Os processos massificados de digitalização do ambiente de negócios global naturalmente ensejam reflexões sobre o novo contexto do mercado de trabalho. Em uma análise recente do Fórum Econômico Mundial, por exemplo, o órgão apontou que cerca de 85 milhões de postos profissionais serão substituídos pela automação até 2025 – por outro lado, também segundo o FEM, a já chamada 4ª Revolução Industrial irá gerar 97 milhões de novos empregos dentro do mesmo período.
Nesse sentido, ao contrário das previsões mais alarmistas, o que temos diante de nós é um redesenho e uma dinâmica nascente nas relações de trabalho que implicam, concomitantemente, o surgimento de oportunidades e uma necessidade inadiável de adaptação dos profissionais, que devem ampliar seu leque de skills tecnológicos para o sucesso de suas carreiras em um futuro que já começa a mostrar as caras.
Esse debate invadiu o universo da comunicação e do marketing nos últimos meses com a crescente popularização do ChatGPT, ferramenta disruptiva de inteligência artificial capaz de produzir textos e análises com base no vasto big data informacional disponível na web e que já recebeu quase 700 milhões de visitas segundo o Portal da OpenAI, laboratório responsável pelo desenvolvimento da tecnologia que obteve, em 2019, US$ 1 bilhão em investimentos por parte da Microsoft.
Mas como traduzir, em termos práticos, esse fenômeno para a realidade dos profissionais de comunicação e para as estratégias de posicionamento das empresas?
Implicações e perspectivas
Com base nos debates que circundam o mercado de comunicação, temos, em um primeiro momento, um efeito bastante objetivo sobre as ações de marketing das corporações e sobre o próprio futuro da mídia: conteúdos mais simples, baseados nas técnicas padronizadas de marketing digital e sem um nível maior de profundidade ou cunho autoral podem, de fato, ser substituídos e consequentemente ganharem uma escala exponencial a partir do avanço progressivo de tecnologias como o ChatGPT.
Não por acaso, pesquisas como a de Nina Schick – consultora e uma das principais vozes do debate sobre a ascensão da inteligência artificial no mercado – indicam que, aproximadamente, 90% do conteúdo online poderá ser gerado por robôs ao longo dos próximos 3 anos.
Alguns pontos, no entanto, merecem maior análise – e ainda é cedo para afirmações conclusivas nesse sentido – e se relacionam com os seguintes fatos: as empresas ficaram satisfeitas com conteúdos que, em larga medida, serão padronizados sem qualquer carga de interpretação humana? Até que ponto irão evoluir as tecnologias de inteligência artificial e, ato contínuo, as regulações que protejam o acesso a dados e a distribuição de conteúdo na internet? Como os trabalhadores do futuro poderão se adaptar a esse novo cenário?
São questões que merecem uma reflexão profunda por parte do mercado, das agências e dos profissionais de mídia, comunicação e marketing. Afinal de contas, é a partir desse diálogo que o novo irá se construir.
Unindo dois mundos
Na minha visão, é fundamental, antes de tudo, que os profissionais se mantenham atualizados sobre as tendências da tecnologia e, mais do que lutar contra moinhos de vento, podemos extrair insumos para melhorar nossas jornadas de trabalho, produtividade e as ações de marketing e comunicação das empresas.
Em experiências com o ChatGPT, por exemplo, já observei o quanto a ferramenta pode ser útil para aprimorar pesquisas de referência que já desenvolvemos no ambiente digital e que se tornam mais sofisticadas tendo como base a inteligência artificial.
Do mesmo modo que falamos, em outros mercados, sobre IA como um suporte para a tomada de decisão de especialistas e executivos, profissionais que atuam no universo da comunicação podem, dentre outros pontos, utilizar a inteligência artificial e ferramentas de automação para entender melhor os públicos-alvo das organizações com as quais atuam, apurar dados e aprofundar o desenvolvimento de conteúdos com foco em personalização.
Mais do que nunca, a personalização como diferencial estratégico
Personalização, aliás, que será um fator mandatório nesse novo mercado. A criatividade, capacidade de análise e a perspectiva humana que trazem um caráter autoral para o trabalho de agências, repórteres e profissionais de marketing, é o que irá distinguir um conteúdo de qualidade em meio a um ambiente digital altamente padronizado.
Esses elementos, na minha visão, serão o trunfo para estratégias de posicionamento assertivas e que podem garantir a relevância do trabalho humano no futuro desenho do segmento de comunicação no qual, sem dúvidas, caminharemos juntos com robôs – e esse, como você já pode observar, não é um storytelling ou um roteiro de ficção científica.
*Juliana Garcia é CEO da IDEIACOMM. Comunicóloga, jornalista por formação e apaixonada pelo trabalho de mídia espontânea. Atua há mais de 15 anos como Public Relations, sendo que, deste período, 10 anos à frente da IDEIACOMM, agência de conteúdo, social media e assessoria de imprensa para empresas de Tecnologia, Startups, Tributaristas e área jurídica.
COMPARTILHAR ESSE POST