Consumo é algo dinâmico. Nenhum mercado está isento de transformações. No setor de mídia não é diferente. A pandemia do novo coronavírus, que fez parte importante da humanidade se trancar em casa, aprofundou mudanças já detectadas nos últimos anos. Uma delas é o aumento do tempo gasto pelas pessoas vendo conteúdos feitos especialmente para Internet. As transmissões ao vivo, mais conhecidas como lives, ganharam destaque. Elas estimulam a interatividade, fazem companhia e, muitas vezes, oferecem formatos semelhantes àqueles que o público já se acostumou a ver nos canais convencionais de televisão.
A live feita pela dupla sertaneja Jorge e Mateus no último sábado (4/1) coroou esse fenômeno ao bater a marca de três milhões de visualizações simultâneas no YouTube. Trata-se de um feito que merece ser analisado com atenção e, por que não?, admiração. Contudo, não é justo utilizar esse caso como pretexto para, através da distorção de dados, pintar uma imagem de terra arrasada para aqueles que trabalham e investem em outras mídias além da web.
Para ganhar curtidas, houve quem comparasse o número de visualizações simultâneas que o YouTube, sem qualquer checagem externa, disse ter conseguido com a audiência de TV auferida pela Kantar IBOPE Media. É errado comparar dados obtidos através de métodos tão distintos. Por exemplo: enquanto o YouTube conta acessos vindos de celulares e computadores de todo o planeta, o painel regular de televisão considera uma amostra de domicílios em apenas 15 regiões metropolitanas brasileiras. Além disso, o real time de TV segue critérios distintos daqueles usados pelo YouTube quando trata de conectados simultâneos. E existem muitas outras diferenças.
É certo que a ação da dupla Jorge e Mateus merece aplausos. É certo que o consumo de conteúdo está, como sempre esteve, em transformação. Mas é errado disseminar previsões baseadas em análises equivocadas. Nunca é demais lembrar que mídias não morrem. O que morre são aparelhos antigos e métodos ultrapassados.
Vivemos o tempo do e, não do ou. Quanto mais opções nos oferecerem, mais consumiremos. Nosso cotidiano caótico comprova isso. Estamos em uma sociedade de consumo e, nela, a palavra de ordem é acúmulo. Isso vale para tudo, inclusive informação e entretenimento.
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