Este mês, tive a oportunidade de participar de um evento de Marketing realizado por uma aceleradora de empresas em Blumenau (SC), com a missão de tornar a vida do empreendedor menos solitária. Entre os renomados palestrantes, contamos com a presença de Neil Patel, uma figura de destaque no mundo do empreendedorismo, amplamente reconhecido como o "Guru do Marketing Digital". Suas ponderações sobre o impacto da inteligência artificial (IA) no marketing provocaram uma reflexão entre os participantes.
O relatório divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no início deste ano, revelou que a inteligência artificial (IA) está destinada a afetar cerca de 40% dos empregos no mundo. Ainda de acordo com o levantamento, essa revolução tecnológica promete impulsionar a produtividade, estimular o crescimento econômico e aumentar os rendimentos dos trabalhadores em todo o mundo. Entretanto, como em qualquer mudança, especialmente aquelas que demandam adesão a padrões internacionais consolidados, a IA traz consigo potenciais riscos se não utilizada de forma adequada.
Você já considerou os três aspectos críticos a serem observados em relação à inteligência artificial na sua própria empresa? Essa foi a questão que coloquei a Patel durante a sessão de perguntas e respostas que, no meu ponto de vista, foi um dos momentos mais esclarecedores do evento. As preocupações abordadas por ele, como o uso para propósitos negativos e a tendência dos profissionais de Marketing à acomodação, suscitaram uma inquietação em mim: estaremos comprometendo nossa criatividade diante deste avanço tecnológico?
Acomodação vs. Inovação
A inteligência artificial está revolucionando o Marketing de formas nunca antes vistas. Dados recentes da McKinsey & Company sugerem que até 45% das tarefas de Marketing podem ser automatizadas com IA, liberando tempo para que os profissionais foquem em tarefas mais estratégicas, como a criação de campanhas criativas.
Diante deste cenário, Neil Patel alerta para um perigo em depender demais da tecnologia. Muitos profissionais estão colocando toda a sua confiança nesta ferramenta para gerar ideias criativas, deixando de lado a intuição humana. Um estudo da Forrester Research revelou que 55% dos profissionais de Marketing admitem confiar demais na IA, em vez de usar apenas como suporte ao processo criativo humano.
Patel ressalta a importância de encarar a IA como uma parceira, não como uma substituta da criatividade humana. Embora a tecnologia seja capaz de analisar vastos volumes de dados e identificar padrões, a verdadeira conexão emocional com os consumidores ainda requer sensibilidade e experiência humanas.
Empresas têm sido cases de sucesso ao demonstrar como integrar a inteligência para potencializar a criatividade, sem exceder esse propósito. Um exemplo recente que acompanhei é uma sorveteria em Juiz de Fora (MG), onde os colaboradores recorreram a um chatbot on-line em busca de sugestões de ingredientes para criar um sorvete tipicamente brasileiro. O resultado foi uma combinação inusitada, que inclui cacau brasileiro, castanha de caju caramelizada com rapadura e finalizada com geleia de pimenta-de-moça.
Embora a ideia seja intrigante e inovadora, a execução foi totalmente liderada pelos especialistas da sorveteria, que, com sua expertise, precisaram equilibrar esses ingredientes. Não se resumiu a seguir simplesmente a sugestão da IA e misturar tudo em um pote. Porém, saber vender a ideia e usar IA como gancho para divulgar a iniciativa mostra que até mesmo sorvete pode ser percebido como high tech.
“Camila, como posso usar a IA de maneira assertiva?”
Se esta pergunta surgiu em sua mente ao ler o artigo, você não está sozinho. A questão levantada por Neil Patel me fez refletir sobre medidas para evitar a estagnação e empregar a inteligência artificial de maneira benéfica. Diante da linha tênue entre o uso positivo e a excessiva dependência, busquei encontrar os passos ideais para os profissionais de Marketing incorporarem a IA em seu dia a dia com assertividade. Confira:
1. Automatizar tarefas repetitivas: deixe a IA cuidar das atividades operacionais, como análise de dados, segmentação de público e elaboração de relatórios de desempenho. Isso liberará tempo valioso para que você e sua equipe se concentrem em aspectos mais criativos;2. Testes A/B inteligentes: use a IA para conduzir experimentos e testes A/B de maneira rápida e eficiente. Assim, você pode identificar quais estratégias e conteúdos funcionam melhor, permitindo ajustes em tempo real e maximizando o impacto de suas campanhas;3. Apoio no processo criativo: a IA não deve substituir o potencial humano no processo criativo, mas pode ser uma boa aliada. Ela pode fornecer boas ideias, sugerir temas e identificar tendências. A partir dessas sugestões iniciais, você pode desenvolver e criar novas ideias, potencializando ainda mais a criatividade da sua equipe.
A lição que podemos extrair dessa reflexão é que a verdadeira inovação acontece quando humanos e máquinas trabalham juntos, cada um contribuindo com suas habilidades únicas. Porém, como reforçou Patel em um ponto que concordamos em uníssono: ainda é papel do profissional de Marketing encantar, gerir expectativas e criar experiências e conteúdos memoráveis que nossos públicos de interesse busquem consumir e compartilhar. Isso não pode, nem deve, ser delegado à IA.
*Camila Renaux é especialista em Marketing Estratégico, Marketing Digital e Inteligência Artificial
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