O sucesso nas redes sociais e seu poder de conversão de seguidores em consumidores faz com que muitos influenciadores comecem a pensar em lançar suas próprias marcas, seus próprios produtos, seja por meio de “empréstimo” de seu nome para produtos de outras empresas, seja por empreender mesmo, constituindo empresa, contratando funcionários, desenvolvendo produtos e os vendendo.
A questão é simples: “se converto em vendas para meus clientes, por que não posso converter para uma marca própria?”. Parece óbvio, correto? A resposta, contudo, não é simples e, na maioria das vezes, o resultado é negativo.
Muitos influenciadores, investidores e parceiros, com base em grandes números e nas altas taxas de conversão, se esquecem de analisar premissas básicas de negócios, de como empreender, de que o ciclo de desenvolvimento de um negócio é, em 99% das vezes, longo, complexo, requer profissionalismo, investimento, fôlego!
Empreender requer lidar com análise de vendas, estratégia de vendas, online ou físicas, contabilidade, recursos humanos, imobiliário, jurídico, análise financeira, estratégia financeira, logística, tributos, percepção de mercado, análise de supply chain, prestadores de serviços, custo de capital etc.
Em estudo feito pelo IBGE em 2020, uma a cada cinco empresas, não dura um ano. Quando forem micro ou pequenas, 80% delas não completam aniversário. Diferentemente da esmagadora maioria das empresas, aquelas constituídas por influenciadores têm uma vantagem considerável: o poder de venda desses profissionais. Qual empreendedor não gostaria de ter como cara de sua marca um grande influenciador, com um público cativo ali que já o conhece? O grande erro, entretanto, é achar que só isso seja suficiente.
Há muitos casos de insucesso em empreendimentos de influenciadores, em especial por desconsiderar a complexidade de se desenvolver um negócio no país. Além disso, a maior parte das marcas de influenciadores é com a própria cara do influenciador, se confundindo com ele, não conseguindo esses influenciadores fazerem a marca crescer sem seu rosto.
Recentemente, minha esposa, que é uma grande influenciadora e eu nos decidimos a empreender juntos, desenvolver uma marca de pijamas, um item que ela usa muito em seu conteúdo nas redes sociais: marca registrada. Demoramos um ano planejando, maturando a ideia, fazendo cursos, nos especializando, investindo em seu desenvolvimento, tentando sair do óbvio, buscar algo novo. Adiamos algumas vezes o lançamento, para ajustar a operação, corrigir possíveis erros. Começamos, primeiramente, sem alarde, apenas anunciando em seu canal de transmissão do Instagram, com poucos seguidores (0,009% da sua base).
Ao lançar, mesmo para um pequeno público, tivemos ruídos na operação, no site, na plataforma de e-commerce. Contudo, por termos planejado antes e sabermos que poderíamos ter contratempos, pudemos corrigir o curso, sem maiores danos. O período mais “low profile” nos permitiu, portanto, entender os fluxos, o que o público gostava, o que não gostava tanto, o que dava certo e o que dava errado. Por ter sido um “soft opening”, qualquer problema também foi menor do que poderia ter sido. O que precisou ser mudado, foi.
E assim prosseguimos e apenas começamos a divulgar em escala maior há poucos meses, depois de estarmos seguros. Mesmo assim, ainda não atingimos nosso potencial máximo, muito menos começamos a expandir para outras linhas de marketing, como contratação de outros influenciadores, divulgações com terceiros etc. Embora já estejamos melhor preparados, precisamos nos adaptar e readaptar ao longo do curso e, não temos dúvidas, precisaremos no futuro. Não para.
Contratempos no mundo empresarial sempre existirão. A questão mesmo é saber lidar com os desafios, saber que a jornada é longa, que precisamos ter jogo de cintura, planejamento e capacidade de se replanejar. O Brasil não é para amadores.
Marcas de influenciadores, portanto, têm um grande potencial de crescimento e sucesso. Entretanto, a falta de planejamento, preparação e entendimento, tanto por parte do próprio influenciador quanto de investidores, vem levando a maior parte das marcas a não evoluírem. Planeje, análise, prepare-se, tenha fôlego, pense em investimento de longo prazo, adapte-se e readapte-se, inove, engaje-se.
*Paulo Duarte é Sócio do Escritório Stocche Forbes e Influenciador Digital - @pauloduartefilho
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