O Marketing atravessa um momento de grandes transformações, mas os profissionais da área convivem com um cenário de pressão constante, desequilíbrios estruturais e desafios que vão além da criatividade. O Career & Salary Survey 2025, realizado pela Marketing Week com mais de 3.500 profissionais, mostrou um retrato preocupante do mercado: aumento das demandas sem contrapartida em orçamento, altos índices de burnout, desigualdades persistentes e processos de recrutamento ineficazes.
Mais da metade dos entrevistados afirmou que suas responsabilidades cresceram ao longo do último ano, sem aumento proporcional de salário ou recursos. A equação “mais por menos” se tornou uma das queixas centrais, elevando a sensação de desequilíbrio e colocando em risco a sustentabilidade do trabalho criativo.
O levantamento mostra ainda que 50,8% dos profissionais de Marketing estão emocionalmente exaustos, 60% se sentem sobrecarregados e 56% relatam não serem valorizados. Entre as mulheres, esses índices são ainda maiores, refletindo uma sobrecarga de gênero. O esgotamento ameaça a produtividade e mina a inovação — elementos vitais para o setor.

Síndrome do impostor generalizada
Quase todos os profissionais já enfrentaram inseguranças sobre sua própria competência: 80,1% afirmaram ter vivido a síndrome do impostor em algum momento da carreira. A prevalência é maior entre mulheres (84,9%), mas também significativa entre homens (72,2%), revelando um ambiente em que a pressão externa e interna se retroalimentam.
Além disso, os processos de contratação também não escaparam das críticas: um em cada quatro profissionais classificou sua experiência recente como negativa. Relatos de ghosting (sumiço de recrutadores), entrevistas intermináveis e descrições vagas de vagas reforçam a percepção de que “o recrutamento está quebrado”, dificultando a atração e retenção de talentos.
Outro ponto crítico é sobre as disparidades salariais seguem como um dos pontos mais sensíveis. As mulheres ganham, em média, 17,8% menos que homens, mostrando que houve um aumento em relação a 2024. Já em relação a etnias, a diferença subiu de 8,5% para 13,3% em um ano. Já os profissionais de origens socioeconômicas menos privilegiadas recebem 15,3% a menos.

Lacunas críticas em competências
Além dos aspectos estruturais, a pesquisa mostrou que falta preparo em áreas fundamentais: 60,5% dos profissionais afirmaram que suas empresas não possuem habilidades sólidas em Marketing de eficácia. A carência em mensuração de resultados e geração de impacto de longo prazo se soma aos problemas já existentes, criando um risco adicional para a relevância do Marketing dentro das organizações.
Apesar disso, o estudo sugere que a reversão desse cenário passa por três eixos centrais. O primeiro de gestão equilibrada de cargas e recursos, com investimento em automação e apoio à saúde mental; o segundo, de reformulação dos processos de recrutamento, tornando-os claros, justos e humanizados; o terceiro, de compromisso real com a equidade salarial e capacitação em eficácia, fortalecendo a credibilidade da área e garantindo a valorização dos profissionais.
O diagnóstico que fica é que, sem ajustes estruturais, o Marketing corre o risco de perder não apenas talentos, mas sua capacidade de liderar transformações nos negócios. Para que a criatividade continue sendo motor estratégico, será preciso atacar os pontos de desgaste com urgência, sob pena de comprometer o futuro da profissão.
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