Em um cenário dominado por filtros, perfeição digital e imagens milimetricamente roteirizadas, a Geração Z está promovendo uma reviravolta estética. O que antes eram considerados erros, como fotos cruas, desfocadas, com luz estourada e aparência caseira, passam a ser símbolos de autenticidade. Neste contexto, câmeras digitais compactas dos anos 2000, como a icônica Sony Cybershot, voltaram a ocupar um lugar de destaque na cultura visual, ganhando um novo significado: liberdade criativa e expressão genuína.
As buscas por câmeras digitais cresceram até 563% em 2024, com a Geração Z liderando esse resgate, conforme apontam dados de uma pesquisa divulgada pela Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Nas redes sociais como TikTok, Instagram e Pinterest, a estética retrô digital vem se espalhando rapidamente, impulsionada por tutoriais de edição com aparência dos anos 2000 e ensaios inteiros feitos com câmeras antigas. Mais do que um simples revival nostálgico, essa tendência representa um novo código visual.
Esse movimento traduz valores centrais dessa geração: autenticidade, espontaneidade, vulnerabilidade e identidade própria. O visual “imperfeito”, antes desprezado por parecer amador, agora é buscado intencionalmente como forma de romper com a lógica da superprodução. A resposta do mercado já começou: plataformas especializadas em tecnologia criativa estão reformulando suas ofertas.

Um exemplo é a Octoshop, marketplace voltado a criadores de conteúdo, que registrou um salto de 1.456% nas vendas da linha Cybershot entre novembro de 2024 e maio de 2025 — um crescimento absoluto de R$ 89 mil Para Ricardo Steffen, Chief Growth Officer da Octoshop, a Geração Z está reinventando os códigos visuais da internet. “Não se trata apenas de estética: eles buscam narrativa, significado e uma conexão mais honesta com o conteúdo.
O protagonismo está na sensibilidade de quem fotografa. Para a fotógrafa e socióloga Tania Buchmann, coordenadora do Núcleo de Fotografia do Centro Europeu, o interesse pelas compactas como a Cybershot vai além da nostalgia. Ela destaca que os jovens que recorrem a essas câmeras estão buscando novas formas de sentir, criar e se expressar. Além da curiosidade de entender o passado, há também o desejo de se distanciar da lógica imediatista do smartphone.

Tania aponta esse afastamento do celular como uma das chaves do movimento. “Com o celular, tudo é rápido, automático. Se não gostar da foto, apaga e refaz. Com uma Cybershot, cada clique exige intenção. É preciso parar, pensar, compor. Isso muda a relação com a imagem. Esse comportamento está em sintonia com outras expressões culturais da juventude. Na moda e nas artes, completa a especialista, o resgate do passado é constante. Mas no caso da tecnologia, a volta da Cybershot é quase um ato de resistência.
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