Nos anos 1980, a rivalidade entre Coca-Cola e PepsiCo ultrapassou supermercados, jingles e comerciais de TV para alcançar um território inusitado: o espaço sideral. Em plena corrida tecnológica dos Estados Unidos, as duas marcas viram no programa de ônibus espaciais da NASA uma vitrine de alcance global.
O projeto, batizado "Carbonated Beverage Dispenser/Container Evaluation", previa que parte da tripulação testasse a Coca-Cola, enquanto outro grupo experimentava a Pepsi. Além do caráter publicitário, o experimento tinha um objetivo científico: avaliar a viabilidade do consumo de refrigerantes em microgravidade.
Os bastidores da façanha
Levar a primeira bebida gaseificada para a órbita era mais do que uma façanha científica. Se bem-sucedida, a experiência traria prestígio cultural e publicitário diante de milhões de consumidores. A Coca-Cola foi a primeira a se movimentar: em 1985, desenvolveu um protótipo de embalagem pressurizada que permitia o consumo em microgravidade e conseguiu embarcar sua bebida no ônibus espacial Challenger.

O feito ganhou manchetes como o marco do “primeiro refrigerante no espaço”. A empresa criou uma lata pressurizada equipada com uma bexiga interna e uma válvula especial, capaz de liberar o líquido de forma controlada e reduzir a formação de bolhas, já que as características físicas da bebida eram alteradas em gravidade zero.
Pressionada pela rivalidade histórica, a PepsiCo apresentou rapidamente seu próprio projeto e também testou sua lata adaptada em órbita. A marca apostou em um sistema mais simples, inspirado em aerossóis, com um compartimento interno que liberava o refrigerante por meio de gás carbônico gerado em reação química.
Na prática, ambas as soluções revelaram limitações: a bebida era servida morna, já que não havia refrigeração dedicada a bordo, e a carbonatação em gravidade zero produzia excesso de espuma e bolhas que flutuavam pela cabine. O resultado foi descrito como pouco satisfatório, mas a embalagem da Coca-Cola considerada ligeiramente mais funcional que a da rival.

Desdobramentos, percepções e legado
A disputa foi acompanhada pela imprensa mundial, alimentando o imaginário popular sobre a chamada “guerra das colas”. Para a NASA, porém, a presença das marcas trouxe mais dor de cabeça do que benefícios, já que técnicos precisaram adaptar procedimentos para viabilizar um experimento de caráter essencialmente publicitário.
O “fracasso” científico não encerrou a ambição da Coca-Cola. Uma década depois, a marca voltou ao espaço em parceria com a Universidade do Colorado e a BioServe. Em 1995, no voo STS-63, apresentou um dispensador mais avançado, capaz de armazenar a bebida já carbonatada e resfriada em unidades especiais, servida em copos transparentes projetados com aletas internas para guiar o líquido por capilaridade.
No ano seguinte, na missão STS-77, evoluiu ainda mais com um sistema dotado de tela sensível ao toque que permitia misturar em órbita água, xarope e gás carbônico no momento do consumo, ampliando a sofisticação da engenharia de fluidos aplicada ao espaço.
Quarenta anos depois, astronautas e especialistas lembram o episódio com certa ironia. Loren Acton, que participou de uma das missões, descreveu a experiência como “divertida”, mas outros foram mais críticos, classificando a disputa como uma distração em meio a objetivos científicos maiores.
Apesar de nunca terem avançado além de testes experimentais, Coca-Cola e PepsiCo conseguiram o que buscavam: eternizar a rivalidade em mais um território simbólico. A órbita terrestre acabou marcada pela corrida efervescente das duas maiores fabricantes de refrigerante do mundo.
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