Na última semana, uma decisão do Carrefour e do grupo francês Les Mousquetaires movimentou o mercado varejista e agropecuário. Tudo começou na quarta-feira (20), quando Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, anunciou nas redes sociais que a rede deixaria de comercializar carnes provenientes dos países do Mercosul — Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A justificativa seria apoiar os agricultores franceses que se opõem ao acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e a União Europeia.
O anúncio veio em meio a protestos liderados pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA) e pelos Jovens Agricultores (JA), que tomaram as ruas da França para avançar contra a abertura de mercado. Apesar de as importações francesas de carne brasileira representarem um volume pequeno — menos de 40 toneladas entre janeiro e outubro, segundo o Farmnews — o temor no Brasil é de que a iniciativa influencia outros mercados a adotar medidas semelhantes.
A entrega ganhou força na sexta-feira (22), quando Thierry Cotillard, CEO do grupo Les Mousquetaires, dono das marcas Intermarché e Netto, declarou adesão à mesma política. Em uma postagem pública, a Cotillard reforçou o compromisso de “garantir a soberania alimentar” e pediu que a indústria se envolvesse na transparência sobre a origem dos produtos. O boicote também afetará marcas próprias, ampliando o impacto para além das prateleiras tradicionais.
No Brasil, as consequências foram rápidas: frigoríficos suspenderam o completo de carne para mais de cem lojas do Carrefour, Atacadão e Sam's Club. O Carrefour Brasil informou estar em “diálogo constante” para buscar soluções e retomar o abastecimento.
Impacto no Marketing e os negócios
O episódio coloca o Carrefour no centro de um dilema: equilibrar seu posicionamento em mercados locais com demandas globais. O Brasil é um mercado estratégico para a rede, mas as críticas podem afetar sua audiência entre consumidores e stakeholders.
A decisão reforça a influência crescente dos consumidores e das partes interessadas na formulação de políticas corporativas globais. O posicionamento ambiental, social e político das marcas ganha relevância, com grandes redes adaptando estratégias locais para atender às demandas de seus principais mercados.
Para o setor agropecuário brasileiro, o episódio destaca a importância de fortalecer a imagem de sustentabilidade, enquanto para o varejo, evidencia o peso das decisões estratégicas globais na operação local.
Brasil responde ao boicote
A decisão do Carrefour de suspender a comercialização de carne do Mercosul continua a repercutir, desta vez com as respostas dos concorrentes do governo brasileiro e dos setores agrícolas e industriais. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, acusou a França de usar a questão como um pretexto político para rejeitar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Em comunicado oficial, o ministério reforçou o compromisso do agronegócio nacional com práticas sustentáveis e a segurança alimentar global.
A realidade foi amplificada por uma nota conjunta de entidades agrícolas e industriais, que repudiaram publicamente a decisão da rede varejista. O documento também sugere um boicote ao Carrefour no Brasil, movimento que visa iniciar a empresa em seu maior mercado fora da França.
Parlamentares também entraram na discussão. O deputado federal Alceu Moreira apontou incoerências nas declarações do CEO Alexandre Bompard, destacando que 80% do abastecimento das importações brasileiras do Carrefour vem de fornecedores locais. Em tom crítico, Moreira afirmou que as declarações do executivo “ferem os princípios do diálogo e da cooperação internacional” e anunciou que a conduta da empresa será alvo de uma investigação por comissão externa.
A análise, segundo o parlamentar, incluirá denúncias recorrentes relacionadas às operações do Carrefour no Brasil, como investigações de denúncias raciais, ambientais e trabalhistas.
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