<p><strong>Marketing &eacute; circunst&acirc;ncia</strong></p><p><strong>*</strong>Daniel Domeneghetti</p><p>Vivemos &eacute;pocas de ang&uacute;stia generalizada. E &eacute; sabido que o consumo &eacute; dos melhores escapes que o ser humano encontrou ao longo de sua evolu&ccedil;&atilde;o para equilibrar as sensa&ccedil;&otilde;es de perda, derrota, fracasso, medo, inseguran&ccedil;a e tristeza, t&atilde;o naturais de nossa natureza. Assim, quando se diz que consumo &eacute; impulso, n&atilde;o se exagera em momento algum. Consumo, no fundo, &eacute; uma atividade motivada por algo; portanto, impulsionada.<br /><br />A ess&ecirc;ncia e o reason why desse impulso e motiva&ccedil;&otilde;es podem ter in&uacute;meras origens e in&uacute;meros prop&oacute;sitos. Freud definiu as motiva&ccedil;&otilde;es humanas em dois grupos: fugir da dor (compra por necessidade, restri&ccedil;&atilde;o, desespero, imposi&ccedil;&atilde;o etc) ou buscar o prazer (compra por desejo, sonho, competi&ccedil;&atilde;o, satisfa&ccedil;&atilde;o etc). E &eacute; assim que funciona mesmo. Ou consumimos para fugir da dor (rem&eacute;dios e passagens a&eacute;reas) ou para buscar o prazer (medicamentos e passagens a&eacute;reas).<br /><br />Explico: Se compramos um rem&eacute;dio para nos medicarmos contra uma infec&ccedil;&atilde;o intestinal, adquirimos um produto para fugir da dor. Denomino isso de Consumo Defensivo. Ao contr&aacute;rio, se compramos um rem&eacute;dio para ajudar a definir esteticamente nosso abd&ocirc;men, consumimos algo em busca do prazer. Denomino isso de Consumo Positivo.<br /><br />Na mesma toada, se compramos uma passagem a&eacute;rea para mudarmos de cidade porque n&atilde;o ag&uuml;entamos mais a viol&ecirc;ncia, praticamos consumo defensivo, ao passo que, se compramos uma passagem a&eacute;rea para viajarmos por 15 dias de f&eacute;rias na Polin&eacute;sia, praticamos consumo positivo. Isso significa que o tipo de consumo e nossas motiva&ccedil;&otilde;es DEPENDEM. Do qu&ecirc;? Das circunst&acirc;ncias em que vivemos.<br /><br />Essa talvez seja a principal li&ccedil;&atilde;o da ci&ecirc;ncia da gest&atilde;o proposta por Clemente N&oacute;brega em seu &uacute;ltimo livro: Marketing &eacute; circunst&acirc;ncia. A ess&ecirc;ncia do marketing &eacute; o ser humano; portanto, marketing &eacute;, antes de tudo, antropomarketing.<br /><br />Desse modo, sugiro fortemente aos estrategistas e planejadores de Marketing que, ao definirem seu pr&oacute;ximo mercado, planejarem seu futuro lan&ccedil;amento, constru&iacute;rem sua estrat&eacute;gia de posicionamento de marca e estrutura de alian&ccedil;as e distribui&ccedil;&atilde;o, somente o fa&ccedil;am se tiverem mapeado, em qualidade, as circunst&acirc;ncias em que esse novo produto, servi&ccedil;o ou marca pode interagir com o consumidor potencial, se concentrando menos em atributos (tanto do consumidor quanto do produto/servi&ccedil;o em si) e mais no processo de intera&ccedil;&atilde;o (raz&otilde;es, momentos, valores). <br /><br />Isso porque pessoas querem que tarefas sejam feitas e produtos e servi&ccedil;os sejam refor&ccedil;ados pela marca e por tudo mais que os envolve (distribui&ccedil;&atilde;o, promo&ccedil;&otilde;es, vantagens, embalagens, propaganda etc), e que as necessidades sejam supridas nas circunst&acirc;ncias em que &eacute; necess&aacute;rio que sejam &ndash; e isso depende!<br /><br />Neste caso, a pergunta certa a se fazer n&atilde;o &eacute; &ldquo;Quem compraria esse novo produto que queremos lan&ccedil;ar&rdquo; ou &ldquo;Quanto um cliente pagaria por este servi&ccedil;o extra&rdquo;, mas sim &ldquo;Em que circunst&acirc;ncia (momento, situa&ccedil;&atilde;o etc) esse meu produto (qual, como) resolveria (de que forma) algum problema (qual problema) de algum tipo de pessoa (os clientes potenciais)&rdquo; ou &ldquo;Quanto vale (valor de percep&ccedil;&atilde;o traduzido em moeda) resolver (como, quando) este problema (qual) para aquela pessoa (qual) com esse servi&ccedil;o extra (qual, como)?&rdquo;.<br /><br />Isso &eacute; planejar marketing para circunst&acirc;ncias. Responder a essas quest&otilde;es &eacute; entender de consumo, bem como das motiva&ccedil;&otilde;es e aspira&ccedil;&otilde;es dos consumidores. Quer testar?<br /><br />Quanto voc&ecirc; pagaria por um hot dog em uma van na Avenida Paulista (1)? Um, dois, at&eacute; tr&ecirc;s reais... n&atilde;o mais do que isso, certo? <br /><br />E quanto voc&ecirc; pagaria por um hot dog em uma lanchonete do tipo New Dog ou Fifties (2)? Cinco, seis reais, certo? Opa! A marca e a experi&ecirc;ncia, que trazem consigo a percep&ccedil;&atilde;o superior de qualidade pesaram e voc&ecirc; aceitou pagar mais por, basicamente o mesmo produto, certo?<br /><br />Agora pergunto: quanto voc&ecirc; pagaria por um hot dog se estivesse na Som&aacute;lia em uma tribo passando fome (3)? Ah! N&atilde;o tem pre&ccedil;o?! <br /><br />Obrigado por comprovar minha tese de que o pre&ccedil;o n&atilde;o &eacute; atributo do produto, mas fruto da percep&ccedil;&atilde;o do cliente, derivada de sua situa&ccedil;&atilde;o circunstancial. Nos tr&ecirc;s exemplos acima, passamos de comer, se alimentar (1), para sair, se divertir (2), para sobreviver (3). <br /><br />O mesmo produto para a mesma pessoa, em circunst&acirc;ncias diferentes, t&ecirc;m valores (portanto pre&ccedil;os) diferentes.<br /><br />Marketing circunstancial &eacute; isso. Menos atributos e mais circunst&acirc;ncias. Sacar isso (e conseguir mapear e planejar em cima) &eacute; entender praticamente tudo!</p><p>*<em>Daniel Domeneghetti &eacute;&nbsp;CEO da DOM Strategy Partners, s&oacute;cio-fundador da E-Consulting Corp., presidente do Instituto Tit&atilde;s e vice-presidente de M&eacute;tricas e Conhecimento da Camara-e.net (C&acirc;mara Brasileira de Com&eacute;rcio Eletr&ocirc;nico).</em></p>
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