa&ccedil;&atilde;o e avalia&ccedil;&atilde;o), alguns autores tamb&eacute;m deram a sua contribui&ccedil;&atilde;o, propondo o composto de endomarketing ou endomarketing-mix.</p><p>Piercy e Morgan (apud PONCE, 1995, p.25) sugerem que as mesmas t&eacute;cnicas de comunica&ccedil;&atilde;o e an&aacute;lise utilizadas para abordar os clientes externos deveriam ser adaptadas e usadas para difundir as estrat&eacute;gias e planos para objetivos importantes dentro da organiza&ccedil;&atilde;o. Assim, eles desenvolveram uma estrutura de marketing interno baseada nos seguintes termos:<br />ï?§&nbsp;Produto: s&atilde;o as estrat&eacute;gias e o plano de marketing no qual elas est&atilde;o contidas. Contudo, o que est&aacute; impl&iacute;cito &eacute; que o produto a &ldquo;ser vendido&rdquo; &eacute; composto pelos valores, atitudes e comportamentos que s&atilde;o necess&aacute;rios para fazer o plano de marketing funcionar;<br /><br />ï?§&nbsp;Pre&ccedil;o: o que os clientes internos devem &ldquo;pagar&rdquo; quando eles compram o produto e o plano do marketing. Isso pode incluir o sacrif&iacute;cio de outros projetos que competem com o plano de marketing, mas, fundamentalmente, refere-se ao custo psicol&oacute;gico a ser pago pela ado&ccedil;&atilde;o de valores-chave diferentes e da mudan&ccedil;a da forma como os trabalhos s&atilde;o feitos;<br /><br />ï?§&nbsp;Comunica&ccedil;&atilde;o: usada para informar, persuadir e trabalhar as atitudes do pessoal chave no mercado interno;<br /><br />ï?§&nbsp;Distribui&ccedil;&atilde;o: este elemento est&aacute; preocupado com os lugares f&iacute;sicos e s&oacute;cio-t&eacute;cnicos nos quais devem ser entregues os produtos e suas comunica&ccedil;&otilde;es: reuni&otilde;es, sess&otilde;es de treinamento, semin&aacute;rios, etc.</p><p>Por&eacute;m, Flipo (apud PONCE, 1995, p.28) utiliza tamb&eacute;m o composto de marketing para explicar a fun&ccedil;&atilde;o do marketing interno, atribuindo o produto ao emprego oferecido pelo empregador ao funcion&aacute;rio; o pre&ccedil;o refere-se ao custo psicol&oacute;gico para um funcion&aacute;rio permanecer numa situa&ccedil;&atilde;o de trabalho n&atilde;o satisfat&oacute;ria; a distribui&ccedil;&atilde;o seria o espa&ccedil;o geogr&aacute;fico onde os funcion&aacute;rios estariam alocados e a promo&ccedil;&atilde;o seria a comunica&ccedil;&atilde;o das estrat&eacute;gias corporativas.</p><p>Uma das maiores contribui&ccedil;&otilde;es atuais para o entendimento do endomarketing-mix &eacute; apresentada por Inkotte (2000), baseada nos conceitos do marketing tradicional e que se configura da seguinte maneira:<br />ï?§&nbsp;O Produto, que &eacute; planejado para atender as necessidades e desejos do consumidor, passa a ser a Companhia, a organiza&ccedil;&atilde;o, adaptada para atender &agrave;s expectativas do cliente interno, oferecendo motiva&ccedil;&atilde;o e bem-estar aos seus funcion&aacute;rios como forma de encant&aacute;-lo;<br /><br />ï?§&nbsp;O Pre&ccedil;o, que determina o valor de venda do produto e &eacute; fixado com base nos custos de produ&ccedil;&atilde;o e fatores mercadol&oacute;gicos, &eacute; substitu&iacute;do pelo elemento Custos, que significa o investimento que a empresa faz em seus clientes internos, levando-se em considera&ccedil;&atilde;o a remunera&ccedil;&atilde;o, treinamentos, benef&iacute;cios, entre outros;<br /><br />ï?§&nbsp;A pra&ccedil;a, que compreende a sele&ccedil;&atilde;o e controle das vias de distribui&ccedil;&atilde;o, visando a disponibiliza&ccedil;&atilde;o dos produtos em tempo e locais apropriados, eq&uuml;ivale, no endomarketing-mix, aos Coordenadores, pessoas respons&aacute;veis em disseminar as informa&ccedil;&otilde;es na organiza&ccedil;&atilde;o e a cultura do endomarketing;<br /><br />ï?