O setor de comunicação corporativa chegou a um ponto crítico, uma encruzilhada que exige reflexão e ação imediatas. Diariamente, testemunhamos um cenário alarmante: clientes insatisfeitos com seus assessores, agências desesperadas por atenção da mídia e jornalistas afogados em uma avalanche interminável de informações. A causa desse caos? Uma dependência quase patológica do press release como estratégia única de comunicação.
A magnitude desse problema é assustadora. Segundo a Mega Brasil Comunicação, todos os meses são disparados quase 55 mil press releases para mais de 760 mil endereços de e-mail. Mas isso é apenas a ponta do iceberg. Dados da I'Max revelam uma realidade ainda mais sombria: mensalmente, 16 milhões de e-mails com supostas "pautas quentes" inundam as caixas de entrada dos jornalistas brasileiros. O resultado é uma cacofonia de vozes perdidas no vazio digital.
O mercado tem respondido a essa saturação de formas variadas e, muitas vezes, desesperadas. Alguns criaram bots no WhatsApp para redirecionar mensagens para e-mails já abarrotados. Outros optaram por respostas automáticas educadas, mas que na prática servem apenas para adiar uma rejeição quase certa. Não faltaram aqueles que recorreram às redes sociais para expressar sua frustração, ora com indignação aberta, ora com humor ácido. Essas reações, embora compreensíveis, são apenas paliativas para um problema sistêmico que exige uma solução mais profunda.

Como profissional sentado na cadeira de liderança de comunicação corporativa, reconheço nossa parcela de culpa nesse cenário. Pressionamos incessantemente por números, gerenciamos por planilhas e, no processo, esquecemos o princípio fundamental de nossa profissão: a gestão da reputação é um trabalho contínuo e infinito, não uma corrida por menções na mídia. Transformamos o press release em nossa única ferramenta, aplicando-o indiscriminadamente a cada nova situação, seja uma aquisição importante, um estudo inovador ou até mesmo a mais trivial das mudanças em um aplicativo.
Nessa busca frenética por visibilidade imediata, trocamos nossa maior força - a criatividade - por uma atividade mecanizada e repetitiva. Esquecemos que as relações públicas vão muito além da assessoria de imprensa. Nossa verdadeira missão é gerir a influência sobre as diversas comunidades com as quais buscamos nos relacionar, sejam elas a imprensa, clientes, colaboradores, investidores, a sociedade civil ou o governo.
É hora de ressignificar nossa profissão. Proponho uma definição mais ampla e alinhada com nosso verdadeiro valor: as relações públicas como a arte e ciência de gerir a influência sobre as diversas comunidades relevantes para uma organização. Essa visão traz implicações importantes. Primeiro, reconhece que a influência não é algo imediato, mas um processo que requer tempo, empatia e conhecimento profundo do outro. Segundo, nos leva a olhar além da imprensa, considerando todo o ecossistema em que as empresas estão inseridas. E, por fim, coloca o relacionamento genuíno no centro de nossa atuação.

Aqueles que insistirem apenas no envio massivo de press releases correm o risco de se tornarem obsoletos. Não é difícil imaginar um futuro próximo onde a inteligência artificial será capaz de escrever e disparar releases com eficiência e qualidade superiores às humanas. Se não quebrarmos esse ciclo vicioso, corremos o risco de ver nossa profissão ser substituída por algoritmos mais ágeis e incansáveis.
A boa notícia é que podemos mudar esse cenário. A comunicação pode e deve ser menos tóxica, mais estratégica e verdadeiramente impactante. Para isso, precisamos agir agora. Devemos repensar nossas métricas de sucesso, indo além do simples número de menções. É fundamental investir em relacionamentos genuínos com nossas diversas comunidades, priorizando a criatividade e estratégias personalizadas sobre o volume bruto de releases. Temos a responsabilidade de educar o mercado sobre o valor real das relações públicas e colaborar com nossos pares para estabelecer novas práticas e padrões na indústria.
O resgate da comunicação começa hoje, com cada um de nós. Estamos diante de uma oportunidade única de redefinir nossa profissão e nosso impacto no mundo dos negócios e na sociedade. A revolução nas relações públicas não será anunciada por um press release, mas construída através de relacionamentos autênticos, estratégias criativas e uma visão de longo prazo. Você está pronto para liderar essa transformação?
COMPARTILHAR ESSE POST