Costuma-se acreditar que a criatividade é privilégio de poucos, um dom concedido a gênios iluminados. Essa narrativa, romantizada desde os tempos de Michelangelo, ainda ecoa no imaginário coletivo, mas não resiste ao olhar contemporâneo. A criatividade não é dádiva, é construção. E como toda construção, exige base sólida.
No livro Criatividade Hackeada, que acaba de chegar às livrarias físicas e digitais, defendo que qualquer pessoa pode desenvolvê-la a partir de cinco pilares fundamentais: identidade, treino, ação, ferramentas e experimentação. Esses pilares não se restringem ao campo artístico; aplicam-se aos desafios mais variados da vida, do ambiente corporativo às relações pessoais, e tornam-se aliados poderosos na busca por soluções e resultados positivos.
Quando a criatividade não é estimulada, o resultado é um ambiente de rigidez, inflexibilidade e relações frágeis. No mundo corporativo, isso se traduz em números preocupantes. O Brasil tem uma das maiores taxas de turnover do planeta, chegando a 56% ao ano em setores como varejo e serviços, segundo a Robert Half. A consultoria McKinsey mostra ainda que 85% dos executivos brasileiros reconhecem problemas de colaboração e comunicação como barreiras críticas para a sustentabilidade dos negócios.

Esses dados revelam que não estamos falhando apenas em processos, mas na forma como nos relacionamos. E é nesse ponto que a criatividade faz diferença: ela nos permite enxergar novas formas de diálogo, resolver conflitos com flexibilidade e construir ambientes mais férteis para a inovação.
O desenvolvimento criativo começa quando olhamos para dentro e compreendemos nossa identidade, pois sem clareza de propósito toda tentativa perde força. Exige treino constante, como um músculo que só se fortalece com repetição. Pede coragem para agir, levando ideias ao campo real e aprendendo com erros e acertos. Demanda ferramentas, métodos e técnicas que ampliam repertórios. E depende da conexão com a diversidade de pessoas e vivências, pois ninguém cria sozinho.
Quando esses pilares se combinam, os resultados são tangíveis. A Gallup estima que organizações que estimulam ambientes criativos registram 20% mais engajamento e 17% mais produtividade. Não se trata, portanto, de luxo ou abstração, mas de estratégia de sobrevivência em um mundo cada vez mais incerto.

Eu mesmo sou prova de que criatividade é construção. Durante anos, não me considerei criativo. Essa autopercepção era um mito limitador que só começou a ser superado quando aceitei experimentar, errar, treinar e me conectar com diferentes pessoas e contextos. Aos poucos, percebi que a criatividade não era um estado de inspiração repentina, mas um processo contínuo, que pode ser cultivado diariamente. Hoje aplico esse olhar em todas as dimensões da minha vida: na educação, nos negócios, nas relações e até na forma como me conecto com minha família.
Por isso, minha provocação é simples: a criatividade não é privilégio de poucos, mas responsabilidade de todos. Hackeá-la é escolher viver de forma mais curiosa, aberta e conectada. Quanto mais treinamos nosso pensamento criativo, mais preparados estamos para transformar desafios em oportunidades e relações em resultados positivos.
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