Até o início do milênio, boa parte dos talentos formados nos cursos da área de tecnologia na Universidade Federal de Pernambuco se deparavam com dois caminhos após a graduação: buscar oportunidades de trabalho fora do estado ou, em outros casos, fora do país.
24 anos mais tarde, os egressos da instituição ainda podem optar pela busca por carreiras fora do estado, se assim desejarem. No entanto, as vagas exteriores precisam ser boas o suficiente para rivalizar com as ofertas de grandes empresas que, agora, podem ser encontradas no “quintal de casa” dos recém-formados.
Atualmente, um conglomerado de 415 empresas, como Accenture, Deloitte, Globo, NTT Data, Stellantis e Uber, compõem o chamado Porto Digital, um pólo tecnológico instalado no coração de Recife. Juntas, as organizações participantes empregam mais de 18 mil funcionários e foram responsáveis por um faturamento de R$ 5,40 bilhões em 2023.
Um legado em construção
Um dos principais idealizadores do Porto Digital foi o professor emérito do Centro de Informática da UFPE, Silvio Meira. Junto com outros docentes da Universidade Federal de Pernambuco, o acadêmico buscou criar um espaço dedicado à formação e capacitação de capital humano, visando atender à crescente demanda por profissionais qualificados.
A capacitação de profissionais preparados para lidar com os desafios impostos pela chegada de uma nova era tecnológica promete ser um dos maiores – se não o maior – legado deixado pelo parque, que conta com o apoio da Prefeitura do Recife e de instituições públicas e privadas de ensino para atrair novos talentos.
Segundo Mariana Pincovsky, Diretora Executiva no Porto Digital (e egressa da UFPE), uma das medidas tomadas pelo Porto Digital neste sentido é o programa "Embarque Digital", que visa formar 2 mil jovens egressos de escolas públicas em cursos superiores de Análise de Desenvolvimento de Sistemas e Sistemas para a Internet.
Durante os programas de capacitação, a Universidade Federal de Pernambuco e outras instituições de ensino superior trabalham em conjunto com o Porto para modelar currículos e oferecer uma formação mais alinhada às necessidades do mercado. “Já as empresas do parque atuam como mentoras, trazendo problemas reais para serem resolvidos pelos alunos, o que facilita a integração entre a academia e a indústria”, conta Mariana.
Com as políticas de admissão de novos alunos e a expansão de empresas embarcadas no Porto, a iniciativa espera alcançar resultados promissores nos próximos anos. “Temos uma meta ousada de alcançar 50 mil colaboradores até 2050, o que representa um crescimento significativo em relação ao número atual, de 18 mil colaboradores”, ponderou a executiva.
Uma questão social
Mais que capacitar jovens talentos para o exercício das profissões do futuro, o Embarque Digital passou a funcionar como um mecanismo social em Recife. “Este é um programa em larga escala de inclusão produtiva. 88% dos novos alunos que passaram por aqui tinham renda familiar de até três salários mínimos. 56% tinham dificuldade de acesso à internet em suas casas”, contextualizou a Diretora.
Até aqui, o programa tem mostrado resultados sociais positivos, com uma taxa de evasão escolar significativamente menor do que a média nacional. O programa também se destaca por sua diversidade, com 69% dos alunos sendo negros ou pardos e 35% mulheres – superando a média nacional de 16,3% de mulheres na área de tecnologia.
Realizado em parceria com instituições como o Centro Universitário Maurício de Nassau e a Faculdade Senac, o programa é aberto a estudantes residentes e domiciliados no Recife, que tenham cursado o Ensino Médio na Rede Pública e tenham realizado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
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