A agenda de eventos de marketing, inovação e criatividade nunca esteve tão intensa. Desde março, temos vivido uma sequência quase ininterrupta de festivais, summits e conferências. E eu confesso: sou entusiasta desse ecossistema. Gosto de construir minhas próprias trilhas, ouvir diferentes perspectivas, conectar ideias e, principalmente, encontrar pessoas.
Mas, entre um painel e outro, me pego pensando: há espaço — de fato — para que as lideranças de marketing decantem, processem e apliquem os aprendizados junto aos seus times? Ou estamos apenas seguindo, no automático, de evento em evento, fascinados pela próxima tendência, mas sem tempo para traduzi-la em ação estratégica?
Pode parecer insistente da minha parte, mas volto ao que considero o pilar negligenciado da transformação contemporânea: a segurança psicológica.
Recentemente, apresentei meu trabalho de conclusão do curso de Psicologia com foco nesse tema — tão essencial quanto subestimado em ambientes de alta performance. E embora o recorte da pesquisa não tenha sido voltado especificamente para marketing, os aprendizados que emergiram são extremamente relevantes para as áreas de comunicação e estratégia.

Segundo Timothy Clark, “a tarefa do líder é aumentar o atrito intelectual e reduzir o atrito social.” Em outras palavras: criar espaço para que ideias, argumentos e preocupações possam ser debatidos com profundidade — independentemente de cargos.
Amy Edmondson e Adam Grant reforçam que equipes psicologicamente seguras operam sob uma cultura de aprendizagem contínua. Não é apenas sobre errar e aprender, mas sobre ter abertura constante para escuta, diálogo e reposicionamento.
Dados recentes da American Psychological Association (APA) mostram que profissionais que atuam em ambientes psicologicamente seguros apresentam níveis significativamente menores de exaustão emocional, sensação de ineficácia, falta de motivação e baixa produtividade — inclusive em comparação a pessoas satisfeitas com sua liderança direta.
E, para quem valoriza resultados mensuráveis, um estudo publicado pela MIT Sloan em 2025 apresentou o caso de um banco escandinavo com 168 anos de história. Após treinar suas lideranças em habilidades ligadas à segurança psicológica — com diálogos estruturados aplicados a problemas reais e práticas de tomada de perspectiva — a instituição superou em 25% suas metas anuais em um dos segmentos mais estratégicos do negócio.
Diante disso, lanço um convite à reflexão: no marketing e na comunicação, será que não estamos olhando demais para fora — para o torpor dos eventos — e negligenciando o que acontece dentro das nossas equipes? Estamos, de fato, prontos para fomentar conversas difíceis e explorar caminhos verdadeiramente disruptivos?
A tecnologia continuará a evoluir e de forma cada vez mais acelerada. Mas, sem pessoas preparadas para extrair o melhor dela, seremos apenas operadores táticos da próxima novidade, sem clareza sobre o que realmente transforma os negócios.
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