§&nbsp;A Promo&ccedil;&atilde;o, que tem por objetivos tornar o produto conhecido e estimular a demanda, tem seu correspondente no elemento Comunica&ccedil;&atilde;o, que abrange diversas atividades de coleta e dissemina&ccedil;&atilde;o de informa&ccedil;&otilde;es.</p><p>A proposta apresentada por Inkotte (2000), que por &ldquo;coincid&ecirc;ncia, ou n&atilde;o&rdquo;, conforme o pr&oacute;prio autor afirma, &eacute; baseada em 4 Cs (companhia, custos, coordenadores e comunica&ccedil;&atilde;o) merece alguma aten&ccedil;&atilde;o em fatores meramente sem&acirc;nticos, como:<br />ï?§&nbsp;Quando o autor fala que o produto &eacute; a companhia, vale ressaltar que est&atilde;o inclu&iacute;das as empresas, institui&ccedil;&otilde;es, organiza&ccedil;&otilde;es governamentais e n&atilde;o-governamentais, que podem ter a cultura do endomarketing implantadas com &ecirc;xito;<br /><br />ï?§&nbsp;Ao se referir aos coordenadores, equivalentes &agrave; pra&ccedil;a no marketing, Inkotte deixa bem claro que todos dentro da empresa podem assumir esse papel, sendo chefias intermedi&aacute;rias, l&iacute;deres de opini&atilde;o ou qualquer outro indiv&iacute;duo que volunt&aacute;ria ou involuntariamente disseminam a nova cultura. Por&eacute;m, n&atilde;o &eacute; necess&aacute;rio que o agente chamado de &ldquo;pra&ccedil;a&rdquo; seja um chefe. Ele pode ser um l&iacute;der informal que possua poder de persuas&atilde;o e influ&ecirc;ncia.<br /><br />ï?§&nbsp;Os custos, que equivalem ao pre&ccedil;o no marketing, s&atilde;o, na verdade, investimentos que a organiza&ccedil;&atilde;o faz em seu pessoal interno, buscando o seu aprimoramento e satisfa&ccedil;&atilde;o, dentre os quais est&atilde;o treinamentos, benef&iacute;cios, sal&aacute;rio, plano de carreira, participa&ccedil;&atilde;o nos lucros, entre outras.<br /><br />ï?§&nbsp;A comunica&ccedil;&atilde;o interna, que antes era vista por muitos como sin&ocirc;nimo do marketing interno, pode utilizar todos os instrumentos do composto promocional tradicional, ou seja: rela&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas, propaganda, for&ccedil;a de vendas, promo&ccedil;&atilde;o de vendas, marketing direto e merchandising, para atrair, estimular, informar e aproximar-se dos funcion&aacute;rios.</p><p>Torna-se, dessa maneira, poss&iacute;vel entender como &eacute; que funciona, na pr&aacute;tica, o processo de gest&atilde;o do endomarketing (foco no cliente interno), com as suas caracter&iacute;sticas e seus principais instrumentos. A adequa&ccedil;&atilde;o do endomarketing-mix a cada tipo de organiza&ccedil;&atilde;o deve ser bem planejada e contar com a participa&ccedil;&atilde;o do maior n&uacute;mero de pessoas.</p><p>* Fl&aacute;vio T&oacute;fani &eacute; graduado em Comunica&ccedil;&atilde;o Social &ndash; Rela&ccedil;&otilde;es P&uacute;blicas (UNI-BH), Especialista em Marketing (UFMG) e em Gerenciamento de Pequenas e M&eacute;dias Empresas (UFLA) e Mestre em Marketing (UFSC). &Eacute; professor na gradua&ccedil;&atilde;o e p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o de diversas IES, como: Centro Universit&aacute;rio de Belo Horizonte - UNI-BH, FATEC-FIEMG, Centro Universit&aacute;rio Newton Paiva, Universidade Pit&aacute;goras e FUMEC, al&eacute;m de Coordenador e professor do Curso de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Gest&atilde;o de Marcas e Identidade Corporativa da PUC/MG. &Eacute; tamb&eacute;m Consultor de empresas nas &aacute;reas de Marketing Educacional, Comunica&ccedil;&atilde;o Integrada, Comunica&ccedil;&atilde;o Interna e Endomarketing, al&eacute;m de Presidente da CASDEC. </p>
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